02/05/2024 - Edição 540

Brasil

10% mais ricos ganham 14,4 vezes a renda dos 40% mais pobres no Brasil

Renda dos 5% mais pobres sobe 38,5%, mas ainda é de apenas R$ 126 por mês: ainda assim, a renda bate recorde com emprego aquecido e Bolsa Família ampliado em 2023

Publicado em 19/04/2024 11:18 - Folha de SP – Edição Semana On

Divulgação Wilson Dias / Ag. Brasil

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Os 10% mais ricos da população brasileira receberam, em média, 14,4 vezes a renda dos 40% mais pobres em 2023, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Embora mostre a desigualdade entre os grupos, essa relação continuou no menor patamar da série histórica iniciada em 2012. A razão também era de 14,4 vezes em 2022. O valor máximo da série foi observado em 2018 (17,1 vezes), no pré-pandemia.

“Em 2023, manteve-se o menor valor da série histórica, que já tinha sido observado em 2022. Apesar dessa melhora, a desigualdade de renda no país continua muito acentuada”, afirmou Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE.

Os dados integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2023.

O levantamento vai além do mercado de trabalho e também traz informações de recursos obtidos pela população por meio de iniciativas como programas sociais, aposentadorias, pensões e aluguel.

Em 2023, a renda média domiciliar per capita (por pessoa) alcançou o recorde de R$ 7.580 por mês entre os 10% mais ricos. A alta foi de 12,4% ante 2022.

Enquanto isso, a renda per capita dos 40% mais pobres chegou a R$ 527 no ano passado, outra máxima da série histórica. O crescimento foi de 12,6% na comparação com o ano anterior.

Segundo o instituto, o ganho de renda verificado em 2023 ocorreu em meio a um cenário de ampliação do Bolsa Família, que substituiu o Auxílio Brasil, melhoria do mercado de trabalho e aumento real do salário mínimo.

Esses fatores, contudo, não foram capazes de eliminar as disparidades que aparecem desde o início da série histórica.

Em 2023, a massa de rendimento domiciliar per capita, que é a soma dos recursos obtidos pela população, bateu recorde no Brasil, segundo o IBGE.

O indicador chegou a R$ 398,3 bilhões, o que corresponde a um aumento de 12,2% ante 2022. Na comparação com 2019, período pré-pandemia, a expansão foi de 9,1%.

10% mais ricos têm 41% da massa de rendimento

Outra forma de medir a desigualdade, diz o IBGE, é por meio da fatia da massa de rendimento que cada segmento da população recebe.

Em 2023, os 10% com a menor renda ficaram com apenas 1,1% da massa. Já os 10% mais ricos receberam 41% do total.

Esse grupo de maior renda, aponta o IBGE, registrou uma parcela da massa quase equivalente à dos 80% da população com os menores rendimentos em 2023 –41% e 43,3%, respectivamente.

Renda dos 5% mais pobres sobe 38,5%, mas ainda é de apenas R$ 126 por mês

Sob impacto de fatores como a ampliação do Bolsa Família, a renda média domiciliar per capita (por pessoa) aumentou mais para as camadas mais pobres da população brasileira em 2023.

Entre os 5% mais pobres, o rendimento médio mensal per capita subiu de R$ 91 em 2022 para R$ 126 em 2023, o maior valor da série histórica iniciada em 2012. O crescimento foi de 38,5% na passagem dos dois últimos anos.

Enquanto isso, no outro extremo da distribuição, a renda média mensal por pessoa aumentou 13,2% para a camada 1% mais rica. O indicador avançou de cerca de R$ 18,3 mil em 2022 para quase R$ 20,7 mil em 2023. O recorde da série desse grupo foi verificado em 2019 (R$ 21,6 mil), no pré-pandemia.

O levantamento do IBGE vai além do mercado de trabalho e também traz informações de recursos obtidos pela população por meio de iniciativas como programas sociais, aposentadorias, pensões e aluguel.

Na média das diferentes classes da população, o rendimento mensal per capita subiu 11,5%, ao passar de R$ 1.658 em 2022 para R$ 1.848 em 2023. O valor mais recente é recorde na série histórica da pesquisa.

