12/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

A verdade e a realidade sob a ótica de Dallagnol

O perigo de se acreditar ser dono da verdade absoluta

Publicado em 19/05/2023 11:39 - Rafael Paredes

Divulgação Foto: Antônio Leal / MPDFT

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Um político, que tenta escapar da inelegibilidade renunciando ao mando quando de um procedimento que pode cassá-lo, torna-se inelegível mesmo assim. É o que instituiu a Lei da Ficha Limpa a partir de 2012. Essa lei teve amplo apoio de procuradores da República que faziam parte da Operação Lava Jato e da sociedade.

Há um brilho diferente no olhar daqueles que creditam para si a posse da verdade absoluta. Atrás de oclinhos embasados e falas rápidas, meio chorosas, meio alarmistas havia este mesmo olhar. O ex-procurador da República, ex-chefe da operação Lava Jato e agora ex-deputado é um exemplo daqueles que só enxergam a própria verdade e assim navega na nau dos hipócritas.

Um dia, conversando com um procurador da república, ele me disse: “procurador da República só enriquece se for corrupto”. Deltan Dallagnol enriqueceu. Ele monetizou seu trabalho público e de Estado vendendo palestras. Não pode. Dallagnol também recebeu importantes somas de dinheiro em diárias para trabalhar de sua própria casa. Não pode. Seu trabalho era mais midiático que competente, tanto é que se descobriu ao longo da história o conluio com o juiz da operação, seu parceiro de dobradinha jurico-política, ex-ministro Sérgio Moro.

Deltan tinha um projeto pessoal de enriquecimento e um projeto político. O ex-deputado manteve um estranho e também ilegal relacionamento com autoridades policiais americanas e tentou montar uma fundação para administrar R$ 2 bilhões de valores recuperados pela Operação Lava Jato.  Uma espécie de Criança Esperança de Curitiba. Um Teleton Integralista.

Por essas e outras Deltan Dellagnol respondia a 15 procedimentos internos do Ministério Público, tendo sido condenado em outros dois. O ex-procurador então correu para se aposentar cinco meses antes do prazo limite para se candidatar. Ou seja, ele poderia ficar como procurador por mais tempo antes de colocar seu nome à disposição no pleito eleitoral. Por que ele se antecipou? Por que um político renuncia a seu mandato? É uma mesma resposta para as duas perguntas: para evitar punição. E qual a consequência para ambos? Inelegibilidade.

Mas Deltan é outro tipo de político cassado. Ele é o sujinho-limpinho. É o cassado neopentecostal. É o cassado ungido. Deltan, ao contrário de outros políticos cassados, acredita nas “verdades” que profere. Ele considera verdadeiramente que não errou. Que não errou ao enriquecer em uma carreira de Estado, que não errou em fazer conluio com um Juiz, que não errou em utilizar seu cargo para pretenções políticas, que não errou em tentar escapar da lei.

Acima da lei, só Deus. Aqueles que se confundem com Ele não são contemplados. Existem outras verdades além dos muros do moralismo e da hipocrisia. Verdades ainda mais verdadeiras mesmo que menos absolutas. Talvez por isso.

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Rafael Paredes


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