13/10/2024 - Edição 550

Saúde

Como funciona a técnica que permitiu a segunda cura do vírus HIV na história

Publicado em 26/03/2019 12:00 -

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Desde que a Aids foi descoberta, nos anos 1980, estima-se que ela tenha tirado a vida de 35 milhões de pessoas no mundo todo. Hoje, a infecção por HIV é relativamente fácil de controlar com a ajuda de medicamentos, mas a cura, porém, é raríssima: até então, só uma pessoa teria conseguido driblar o vírus em definitivo.

O caso em questão ficou conhecido como o do “paciente de Berlim”, e diz respeito a Timothy Ray Brown, americano que vivia na capital alemã. Ele se viu livre do HIV após passar por um transplante de células-tronco em 2007 e, desde então, não voltou a ter carga viral detectável.

Agora, quase doze anos depois, a lista pode estar ganhando outro nome. De acordo com pesquisadores da University College London, um homem britânico deixou de sofrer com o HIV graças à repetição da mesma técnica utilizada uma década antes, no tratamento de Brown. O caso do “paciente de Londres”, como ele tem sido chamado, foi descrito em um estudo científico publicado na revista Nature.

Os dois casos de sucesso têm algumas semelhanças importantes entre si. Os pacientes “curados” tratavam, além do HIV, também de um câncer no sangue – enquanto o mais recente sofria do chamado Linfoma de Hodgkin, Timothy Brown apresentava leucemia mieloide aguda. Essas doenças, que são raras, não apresentavam melhora mesmo com a quimioterapia.

Como tratamento, ambos receberam transplantes não-convencionais de medula óssea. Nesse procedimento, os glóbulos brancos do sangue são destruídos com remédios ou radioterapia. E, depois, substituídos por outros, que foram doados por uma pessoa saudável. Aí, porém, aparece o pulo do gato que permitiu a cura: as células-tronco recebidas, nos dois casos, vieram de um doador com uma condição genética rara que o tornava resistente ao vírus HIV.

Ao invés de selecionarem um doador qualquer para o transplante, os cientistas escolheram pessoas com uma mutação genética rara chamada “delta 32”. Essa mutação está relacionada à produção de uma proteína específica no gene CCR5. Sem a presença dessa proteína, o vírus HIV tem dificuldade de atacar os glóbulos brancos e se reproduzir dentro deles – impedindo, dessa forma, o avanço da Aids.

Segundo os pesquisadores, dois transplantes de medula óssea feitos em 2016 foram suficientes para fazer o HIV desaparecer por completo do sangue do “paciente de Londres” – além de eliminar seu câncer, é claro. Após 16 meses, o homem parou de tomar a medicação antirretroviral. Mesmo 18 meses depois do procedimento, o vírus HIV segue sem dar as caras.

Ainda que o tempo sem HIV seja significativo, o grupo responsável pela descoberta ainda é reticente em cravar que houve a cura definitiva. Em vez disso, o termo mais utilizado é que houve a “remissão” da doença. Afinal, o que foi descoberto é o mecanismo que impede a reprodução do HIV, não um método que o extingue por completo do organismo. O vírus, portanto, está sob controle no corpo do paciente, mas pode ser que não permaneça dessa forma para sempre.

A expectativa dos cientistas é que a técnica possa, no futuro, se estabelecer como método definitivo contra o HIV. O problema é que, além de serem procedimentos arriscados, complexos e custosos financeiramente falando, os transplantes de medula óssea ainda precisam passar por mais testes do gênero. Afinal, ainda que a técnica seja conhecida há mais de uma década, a maioria das outras tentativas de repetir a cura falharam.

“Esses novos achados reafirmam nossa crença de que existe uma prova de que o HIV é curável”, disse Anton Pozniak, presidente da Sociedade Internacional de Aids, em entrevista ao jornal The Guardian. “A esperança é que essa se torne uma estratégia segura, econômica e simples”. Estima-se que cerca de 37 milhões de pessoas vivam atualmente com o HIV no mundo todo. O total de infectados desde a década de 1980 é de 70 milhões.


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