18/05/2024 - Edição 540

Poder

Moraes nega pedido de Bolsonaro para não comparecer a interrogatório

Em delação, Mauro Cid afirma que grupo radical defendia apoio de CACs para golpe

Publicado em 21/02/2024 10:28 - Agência Brasil, Leonardo Sakamoto (UOL), ICL Notícias – Edição Semana On

Divulgação Marcelo Camargo - Abr

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes negou, na terça-feira (20), pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para que ele fosse dispensado de comparecer à Polícia Federal (PF), em interrogatório sobre o caso que apura a formação de uma suposta organização criminosa para elaborar um golpe de Estado. O interrogatório está marcado para a próxima quinta-feira (22).

Na segunda-feira (19), o magistrado já havia negado o pedido da defesa do ex-presidente por um adiamento da oitiva. A alegação era de que os advogados de Bolsonaro não tinham tido acesso integral ao processo. O argumento havia sido rebatido pelo ministro, que negou tal obstrução aos autos.

O pedido negado hoje, segundo Moraes, não trouxe nenhum novo argumento. “A defesa tem conhecimento da SV [Súmula Vinculante] do STF e da jurisprudência pacificada em relação à colaboração premiada, porém insiste nos mesmos argumentos já rejeitados em decisão anterior, onde ficou absolutamente claro que o investigado teve acesso integral a todas as diligências efetivadas e provas juntadas aos autos e que não há motivos para qualquer adiamento do depoimento marcado pela Polícia Federal para o dia 22 de fevereiro próximo”.

Bolsonaro é um dos alvos na Operação Tempus Veritatis, deflagrada há quase duas semanas pela PF. Ele teve o passaporte apreendido e foi proibido de se comunicar com os demais investigados.

Segundo a PF, o grupo investigado é suspeito de tentar “viabilizar e legitimar uma intervenção militar” no Brasil.

Lula se ‘esforçou’ em tirar o foco de B Bolsonaro, mas a PF agiu rapidamente

Bolsonaro foi intimado pela PF a depor sobre o golpe de Estado que quase sofremos. A informação devolve o nome do ex-presidente às manchetes, onde brilhava há dias por conta das apurações que chegaram ao núcleo duro golpista. Lula bem que “tentou” dar uma ajuda midiática ao adversário, com sua desnecessária declaração sobre o Holocausto, que colocou o petista sob os holofotes, mas a ação da PF mantém Jair na ribalta.

Para além de entregar ao governo genocida de Netanyahu uma oportunidade para ele justificar sua limpeza étnica em Gaza, Lula também ajudou a tirar o foco sobre as investigações contra Bolsonaro aliados sobre o golpe de Estado. Mais do que isso: a dar a ele mais uma desculpa para que ele chame seguidores da extrema direita ao ato do dia 25 de fevereiro em São Paulo.

O presidente brasileiro ignorou um dos principais conselhos para o debate público: não comparar ninguém com Adolf Hitler e nada com o holocausto de seis milhões de judeus. Pode-se discutir o porquê disso, mas a regra é simples e evita a contaminação da discussão, a empoderar o povo do ruído, além de poupar dores de cabeça e muitos veja-bens na ressaca midiática do dia seguinte.

Netanyahu – que na esteira dos odiosos ataques terroristas do Hamas contra a população de Israel em 7 de outubro do ano passado, vem promovendo uma carnificina de civis inocentes na Faixa de Gaza, em um crime contra a humanidade que será lembrado pelas próximas gerações – aproveitou da comparação feita por Lula e sapateou como também fez em situações semelhantes com outros líderes e figuras públicas.

Sabe que, se o conflito terminasse hoje, seria chutado para fora do governo, dada a sua incompetência em prever os ataques apesar de contar com um dos melhores aparatos de inteligência do mundo. Sabe também que seu futuro depende da forma como conduzir a guerra e não a construção que fizer para a paz, então age para transformar cada crítica a seu governo a uma crítica ao povo judeu. Há muito antissemitismo no mundo que precisa ser extirpado, mas também há cara de pau.

O bolsonarismo percebeu a oportunidade e está explorando o caso nas redes sociais, focando principalmente em evangélicos que têm na defesa de Israel um dos seus principais pilares. Lula está sendo vendido, literalmente, como o anticristo por conta da declaração em grupos religiosos no WhatsApp e no Telegram.

Com isso, uma cortina de fumaça acabou sendo involuntariamente jogada pelo petista sobre o escândalo do planejamento de golpe de estado por Bolsonaro e aliados, que vinha tomando boa parte do noticiário. Mas não só.

O bolsonarismo está usando a declaração de Lula para chamar eleitores evangélicos de Bolsonaro para o ato de 25 de fevereiro na avenida Paulista. Como Netanyahu transformou os comentários de Lula em um ataque ao povo judeu, aliados do ex-presidente aproveitaram a deixa e deram ares de guerra santa à manifestação de apoio aos golpistas no próximo domingo.

Há evangélicos que, por mais que mantenham o apoio a Jair, não se sentem confortáveis de irem a um evento que não é uma defesa do Estado Democrático de Direito, como vende cinicamente o ex-presidente, mas uma tentativa de encarecer a sua condenação e prisão. Mas podem se sentir mais à vontade de ir a um evento em que se defenda Israel.

Contudo, aqui entra de novo o roteirista desta chanchada chamada “Brasil”, que tratou de complicar ainda mais a situação, com a intimação de Bolsonaro.

A informação sobre o depoimento, que seus advogados tentaram adiar para depois do ato em apoio a ele, ganhou as redes, devolvendo Jair aos holofotes por algo bastante negativo.

A decisão pelo depoimento, claro, não foi tomada hoje, pois dependeu de aval do sistema de Justiça. Agora, bolsonaristas reclamam que uma cortina de fumaça está dispersando a sua cortina de fumaça. Palmas para o roteirista.

Em delação, Mauro Cid afirma que grupo radical defendia apoio de CACs para golpe

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal que aliados radicais de Jair Bolsonaro eram favoráveis à utilização de “um braço armado” para executar o plano golpista do ex-presidente. Em delação, o ex-ajudante de ordens informou que haveria apoio de Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) na tentativa de golpe de Estado. A informação é do jornal O Globo.

De acordo com a PF, Cid também relatou que o grupo radical no entorno de Bolsonaro queria que o ex-presidente assinasse o decreto golpista com base em uma interpretação distorcida do artigo 142 da Constituição Federal, que trata do papel das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem.

“Que o segundo grupo de ‘radicais’ era a favor de um braço armado; que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de estado; que queria que ele [Bolsonaro] assinasse o decreto; que acreditavam que quando o presidente desse a ordem, ele teria o apoio do povo e dos CACs”, disse Cid em depoimento à PF.

A PF informou que Cid, no entanto, não especificou quem integrava o que ele intitula como “segundo grupo de radicais”, que defendia uma ação militar.

As investigações da PF apontam que, conforme o material analisado, havia duas frentes de atuação. Uma mais conservadora, que agia para desacreditar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, e uma segunda, que defendia ações “que resultariam em uma ruptura do Estado Democrático de Direito por meio de decretação de Estado de Defesa”.

CAC

O governo de Jair Bolsonaro concedeu, em média, entre 2019 e 2022, 691 registros de novas armas por dia para CACs. É o que aponta levantamento do G1.

No total, foram concedidos 904.858 registros para aquisição de armas ao longo de quatro anos, sendo que 47% foram liberados em 2022, segundo dados do Exército.


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