Viver Bem
Publicado em 20/10/2020 12:00 -
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Abacaxi, smoothies de vegetais ou café para perder peso. Chá verde, gengibre ou bagas de Goji para desintoxicar. Canela, cúrcuma ou semente de linhaça para controlar o diabetes.
A internet está cheia dessas teorias milagrosas. Na melhor das hipóteses, elas estão "erradas" e, na pior, escondem interesses comerciais.
Qual é a função da comida?
Os alimentos atuam como transportadores de nutrientes. O sistema digestivo é responsável por liberar esses nutrientes da matriz alimentar para que o intestino possa absorvê-los.
Uma vez em nossas células, os nutrientes participam de vários processos biológicos que permitem seu funcionamento adequado.
Para citar alguns deles, as vitaminas B, magnésio ou zinco auxiliam nas reações bioquímicas que ocorrem em nossas células.
As vitaminas C e E são antioxidantes, o que as protegem dos danos oxidativos. O ferro é essencial para a hemoglobina transportar oxigênio no sangue. E a lista é infinita.
Tome-se como exemplo a popular vitamina C.
Ela contribui para o funcionamento do sistema nervoso, do sistema imunológico e do metabolismo energético.
O que a vitamina C não faz, não importa o quão antioxidante seja, é prevenir o envelhecimento ou resfriados.
Relação direta entre comida e doença
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma alimentação não saudável é fator de risco fundamental para Doenças Não Transmissíveis (DCNT), responsável por 70% das mortes no mundo.
As quatro DNTs mais comuns são: doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias.
Em 2017, uma pesquisa concluiu que aumentar o consumo de vegetais, frutas, nozes e peixes reduz o risco de mortalidade.
Outra revisão em 2019 concluiu que o padrão alimentar da dieta mediterrânea pode ser recomendado para a prevenção do diabetes tipo 2 em longo prazo.
Aliás, a dieta mediterrânea também tem mostrado efeitos benéficos na prevenção de doenças cardiovasculares.
Mas não é só isso. A World Cancer Research Foundation (WCRF) assinalou em seu relatório de 2018 que há evidências significativas de que cereais integrais, alimentos que contêm fibras e produtos lácteos reduzem o risco de câncer colorretal.
De igual forma, relaciona a alta ingestão de verduras, legumes e frutas com menor risco de vários tipos de câncer que afetam o trato respiratório e a parte superior do sistema digestivo.
Em relação ao peso corporal, o WCRF diz que "comer alimentos com fibra dietética provavelmente protege contra o ganho de peso, o sobrepeso e a obesidade".
Depois de revisar as evidências, a entidade chegou à mesma conclusão sobre os padrões dietéticos do "tipo mediterrâneo".
Contudo, é muito tentador transformar os quatro parágrafos anteriores em afirmações como "a fruta prolonga a vida", "a fibra previne o câncer" ou "a dieta mediterrânea previne o diabetes".
Mas devemos estar cientes de que, se o fizermos, estaríamos dando a eles um olhar categórico que os estudos não embasam e que, portanto, estariam errados.
Generalizar é um erro
Além das evidências já citadas, existem muitos trabalhos publicados sobre os efeitos de alimentos, extratos ou princípios ativos presentes nos alimentos.
Para demonstrar os efeitos benéficos, não basta um único trabalho de pesquisa, mas são necessários vários cujos resultados apontem na mesma direção.
A disponibilização gratuita dessas obras na internet pode causar confusão entre a população que as consulta.
Porque para interpretar adequadamente os resultados obtidos nesses estudos, é necessário um certo embasamento de pesquisa.
Por exemplo, pesquisar os efeitos do gengibre na saúde em um banco de dados especializado (Pubmed) resulta em mais de 800 artigos, dos quais mais de 200 são revisões.
As conclusões de um deles, de 2019, nos dizem que mais estudos são necessários para determinar os benefícios do gengibre nas náuseas e vômitos, na síndrome metabólica e na dor.
Para avaliar outros benefícios do gengibre, você deve ler o restante dos artigos e análises. Duvido que todo mundo que fala online sobre as maravilhas desse alimento para a saúde o tenha feito.
Na verdade, pode ser que não tenha lido nenhum.
Portanto, é essencial interpretar adequadamente os resultados da pesquisa para evitar generalizações incorretas.
Além disso, deve-se ter um cuidado especial com a linguagem, porque muitas vezes podem ser sugeridos ou implicados efeitos benéficos não embasados por evidências.
Onde os não especialistas devem procurar informações
Se quisermos saber mais sobre o uso terapêutico de alimentos, extratos ou princípios ativos, a Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos de Saúde se encarrega oficialmente de autorizá-los para esse fim.
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) avalia os efeitos benéficos não terapêuticos dos alimentos e a Comissão Europeia publica-os no registro de declarações de propriedades saudáveis.
A nível informativo, as páginas institucionais da OMS, EFSA, Ministério da Saúde, Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (AESAN) são fontes de informação confiáveis.
O mesmo acontece com as universidades ou sociedades científicas livres de interesse.
A título de conclusão, recomenda-se ignorar qualquer informação que indique, sugira ou dê a entender que qualquer alimento tenha efeitos magníficos na saúde.
O que está comprovado é que um padrão alimentar saudável é um fator importante na redução do risco de doenças. Embora aplicá-lo no dia a dia requeira muito esforço, os resultados valem a pena.
*Ana Belén Ropero é professora de nutrição e bromatologia e diretora do projeto BADALI, um site de Nutrição, da Universidade Miguel Hernández, na Espanha.
A versão original deste artigo foi publicada aqui
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