18/05/2024 - Edição 540

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Tacla Duran denuncia Moro e Dallagnol por extorsão e entra no programa de proteção à testemunha

Advogado apresentou áudios e imagens que comprovariam esquema de extorsão montado pela Lava Jato. Porque agora a dupla tem foro privilegiado, depoimento foi encerrado e caso deverá ir para o STF

Publicado em 28/03/2023 9:02 - RBA, Rudolfo Lago (Congresso em Foco) – Edição Semana On

Divulgação Reprodução

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O advogado Rodrigo Tacla Duran afirmou na segunda-feira (27) que foi vítima de “extorsão” e “perseguição” por integrantes da Lava Jato, entre eles o ex-juiz, ex-ministro e agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR), além do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR). A declaração foi dada ao juiz Eduardo Fernando Appio, da 13ª Vara Federal de Curitiba, durante depoimento. Ele afirmou que é “perseguido” até hoje pelo deputado e por procuradores. E apresentou provas do esquema de extorsão praticado por um grupo de advogados ligados a Moro e Dallagnol.

Com isso, o juiz encerrou o depoimento de Tacla Duran. Isso porque, na condição de parlamentares eleitos, a dupla passou a ter o chamado “foro privilegiado”. Neste sentido, só podem ser processados no Supremo Tribunal Federal (STF).

Desse modo, Appio indicou que o advogado deve prestar novo depoimento, dessa vez à Polícia Federal (PF), sobre o esquema de extorsão. Além disso, ele também solicitou a inclusão de Duran em programa de proteção a testemunhas do governo federal.

“Diante da notícia-crime de extorsão, em tese, pelo interrogado, envolvendo parlamentares com prerrogativa de foro, ou seja, deputado Deltan Dalagnol e o senador Sergio Moro, bem como as pessoas do advogado (Carlos) Zucolotto e do dito cabo eleitoral (de Sergio Moro) Fabio Aguayo, encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, juiz natural do feito, porque prevento, já tendo despachado nos presentes autos”, diz o despacho de Appio.

“Arrego”, vinganças e ameaças

“O que estava acontecendo não era um processo normal. Era um bullying processual, onde (sic) me fizeram ser processado pelo mesmo fato em cinco países. Por uma simples questão de vingança, por eu não ter aceitado ser extorquido”, disse Tacla Duran no depoimento.

Duran apresentou áudios e fotos que mostram os também advogados Zucolotto e Fábio Aguayo oferecendo “serviços” – pagamento em troca de benefícios em delações – a um advogado da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (FHORESP). Ele apontou Aguayo como “cabo eleitoral” de Moro. A investida contra a entidade se deu no âmbito de um dos processos da Lava-Jato à época.

O Ministério Público Federal (MPF-PR), cuja força-tarefa na operação era comandada por Deltan Dallagnol, impôs ao caso sigilo nível quatro, um dos mais restritivos, sobre as provas apresentadas.

“Todo mundo sabe, no mundo jurídico, inclusive quando eu contratava escritórios para a Odebrecht, que isso (extorsão) é uma prática ‘comercial‘ (e frequente)”, afirmou o advogado, sobre o esquema. “E porque eu não aceitei ser extorquido e – para falar no linguajar de cadeia que ele (Moro) gosta –, (não ter) ‘arregado’, eu fui perseguido e sou até hoje”, acrescentou. Ele classificou a Lava Jato como uma “vergonha” para a Justiça brasileira.

Duran afirmou que atualmente ainda é procurado por Dallagnol e procuradores da Lava Jato, que “insistem em manter contatos extra conduto legal”. Além disso, disse ainda que vem sendo ameaçado, nos Estados Unidos, por um suposto delator. “Precisa saber se o delator é a mando deles ou não, porque nada foi feito”, ressaltou.

O caso

A Lava Jato acusa Tacla Duran de ser um operador do “departamento de propina” da construtora Odebrecht. Apesar da acusação, esta foi a primeira vez que o advogado falou à Justiça brasileira. Isso porque Moro e os procuradores da Lava Jato realizaram uma série de manobras para evitar o seu depoimento. Ele chegou a ser preso provisoriamente na Espanha, em 2016, mas foi solto depois que a Justiça espanhola constatou que faltavam provas para sustentar a medida.

De acordo com Duran, em 2016 o advogado Carlos Zucolotto Júnior teria exigido o pagamento US$ 5 milhões de dólares para que pudesse obter benefícios em acordos de colaboração com a Lava Jato sobre a Odebrecht. Na ocasião, Zucolotto era sócio do escritório de advocacia de Rosângela Moro, esposa do ex-juiz. O arranjo também teria contado com o aval de Dallagnol, conforme afirmou em depoimento à Câmara dos Deputados em 2018.