O IBGE também destacou as altas de 16,7% na renda da faixa acima dos 5% até os 10% mais pobres (R$ 294) e de 13,4% na camada acima dos 10% até os 20% mais pobres (R$ 450).

“A gente observa que o aumento ocorreu para todos as classes, mas com maior intensidade no limite inferior da população, até os 20%. Esses grupos cresceram acima da média [geral]”, disse Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE.

Conforme o pesquisador, uma combinação de fatores explica o quadro de 2023. Um deles é o avanço do Bolsa Família, que alcançou 19% dos domicílios do país no ano passado, segundo o instituto. O percentual de lares impactados pelo antigo Auxílio Brasil era menor, de 16,9%, em 2022.

“Para os grupos de menor renda, o Bolsa Família, de forma particular, certamente afetou. Foi um dos fatores que contribuíram”, apontou Fontes.

Outro impacto veio do desempenho aquecido do mercado de trabalho, indicou o analista do IBGE.

“Teve uma expansão de 4 milhões na população ocupada. Ou seja, pessoas que não recebiam rendimento do trabalho passaram a receber. Pode ter favorecido os grupos de menor rendimento per capita”, afirmou.

“Em menor medida, o reajuste do salário mínimo um pouco acima da inflação afeta não apenas o rendimento do trabalho e também o rendimento de aposentadorias, pensões e outros programas sociais, como o BPC/Loas”, acrescentou.

Desigualdade permanece em mínima histórica sob efeito do Bolsa Família, diz IBGE

A desigualdade da renda medida pelo índice de Gini permaneceu em 2023 no menor nível de uma série histórica iniciada em 2012 no Brasil, de acordo com dados divulgados pelo IBGE.

O indicador ficou em 0,518 no ano passado, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Assim, repetiu o patamar mínimo da série, que já havia sido registrado em 2022 (0,518), ainda no mandato do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

O Gini reflete a concentração de renda, variando de zero (igualdade máxima) a um (desigualdade máxima). Quanto menor o resultado, mais baixa é a disparidade entre os extremos da população.

A máxima da série ocorreu em 2018 (0,545), antes da pandemia. O índice é calculado a partir dos dados de rendimento médio domiciliar per capita (por pessoa).

Os números integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2023.

O levantamento vai além do mercado de trabalho e também traz informações de recursos obtidos pela população por meio de iniciativas como aposentadorias, pensões, benefícios sociais e aluguel.

Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE, afirma que a ampliação de programas como o Bolsa Família ajudou a segurar a desigualdade na mínima da série no ano passado.

Segundo ele, as transferências funcionaram como uma espécie de contrapeso à elevação mais intensa da renda do trabalho verificada entre os mais ricos.

Na passagem de 2022 para 2023, enquanto o rendimento médio do trabalho cresceu 10,4% entre os 10% do topo da distribuição, a alta foi menor, de 1,8%, entre os 10% mais pobres. A elevação na média geral foi de 7,2%.

De acordo com a pesquisa, o índice de Gini específico do trabalho subiu de 0,486 em 2022 para 0,494 em 2023.

“Teve um efeito que contrabalançou isso, dos rendimentos de programas sociais, particularmente o Bolsa Família. Foi um efeito contrário, beneficiando sobretudo os domicílios de menor renda”, afirma Fontes.

O Bolsa Família voltou a ser chamado dessa forma ao ser relançado em março de 2023 pelo governo Lula. Com a decisão, o programa abandonou o nome de Auxílio Brasil, uma das apostas da gestão Bolsonaro.

O IBGE destacou que o Bolsa Família manteve a quantia mínima de R$ 600 em 2023, com a inclusão de novos benefícios de acordo com a composição familiar, o que aumentou o valor médio dos repasses.

Ainda de acordo com o instituto, as transferências do programa chegaram a 19% dos domicílios do país no ano passado –quase um em cada cinco lares. É o maior percentual da série iniciada em 2012.

Nordeste atinge mínima, mas Gini local ainda é o maior do país

Na região Nordeste, o índice de Gini do rendimento domiciliar per capita recuou de 0,517 em 2022 para 0,509 em 2023. O patamar mais recente é o menor da série local.

