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Reunião do ministro da Justiça com esposa de integrante de facção criminosa nunca aconteceu, mas serve de cortina de fumaça para fatos que incriminam Moro
Publicado em 14/11/2023 9:15 - RBA
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Após ser exposto por sumir com bens da Operação Lava Jato, o ex-juiz e senador Sergio Moro (União-PR), articulado com setores da imprensa, aposta na estratégia bolsonarista de fake news. O fato é que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) identificou ausência de controle dos bens apreendidos na operação. A apuração aponta “gestão caótica” de Moro no controle dos valores. Poucos minutos após a divulgação destes fatos, o jornal O Estado de S.Paulo divulgou ataques ao Ministério da Justiça. Em seguida, comentários do senador sobre o caso.
A matéria acusa o ministro Flávio Dino de participar de reunião com “integrante do CV”, em alusão ao Comando Vermelho, facção criminosa fluminense. Contudo, a realidade não demorou para vir à tona. Primeiramente, a reportagem com as ilações afirma que houve reunião entre Dino e Janira Rocha, supostamente esposa de um líder da facção. Contudo, a reunião nunca aconteceu. “Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho”, disse Dino.
Aos fatos
“De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que não se realizou em meu gabinete (…) Não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem”, completou o ministro.
O que, de fato, aconteceu, foi uma audiência entre o secretário de Assuntos Legislativos no Ministério da Justiça e Segurança Pública, Elias Vaz, e representantes de parentes de presos. Trata-se de uma rotina da pasta, que controla a gestão das políticas prisionais. Janira é ex-deputada estadual do Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) no Rio de Janeiro.
“Na reunião, realizada no dia 16 de março, a Sra. Janira Rocha veio acompanhada das senhoras Ana Lúcia, mãe do jovem Lucas Vinícius, morto em 2022. E também de Luana Lima, mãe de Lara Maria Nascimento, morta em 2022; e de Luciane Farias, do estado do Amazonas. Durante a audiência, das mães Ana Lúcia e Luana Lima, escutei reivindicações pedindo celeridade nas investigações sobre a morte dos filhos”, explica Vaz.
Ele explicou ainda que ouviu reivindicações e indicou que as mulheres procurassem a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). “Na ocasião, recebi os documentos anexos, nenhum tratando de casos ocorridos no estado do Amazonas. Quanto à Sra. Luciane, ela estava como acompanhante da advogada Janira Rocha, e se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário”, acrescentou.
Informo que, no dia 14 de março, recebi solicitação de audiência por parte da Sra. Janira Rocha, ex-deputada estadual no Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ.
(continua)— Elias Vaz (@EliasVazGyn) November 13, 2023
Cortina de fumaça e Moro
Estranhamente, a notícia enganosa, comentada por Moro, que disse que “o crime se sente bem no governo Lula”, surgiu pouco tempo após escândalo real que envolve o bolsonarista. Reportagem do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, antecipou a apuração do CNJ poucos minutos antes das 6h de domingo (12). Então, ontem (13), às 13h34, o Estadão veio com a suposta “bomba”.
Contudo, o que não é desinformação é a apuração do CNJ que evidencia mais estragos da Lava Jato, incluindo um desgaste do Judiciário diante de seu papel fundamental na sociedade. O estudo do CNJ encontra eco em apuração do Tribunal de Contas da União (TCU). Em setembro, o ministro Bruno Dantas chegou à mesma conclusão. “O que está acontecendo é a transferência de patrimônio do Estado brasileiro para a gestão de agentes da lei. É disso que nós estamos tratando”, disse.
Em resposta, Moro disse ser alvo de perseguição. “O que vemos é a corregedoria do CNJ atuando de uma maneira bastante discutível. Isso é plantação de notícias na imprensa”, disse, ao acusar a imprensa de atuar exatamente da forma oposta da realidade. Ele concluiu, em entrevista à Jovem Pan, ao afirmar que “há clima de perseguição no Judiciário”.
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