18/05/2024 - Edição 540

Poder

Tic, tac… Depoimento de Freire Gomes foi melhor que delação, diz ministro do STF

"Deu consistência a provas que já eram sólidas” contra Bolsonaro, afirmou o magistrado

Publicado em 05/03/2024 10:19 - Josias de Souza (UOL), Ricardo Noblat (Metrópoles), ICL Notícias - Edição Semana On

Divulgação

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Dissemina-se no Supremo Tribunal Federal a percepção segundo a qual o depoimento do general Freire Gomes à Polícia Federal, na sexta-feira passada, leva água para o moinho da condenação de Bolsonaro e do alto-comando da tentativa de golpe de Estado.

Nas palavras de um ministro da Corte, o interrogatório do general, que comandou o Exército entre março e dezembro de 2022, “é melhor e mais valioso do que uma delação, porque contém revelações de uma testemunha, não de um criminoso à procura de benefício judicial.”

De acordo com o ministro, que acompanha o caso de perto, o resultado do depoimento de Freire Gomes “consolidou o quadro probatório.” Deu “consistência” a provas que já eram “sólidas”.

Ao comentar o depoimento do general, cuja íntegra permanece em sigilo, o ministro do Supremo evocou, com ironia, o versículo bíblico predileto de Bolsonaro. “Como diz o Evangelho de João, ‘conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. A diferença é que, num inquérito policial, a verdade às vezes produz resultado diferente da liberdade.”

No miolo do seu depoimento, Freire Gomes confirmou ter participado de reunião em que Bolsonaro expôs minuta golpista aos chefes militares. Nesse ponto, confirmou o que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid já havia delatado.

Morte e ressurreição de Alexandre de Moraes

Considere que o líder da conspiração para impedir a posse de Lula, de pouca experiência militar, uma vez que sua carreira foi interrompida por má conduta, não é exemplo de uma inteligência notável, haja visto a original ideia de gravar a reunião ministerial de planejamento do golpe, mas não só.

Considere que militares e civis que cercaram o líder – à exceção de Paulo Guedes, ministro da Economia, que se não apoiou o golpe, também não se opôs, calando-se – nunca se destacaram pelo brilhantismo em suas respectivas áreas de atuação; foi a pior equipe de governo jamais montada.

Considere, por fim, que as maiores potências do mundo avisaram que seriam contra qualquer tentativa de abolição da democracia no Brasil e que sanções seriam aplicadas caso isso acontecesse; diga-me: como poderia ter dado certo o golpe (ou golpes) dos sonhos de Bolsonaro?

Porque o Cavalão, apelido dele à época em que serviu ao Exército, sonhava em dar um golpe há décadas e começou a criar as condições para fazê-lo tão logo assumiu o cargo. Os generais sabiam, mas fingiam que não. Por duas vezes antes das eleições de 2022, o golpe esteve na mesa.

Passada a eleição, voltou à mesa no início de novembro, ali se manteve até o fim de dezembro, e segundo o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, por pouco não foi dado. Faltou apoio militar. E a parte dos militares, faltou empenho para abortar o golpe de 8 de janeiro.

Quando imaginamos saber quase tudo sobre a trama golpista investigada pela Polícia Federal, vazam novos detalhes ou surgem fatos novos que deveriam nos obrigar a baixar a crista. Pesquisa, qualquer uma e sobre qualquer assunto, é um retrato do momento – assim como nossos relatos.

No início deste ano, o ministro Alexandre de Moraes contou uma história que soou inverídica aos ouvidos dos seus críticos e, por isso, foi alvo de intensa pancadaria. Moraes disse que existiram três planos para puni-lo se o 8 de Janeiro fosse um sucesso: “O primeiro previa que as Forças Especiais do Exército me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. No terceiro, eu seria preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”.

Sabe-se agora que o segundo plano era o mais plausível: a prisão do ministro por soldados do Comando de Operações Especiais, unidade do Exército sediada em Goiânia; sua execução e a desova do corpo a meio do caminho de Goiânia, em local onde não seria encontrado.

Àquela altura, o tenente-coronel Mauro Cid estaria no comando das tropas de Operações Especiais. A versão oficial a ser oferecida ao distinto público era a de que Moraes fugira para o exterior. Acreditasse quem quisesse. O Brasil já seria uma ditadura, e ditadura dispensa explicações.

Tempos depois, por artes da Inteligência Artificial, aparecia uma foto de Moraes em Paris, saindo furtivamente de um lugar público, talvez um restaurante. Parece inacreditável? O golpe para anular o resultado das eleições de 2022 e o do 8 de Janeiro também pareciam.

Como difícil de acreditar é a desculpa dada pelo ex-comandante do Exército general Freire Gomes para o fato de não ter denunciado Bolsonaro à Justiça ao ser convidado a participar do golpe. A mãe do general estava doente; ele temia ser sucedido no comando do Exército por um golpista.

