18/05/2024 - Edição 540

Poder

Michelle e Eduardo incitavam Bolsonaro a dar golpe, diz Cid em delação

Ministros do STF avaliam que as chances de Bolsonaro escapar da prisão são pequenas

Publicado em 10/11/2023 2:49 - Leonardo Sakamoto e Josias de Souza (UOL), Yurick Luz (DCM) – Edição Semana On

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O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em sua delação à Polícia Federal, que Michelle buzinou bastante no ouvido do então presidente Jair Bolsonaro para que ele não aceitasse o resultado das eleições. Basicamente colocou a ex-primeira-dama como mais golpista que o golpista.

A informação foi revelada por Aguirre Talento, aqui no UOL, nesta sexta (10). Dessa forma, Cidinho dá o troco em Michelle, que sempre deixou claro que não gostava do então ajudante de ordens do marido, apesar dos extensos serviços bancários prestados por ele.

E põe por terra as versões que circularam no momento em que ele fechou a delação premiada, de que a preservaria, centrando fogo em Jair e nos militares.

Cid é peça central para desvendar várias maracutaias envolvendo a família Bolsonaro. Além do registro falso de vacina, há a tentativa de surrupiar joias dadas ao país pela Arábia Saudita, as ações de Jair para enterrar a democracia e, como esquecer, a mutreta envolvendo os gastos pessoais de Michelle.

O tenente-coronel foi instruído pelo então presidente a ser um tipo de “caixa eletrônico” da primeira-dama. A Polícia Federal avalia que grana pública pode ter abastecido os mimos dela, mas a família Bolsonaro diz que a fonte era o salário do marido.

“O conjunto probatório colhido durante o estudo do material apreendido (inclusive o contido em nuvem) permite identificar uma possível articulação para que dinheiro público oriundo de suprimento de fundos do governo federal fosse desviado para atendimento de interesse de terceiros, estranhos à administração pública, a pedido da primeira-dama Michelle Bolsonaro, por meio de sua assessoria, sob coordenação de Mauro Cid”, aponta trecho de relatório da PF.

Mauro Cid não fazia Pix, DOC, TED, nem transferência bancária. Não que o então faz-tudo desconhecesse como usar um aplicativo de banco, mas, ao que tudo indica, a primeira-família não conseguiu largar o antigo hábito de usar dinheiro vivo, mais difícil de ser rastreado e ótimo para maracutaias.

“Eu faço depósito, eu não faço transferência bancária, não”, afirmou Cid em um pacote de mensagens reveladas também por Aguirre Talento, no UOL, em maio deste ano. Essa, em especial, foi a resposta que ele deu a uma assessora da então primeira-dama, que havia passado a ele os dados de Pix para pagamento do veterinário do pet e da podóloga da patroa.

Em outra mensagem, uma assessora diz que Michelle Bolsonaro solicitou R$ 3 mil e que se não fosse possível depositar na sua conta, um mensageiro iria buscar. Algumas horas depois, Cid enviou um comprovante de depósito em dinheiro. Em ainda outra, ele pede a outro militar que trabalhava com ele, o tenente Osmar Crivelatti, que fosse feito um depósito de R$ 4,9 mil para a “Dama”.

Já não era novidade que Mauro Cid fazia pagamentos na boca do caixa em dinheiro vivo em nome da família Bolsonaro. A imprensa vem denunciando essa situação usada por grupos que querem esconder irregularidades, como já fizeram a Folha de S.Paulo e o portal Metrópoles. As mensagens e os áudios de Cid, no entanto, reforçaram o escândalo.

Enquanto empresas e sociedade usam e abusam de transferências bancárias e do Pix, não tendo receio de que suas movimentações estejam registradas para a fiscalização, eles tentavam encobrir os rastros. Em outra conversa entre assessoras: “Perguntei para ela se ela [Michelle] queria transferir Pix, né? Daí, ela falou: não, vamos fazer agora tudo depósito, que, aí pede pro Vanderlei fazer o depósito, a gente consegue o dinheiro e faz o depósito”.

