19/05/2024 - Edição 540

Saúde

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Desde 2000, o Aedes aegypti foi responsável por cerca de 20 milhões de diagnósticos de dengue, chikungunya e Zika vírus

Publicado em 24/11/2023 2:41 - Pedro Peduzzi (Agência Brasil), Alana Gandra (DW) - Edição Semana On

Divulgação Tânia Rêgo - Abr

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Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo programa sem fins lucrativos World Mosquito, que foi divulgado no final de outubro.

Pesquisadores do World Mosquito buscam diminuir a disseminação de doenças potencialmente mortais transmitidas por mosquitos, como dengue, zika e febre amarela, espalhando milhões deste tipo de inseto infectados por Wolbachia em regiões onde essas doenças são comuns.

A bactéria Wolbachia diminui significativamente a capacidade dos mosquitos Aedes aegypti – um dos maiores transmissores de doenças vetoriais em todo o mundo – de transmitirem doenças. A fêmea infectada transmite a bactéria aos filhotes, perpetuando a Wolbachia nas próximas gerações. O cruzamento natural garante a perpetuação dos mosquitos com a bactéria e não exige novas liberações depois que a população de mosquitos com a Wolbachia se estabelece.

Após uma fase inicial de testes na cidade colombiana de Bello, em 2015, os pesquisadores ampliaram a liberação destes mosquitos infectados para Medellín e Itagui. Apesar de pesquisas semelhantes ocorrerem em outras partes do mundo, esta é a maior já realizada pelo programa.

Em abril de 2022, os cientistas concluíram que cerca de 80% de todos os mosquitos em Bello e Itagui e 60% em Medellín haviam sido contaminados pela bactéria através da reprodução cruzada. Para verificar o impacto desta mudança na transmissão da dengue, foram avaliados o número de casos reportados durante a liberação dos mosquitos infectados até julho de 2022.

Eficácia real

Os pesquisadores concluíram que a introdução dos mosquitos infectados nas populações locais de mosquitos esteve “associada a uma redução significativa” dos casos de dengue em até 97% em cada cidade, em comparação com os dados registrados dez anos antes do início do experimento.

Também foi realizado um estudo de controle de casos em Medellín, onde foi encontrada uma associação causal entre a chegada dos mosquitos infectados e a redução dos casos de dengue. Segundo os pesquisadores, os resultados demonstraram uma diminuição de 47% na incidência de dengue nos bairros onde esses mosquitos foram liberados.

Eles afirmam que essa foi a maior liberação contínua desses insetos. Os resultados positivos “destacam a viabilidade operacional e a eficácia no mundo real da liberação em grandes contextos urbanos e a reprodutibilidade dos benefícios para a saúde pública em contextos ecológicos diferentes”.

Apesar de o estudo realizado na Colômbia ser o mais amplo já concluído, os pesquisadores do programa World Mosquito realizam experimentos semelhantes em outros países. Um estudo em Yogyakarta, na Indonésia, mostrou uma redução de 77% nos casos de dengue após a aplicação deste método. No Brasil, até o momento, foi registrada uma diminuição de 38%.

“Uma vez introduzidos nas populações locais, os mosquitos com Wolbachia permanecem por lá. Não é necessário liberar mais mosquitos”, explicou à DW o biólogo Rafael Maciel de Freitas, da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto de Medicina Tropical Bernhard Nocht.

Freitas, porém, alertou para a preocupação de que esse método possa não funcionar para sempre, dada a grande possibilidade de o patógeno da dengue encontrar um meio de se adaptar e contornar a bactéria Wolbachia. “O vírus provavelmente encontrará um caminho para superar esse efeito”, observou.

“Eu não diria que a Wolbachia é a solução para a dengue, mas acho que temos uma resposta melhor para a doença através desse caminho”, disse Freitas.

Ressalvas

Tudo isso soa como uma boa notícia, e pode até ser. Há, porém, algumas ressalvas, como o alto custo de implementação dos métodos do programa World Mosquito.

Além disso, ainda não está claro se a diminuição dos casos de dengue observada na Colômbia e em outros lugares pode ser atribuída somente a esse método. A doença ocorre em ondas, ou seja, cidades com muitos e frequentes casos no passado podem passar anos sem novos surtos.

Há também algumas regiões onde os mosquitos infectados pela Wolbachia parecem não reduzir os casos de dengue ou houve uma diminuição moderada em comparação com outros locais. Os cientistas ainda não sabem quais fatores deixam algumas regiões mais resistentes a esse método.

O programa World Mosquito quer ampliar suas operações na próxima década, já tendo anunciado os planos de construção de uma fábrica no Brasil para produzir 5 bilhões de mosquitos infectados com Wolbachia por ano.

Ações

Desde 2000, o mosquito Aedes aegypti é responsável por cerca de 20 milhões de diagnósticos de três doenças muito presentes no Brasil: a dengue, a chikungunya e o Zika vírus. Esse poderoso vetor de doenças – o Aedes aegypti – pode ser combatido. Mas, precisa da conscientização e da colaboração de todos.

Segundo o Ministério da Saúde, as ações adotadas em parcerias com secretarias estaduais e municipais de Saúde resultaram na “expressiva queda” de 97% do número de casos notificados de dengue no Brasil, entre abril e setembro.

