08/10/2024 - Edição 550

Poder

Por que este ministro permanece no cargo?

Publicado em 19/04/2019 12:00 -

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Depois da queda relâmpago de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência por motivos muito semelhantes, impressiona cada vez mais a resistência do presidente Jair Bolsonaro em demitir o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Cada dia que termina com o ministro no cargo lembra o esforço do personagem mitológico Sísifo. Sua permanência vai se tornando uma missão tão inútil e inexplicável, como rolar uma rocha até o cume da montanha e vê-la descer de novo até a base, a partir da publicação de novas evidências que enrolam ainda mais o ministro.

Depois de balançar no cargo ao ser apontado como o mentor de um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais, Álvaro Antônio se vê novamente envolto num novo escândalo decorrente dessa denúncia. Agora, ele é acusado de ter ameaçado de morte a deputada federal Alê Silva (PSL-MG). Alê, sua correligionária, foi a primeira parlamentar do Congresso a confirmar à polícia as denúncias de que Antônio comandaria o esquema do uso indevido de dinheiro público por meio de candidaturas fakes.

No último dia 10, a parlamentar, contudo, voltou a procurar os policiais federais para contar que ouvira de um emissário do ministro um alerta sobre o “perigo” que ela e sua família corriam caso continuasse sustentando as acusações contra ele. A deputada foi aconselhada por esse político mineiro, cujo nome ela preserva, a “parar” com as denúncias. Se já era grave manter o ministro pelo escândalo das candidaturas laranjas, muito mais grave é saber que, por conta disso, ele agora faz ameaças à vida de uma parlamentar do seu partido.

As ameaças

Alê contou que recebeu a visita de um político do PSL de Minas Gerais em seu escritório em Ipatinga, revelando-lhe que teria acabado de chegar de um fim de semana em Belo Horizonte, onde estivera reunido com Álvaro Antônio. No escritório de Ipatinga, esse político ligado ao ministro foi o porta-voz das ameaças à deputada: “Ele disse para eu parar, esquecer esse assunto, não levar isso adiante, porque senão a minha vida e a da minha família corriam riscos”. Além de denunciar as ameaças à PF e à presidência da Câmara, que lhe prometeu segurança, ela encaminhou o caso também para o Ministério Público.

Mas Alê disse que não vai ceder às pressões, já que decidiu “combater a corrupção na vida pública” e que jamais irá se calar “diante do surgimento de um foco de corrupção tão perto de mim”. Alê descobriu a existência das candidaturas fakes de Débora Gomes e Milla Fernandes, que receberam dinheiro do fundo eleitoral a mando de Álvaro Antônio mesmo não se empenhando na disputa. “Tudo o que eu pesquisei, e me foi relatado pelas candidatas laranjas que acusaram o ministro, tem extrema consistência”, afirmou ela.

Em seu socorro, a deputada federal ganhou uma aliada de peso. A deputada estadual Janaina Pascoal (PSL-SP) exigiu a demissão de Álvaro Antônio por meio de suas redes sociais: “Todo meu apoio à deputada federal Alê Silva. E agora, Presidente? O Ministro do Turismo fica? A Deputada Federal eleita também estaria mentindo? Exijo a demissão do Ministro! Não tem que esperar conclusão de inquérito nenhum!”.

Ao preservar Álvaro Antônio, Bolsonaro tem dito que só vai demitir o ministro quando as investigações sobre o laranjal sofrem concluídas. Políticos ligados a ele, no entanto, vêm pedindo prudência sob o argumento de que uma nova troca no Ministério agravaria crises que poderiam atrapalhar a tramitação da reforma da Previdência. Mas nem todos seguem o plano do Palácio do Planalto. O líder do governo no Senado, Major Olímpio (PSL-SP), desgarrou-se da recomendação. Ele garante que “se fosse o presidente, não permaneceria com esse desgaste. Defendo que Álvaro Antônio reassuma seu mandato de deputado e use o parlamento para se defender”. Caso Bolsonaro siga permitindo que a pedra de Álvaro Antônio suba diariamente ao cume da montanha para depois rolar ao chão, ele corre o risco de uma hora ver a pedra atropelá-lo quando rolar de volta.


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