Essa parte da investigação da PF, que busca descobrir se despesas pessoais de Jair Bolsonaro e da primeira-dama foram pagas com dinheiro do público, sugere que o presidente atualizou o desvio de salários de servidores dos gabinetes da família em algo mais chique: o uso de dinheiro da Presidência da República. E que as funções de saque e depósito de Fabrício Queiroz, antigo faz-tudo da família da época em que o presidente era deputado federal, ficaram a cargo de alguém mais graduado, o tenente-coronel Mauro Cid, seu ajudante de ordens.

Se Cidinho não poupou Jair, que lhe tinha apreço, mas o jogou ao mar para se safar, imagina então alguém que claramente nunca demonstrou respeito por ele. O tenente-coronel, enfim, deu o troco, após anos servindo como caixa eletrônico. Vingança é prato que se congela para comer depois.

Cid refaz o slogan: Família acima de tudo, golpe em cima de todos

“É um filho pra mim”, disse Bolsonaro sobre Mauro Cid há quatro meses. Só quem conheceu a antiga primeira-família por dentro —com o marido “imbrochável”, a mulher “ajudadora” e a prole impoluta— pode experimentar a extraordinária sensação que é um dia se livrar de toda a farsa por meio de uma delação.

Cid arrastou os Bolsonaro para dentro do livro de Gênesis ao contar à Polícia Federal que Michelle e Eduardo Bolsonaro integravam o bloco que instilava radicalismo nos ouvidos do capitão, estimulando-o a dar um golpe. A família Bolsonaro, como todas as outras, veio do pó e a ele está retornando.

O diabo é que a colaboração premiada do ex-faz-tudo demonstra que o Brasil terá que penar muito para limpar o pó e o rastro de detritos que os Bolsonaro deixaram nos salões do Poder. A democracia não será restaurada enquanto o lixo não for varrido por sentenças criminais higienizadoras.

Os Bolsonaro compõem uma organização familiar com fins lucrativos e golpistas. Já era impossível ouvir aquela conversa mole de Deus, pátria e família sem reprimir um sorriso interior. Mauro Cid adicionou ao desmonte da tríade predileta do fascismo à brasileira a revelação do verdadeiro slogan: Família acima de tudo, golpe em cima de todos.

Ministros do STF avaliam que as chances de Bolsonaro escapar da prisão são pequenas

No decorrer deste ano, diante das várias investigações em andamento relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) têm revisto sua perspectiva quanto a uma possível prisão do ex-mandatário. A informação foi divulgada pelo colunista Bela Megale, do jornal O Globo.

Se, em janeiro, a análise inicial apontava para o risco de uma prisão perturbar o cenário político nacional e fortalecer sua base de apoio, a avaliação atual sugere que as chances de Bolsonaro escapar de uma punição são agora reduzidas.

Quatro magistrados no STF acreditam que, com base nas evidências tornadas públicas, como a falsificação de cartões de vacina, posse de joias da Arábia Saudita e, especialmente, as suspeitas de envolvimento direto de Bolsonaro em um suposto golpe de Estado, “é muito difícil” que o ex-presidente receba uma pena que mantenha sua liberdade.

Mesmo com as preocupações levantadas pelo subprocurador-geral Carlos Frederico dos Santos sobre a delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, os ministros do STF receberam informações de que a Polícia Federal (PF) avançou nas investigações relacionadas aos eventos descritos pelo militar.

Vale destacar que Santos classificou a delação do tenente-coronel como “fraca”. Ele considera que a delação de Mauro Cid inclui somente “narrativas” do militar e que é necessário aprofundar as investigações para que elas resultam na apresentação de denúncia contra Bolsonaro.

No âmbito do STF, a expectativa é que a PF conclua sua investigação sobre o suposto envolvimento do ex-presidente em um plano golpista para impedir a posse de Lula (PT) em cerca de três meses. Este é considerado o caso mais sério e que, de acordo com os ministros do tribunal, poderia resultar na prisão de Bolsonaro.

Além disso, os ministros mantêm a opinião de que, atualmente, não existem elementos que justifiquem uma prisão preventiva do ex-chefe do Executivo, defendendo que ele deve ter todas as garantias legais asseguradas nos processos que enfrenta.


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