“Na 15ª semana do ano, de 9 a 15 de abril, foram registrados 114.255 casos suspeitos da doença. Na 35ª semana, de 27 de agosto e 2 de setembro, houve 3.254 casos de dengue”, informou o ministério. Acrescentou que é no período de março a junho que se costuma registrar maior incidência de arboviroses no país.

Em 2023, o total de “casos prováveis” da doença registrados até final de agosto estava em pouco mais de 1,5 milhão – número ligeiramente maior do que o anotado durante todo o ano de 2022, quando houve quase 1,4 milhão de registros. Em 2021, foram pouco menos de 532 mil ocorrências.

O clima quente colabora para a reprodução do mosquito e para um maior número de pessoas contaminadas no país

A fim de evitar uma situação ainda pior, o governo tem adotado iniciativas como a mobilização do Centro de Operações de Emergências de Arboviroses (COE) que, além de ter implementado 11 ações de apoio aos estados com maior número de casos e óbitos por dengue e chikungunya, distribuiu até hoje cerca de 345 mil reações de sorologia e viabilizou 131 mil exames.

Ainda segundo o ministério, foram investidos R$ 84 milhões na compra de adulticida e larvicida para as ações de combate ao mosquito no país.

Um processo de estratificação de risco intramunicipal foi iniciado em áreas consideradas prioritárias para a implementação de novas tecnologias, como borrifação residual intradomiciliar, armadilhas disseminadoras de larvicidas e a adoção do método Wolbachia, que consiste na liberação de mosquitos contendo uma bactéria que impede o desenvolvimento das doenças nos próprios insetos.

Outras medidas destacadas pelo governo foram o lançamento do painel público de dados de arboviroses; a antecipação da campanha nacional de mobilização da população; a capacitação de mais de 9,5 mil profissionais de saúde via Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (Una-SUS) e de 2.196 profissionais de saúde para manejo clínico, vigilância e controle de arboviroses com treinamento presencial.

O Ministério da Saúde argumenta que essas medidas podem ser insuficientes sem que haja estímulo à participação comunitária para eliminação de focos dos mosquitos. “Atualmente, o combate ao vetor Aedes aegypti é o principal método para a prevenção e controle das arboviroses”, informou.

Sintomas

Os sintomas de dengue, chikungunya ou zika são semelhantes: febre de início abrupto, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele e manchas vermelhas pelo corpo, além de náuseas, vômitos e dores abdominais.

A orientação é a de, apresentando esses sintomas, procurar a unidade ou serviço de saúde mais perto da residência assim que surgirem os primeiros sintomas.

Algumas medidas preventivas ajudam no combate à doença: evitar água parada, esvaziar garrafas, não estocar pneus em áreas descobertas, não acumular água em lajes ou calhas, colocar areia nos vasos de planta e cobrir bem tonéis e caixas d’água são algumas iniciativas básicas para evitar a proliferação do mosquito.

Todo local de água parada deve ser eliminado, pois é lá que o mosquito transmissor coloca os ovos.

Veja aqui algumas orientações do Ministério da Saúde.

Como eliminar principais tipos de criadouro do mosquito

– Certificar que caixa d’água e outros reservatórios de água estejam devidamente tampados;

– Retirar folhas ou outro tipo de sujeira que pode gerar acúmulo de água nas calhas;

– Guardar pneus em locais cobertos;

– Guardar garrafas com a boca virada para baixo;

– Realizar limpeza periódica em ralos, canaletas e outros tipos de escoamentos de água;

– Limpar e retirar acúmulo de água de bandejas de ar-condicionado e de geladeiras;

– Lavar as bordas dos recipientes que acumulam água com sabão e escova/bucha;

– Jogar as larvas na terra ou no chão seco;

– Para grandes depósitos de água e outros reservatórios de água para consumo humano é necessária a presença de agente de saúde para aplicação do larvicida;

– Utilizar areia nos pratos de vasos de plantas ou realizar limpeza semanal;

– Retirar água e fazer limpeza periódica em plantas e árvores que podem acumular água, como bambu e bromélias;

– Guardar baldes com a boca virada para baixo;

– Esticar lonas usadas para cobrir objetos, como pneus e entulhos;

– Manter limpas as piscinas;

– Guardar ou jogar no lixo os objetos que podem acumular água: tampas de garrafa, folhas secas, brinquedos;

– Em recipientes com larvas onde não é possível eliminar ou dar a destinação adequada, colocar produtos de limpeza (sabão em pó, detergente, desinfetante e cloro de piscina) e inspecionar semanalmente o recipiente, desde que a água não seja destinada a consumo humano ou animal. É importante solicitar a presença de agente de saúde para realizar o tratamento com larvicida.

Como efetuar a limpeza

Tampar e lavar reservatórios de água são ações importantes para o combate ao Aedes aegypti. A limpeza deve ser periódica com água, bucha e sabão. Ao acabar a água do reservatório, é necessário fazer uma nova lavagem nos recipientes e guardá-los de cabeça para baixo. Esse cuidado é essencial porque os ovos do mosquito podem viver mais de um ano no ambiente seco.


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