Mesmo com a redução, a desigualdade registrada no Nordeste ainda é a maior do país. A região agora é seguida de perto pelo Sudeste, onde o Gini subiu de 0,505 para 0,508. O Sul teve novamente o menor índice –o indicador local recuou de 0,458 para 0,454.

“Entre 2022 e 2023, a desigualdade medida pelo Gini apresentou maiores variações nas regiões Norte (de 0,509 para 0,500) e Nordeste (de 0,517 para 0,509), ambas apresentando queda desse indicador”, diz o IBGE.

“Ressalta-se que essas duas regiões possuem as maiores proporções de domicílios beneficiados pelo programa Bolsa Família, e essa melhora na distribuição de renda pode ter sido favorecida pelo aumento do valor do benefício médio e pela ampliação da população abrangida pelo programa”, acrescenta o órgão.

Os avanços do Gini no Sudeste (de 0,505 para 0,508) e no Centro-Oeste (de 0,493 para 0,498) refletem, em parte, o aumento da desigualdade do rendimento do trabalho, segundo o IBGE.

A renda do trabalho é o componente de maior peso na determinação da massa de rendimentos domiciliares no país.

Renda bate recorde com emprego aquecido e Bolsa Família ampliado em 2023

A renda média domiciliar per capita (por pessoa) subiu a R$ 1.848 por mês no Brasil em 2023. É o maior patamar de uma série histórica iniciada em 2012, aponta o IBGE.

Em relação a 2022 (R$ 1.658), o rendimento teve alta de 11,5%. O recorde anterior da série havia sido alcançado em 2019 (R$ 1.744), antes da pandemia de Covid-19.

O levantamento vai além do mercado de trabalho e também traz informações de recursos obtidos pela população por meio de iniciativas como aposentadorias, pensões, programas sociais e aluguel.

O ano de 2023 marcou o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE, um dos fatores por trás do recorde da renda per capita foi o aquecimento do mercado de trabalho, com mais pessoas ocupadas e aumento de salários.

Outras fontes também contribuíram para o avanço do indicador, incluindo aluguel e programas sociais como o Bolsa Família, diz o pesquisador. “Além do crescimento do benefício médio desse programa, houve expansão do percentual de domicílios beneficiados.”

Conforme o IBGE, as transferências de renda do Bolsa Família, substituto do Auxílio Brasil, chegaram a 19% dos domicílios do país em 2023 –quase um em cada cinco lares. É o maior percentual da série histórica iniciada em 2012.

Fontes aponta que o ganho real do salário mínimo também pode explicar o comportamento da renda per capita. Nesse sentido, o pesquisador lembra que o salário mínimo influencia não apenas o rendimento do trabalho. Também impacta aposentadorias, pensões e benefícios como o BPC/Loas –pago a pessoas com deficiência e de baixa renda.

DF lidera ranking, Maranhão fica para trás

No ano passado, a renda média per capita avançou nas cinco grandes regiões do país. O Sudeste registrou o maior valor (R$ 2.237), e o Nordeste, o menor (R$ 1.146).

No recorte das unidades da federação, o Distrito Federal aparece no topo do ranking. O rendimento per capita local foi de R$ 3.215, seguido pelos resultados de São Paulo (R$ 2.414), Rio de Janeiro (R$ 2.305), Rio Grande do Sul (R$ 2.255) e Santa Catarina (R$ 2.224).

O Maranhão, por outro lado, registrou a menor renda per capita do país –a única abaixo de R$ 1.000. O valor local foi de R$ 969. Acre (R$ 1.074), Pernambuco (R$ 1.099), Alagoas (R$ 1.102) e Bahia (R$ 1.129) vêm na sequência.

Trabalho representa 74,2% do rendimento

No Brasil, o rendimento de todos os trabalhos respondeu por 74,2% da composição da renda média domiciliar per capita em 2023.

É a maior participação entre as fontes investigadas pela pesquisa, embora tenha ficado levemente abaixo da registrada em 2022 (74,5%).

Já as aposentadorias e pensões responderam por 17,5% da composição da renda per capita no ano passado, também abaixo de 2022 (18,1%).

Enquanto isso, a categoria de outros rendimentos, que inclui os programas sociais, ganhou participação. Esse grupo respondeu por 5,2% da composição da renda em 2023, acima dos 4,6% do ano anterior.


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