Então achou melhor ficar quieto e atuar junto aos colegas para que não aderissem ao golpe – nem ao de dezembro, nem ao de janeiro, batizado de “A Festa da Selma”. Freire Gomes não esvaziou o acampamento dos golpistas nas vizinhanças do QG do Exército porque Bolsonaro não deixou, é o que ele afirma.

Por que antes assinou uma nota em defesa do direito dos golpistas de se manifestarem? Ora, porque o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, mandou. A Polícia Federal deve saber por que Freire Gomes assinou a nota e ficou só olhando no que tudo iria dar.

Apuração de lavagem de dinheiro de Carlos Bolsonaro entra na fase final

O MP–RJ (Ministério Público do Rio) está na fase final da investigação que apura peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos–RJ). A coluna apurou que a 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada, que conduz o caso, considera que já possui todos os elementos para concluir a apuração após a entrega, no início de fevereiro, de uma análise sobre os dados das quebras de sigilo bancárias de Carlos e mais 26 investigados.

No ano passado, essa colunista revelou que, entre os dados apontados pelo primeiro laudo do MP, estava o fato de Carlos e a segunda mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, terem recebido em suas contas bancárias um total de R$ 476,8 mil em depósitos em dinheiro sem origem identificada desde 2005. A informação constava de um laudo produzido pelo Laboratório de Tecnologia de Combate à Lavagem de Dinheiro e à Corrupção do MP do Rio (Ministério Público do RJ). A promotoria pediu mais análises aos técnicos e a documentação foi finalizada recentemente.

A ex-mulher de Bolsonaro, que foi chefe de gabinete de Carlos, recebeu um total de R$ 385,8 mil em 177 depósitos entre 2005 e 2021. Ela foi chefe de gabinete de Carlos entre 2001 e 2008. Também foram identificados R$ 34,2 mil em três depósitos diferentes de Jair Bolsonaro para ela entre 2012 e 2014.

Já Carlos Bolsonaro obteve R$ 91.088 em sete depósitos entre 2008 e 2015. As quebras de sigilo bancário foram obtidas com autorização judicial em maio de 2021. O MP considera suspeitos depósitos sem origem e fracionados em dinheiro vivo.

A investigação iniciou após uma reportagem desta colunista e da jornalista Juliana Castro, na revista Época, em junho de 2019, revelar que sete parentes de Ana Cristina Valle, segunda mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro e madrasta do vereador, foram empregados no gabinete de Carlos, mas não compareciam ao trabalho. Eram, portanto, funcionários fantasmas.

O juiz Marcello Rubioli, da 1ª Vara Criminal Especializada do TJ–RJ (Tribunal de Justiça do Rio), autorizou a quebra de sigilo em maio de 2021. O magistrado avaliou os dados apresentados pelo MP–RJ e escreveu, ao longo de 79 páginas, que verificou “indícios rotundos de atividade criminosa em regime organizado” e que “Carlos Nantes [Bolsonaro] é citado diretamente como o chefe da organização”.]

Jair Renan se filia ao PL para concorrer a vereador em Balneário Camboriú

Jair Renan Bolsonaro, filho 04 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decidiu se filiar ao Partido Liberal de Santa Catarina neste mês. A filiação acontecerá em um evento com a participação do pai.

O plano de Jair Renan é concorrer ao cargo de vereador na cidade de Balneário Camboriú (SC) nas eleições municipais de outubro deste ano. A informação é do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

Jair Renan era o último dos filhos homens de Bolsonaro fora da carreira política. Os outros são o senador Flávio Bolsonaro (PL–RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL–SP) e o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro.

O vereador Carlos Bolsonaro também se filiará ao Partido Liberal (PL) neste mês, em um evento no Rio de Janeiro. Carlos tentará se reeleger pela sexta vez para a Câmara dos Vereadores da capital fluminense.

No mês passado, a Polícia Civil do Distrito Federal indiciou Jair Renan Bolsonaro e Maciel Alves de Carvalho pelos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e lavagem de dinheiro. Com o indiciamento, caberá ao Ministério Público decidir se oferece ou não denúncia à Justiça.

Segundo a investigação, Jair Renan e Maciel Alves teriam falsificado quatro relações de faturamento da RB Eventos e Mídia. Entre 2021 e 2022, a empresa, que pertencia ao filho do ex-presidente, afirmou ter faturado R$ 4,6 milhões.

O objetivo da dupla com a apresentação de faturamentos falsos era garantir lastro para a obtenção de um empréstimo bancário, originalmente de R$ 157 mil. O valor, no entanto, foi aumentado por meio de dois novos pedidos, sendo que o último não foi quitado.


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