Lula já tinha ganho a parada. Mas resolveu ressuscitar Moro

Quem acompanha diariamente a rotina do Congresso via que o agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR) era até a semana passada figura coadjuvante no Legislativo. Como, no fundo, vinha sendo até então a grande maioria dos oriundos mais radicais do bolsonarismo. O ex-presidente Jair Bolsonaro perdera a eleição. Lula era o novo presidente. O país passara ainda pela absurda tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. O líder máximo disso tudo encontrava-se autoexilado nos Estados Unidos, enrolado até o pescoço com a história das milionárias joias ganhas do governo saudita que tentou fazer entrar por aqui de contrabando. Enfim, tratava-se de virar a página de todo esse pesadelo. Mas então Lula resolveu falar de Moro. E apareceu a tal história do plano de assassinato do Primeiro Comando da Capital (PCC). E Lula, novamente, em vez de ficar quieto, outra vez resolveu cutucar Sergio Moro.

Moro agradece. Lula deu a ele um palanque que ele não tinha mais. A chegada de Moro ao campo da política parecia uma apresentação de ginástica olímpica de Rebeca Andrade. Ainda que mais marcada por uma banda marcial do que por um “Baile de Favela”. Na primeira evolução, Moro abandou suas funções de juiz para imprimir uma perseguição a Lula em busca da sua cabeça. Exagerou tanto na dose que todas as condenações de Lula acabaram anuladas, e ele pode voltar à vida pública, elegendo-se pela terceira vez presidente da República.

Na parte, então, em que a atleta faz evoluções de dança, Moro resolveu sambar na cara de Jair Bolsonaro, fazendo as graves acusações de que ele buscava aparelhar a Polícia Federal para proteger a si, aos seus amigos e seus familiares.

Até completar a evolução com seu duplo tuíste carpado. Moro sai dessa condição de acusador de Bolsonaro para se tornar de novo seu aliado. A evolução só não foi perfeita pelo tropeço dado por Moro quando tentou ser primeiro candidato por São Paulo e não conseguiu comprovar o domicílio eleitoral.

Certamente, toda essa evolução não rendeu a Sergio Moro a medalha de ouro no quesito coerência. Por mais que ele tenha se reaproximado de Bolsonaro ao final da campanha, estava longe de ser agora fiel aliado do bolsonarismo. Mas alguém de quem o bolsonarismo deveria desconfiar. E, evidentemente, não era alguém que pudesse se aproximar do governo Lula. Alheio, portanto, a seu próprio partido, que tem ministros no novo governo.

Então, Lula primeiro confessa seus desejos mais primitivos sobre Moro numa entrevista. Desejos legítimos, por tudo o que ele passou, diga-se, mas dispensáveis de serem tornados público na atual posição de Lula, de presidente da República. No dia seguinte, aparece, pela voz do próprio ministro da Justiça, Flávio Dino, a história do plano de sequestrar e assassinar Moro. E o que faz Lula? No dia seguinte, volta a cutucar Moro com a história de que tudo seria “armação” dele.

Então, as “armações” de fato surgem. Como a tentativa deplorável de querer associar Lula e o PT ao plano do PCC. E, por outro lado, o esforço igualmente boboca de querer comprovar a tal “armação” de Moro só porque Lula, o oráculo, disse. Cumpra-se o oráculo de Lula, mesmo que se desmoralize a Polícia Federal e o Ministério da Justiça.

O problema disso tudo é que, antes de tudo isso acontecer, Lula já tinha obtido o resultado final do seu desejo de ferrar (não é preciso repetir o verbo exato usado pelo presidente) com Moro. Tinha suas condenações anuladas. Tinha Moro desmoralizado como juiz. Era o presidente da República. E Moro até então um senador apagado.

Foi Lula quem ressuscitou Moro. Foi Lula quem trouxe Sergio Moro de volta à ribalta. Foi Lula quem deu de novo um palanque a Moro. Na quinta-feira (30), Bolsonaro retornará ao Brasil. Nas conversas em que sua volta foi acertada, o PL disse a Bolsonaro que os excessos verbais de Lula no momento poderiam ajudar nesse retorno. Bolsonaro pretende chegar provocando Lula. E o PT aconselha Lula a não cair nesse provocação. Bolsonaro é até agora um ex-político que se autoexilou chegando a temer a prisão e a inelegibilidade. Pior que Moro, que, embora até então apagado, era senador. Que não ganhe agora ajuda na sua tentativa de retorno à ribalta.


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Uma resposta para “Tacla Duran denuncia Moro e Dallagnol por extorsão e entra no programa de proteção à testemunha”

  1. Argeu disse:

    Lamentável 🤔

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