18/05/2024 - Edição 540

Poder

Lula demite diretor-adjunto da Abin: órgão é investigado por esquema de monitoramento ilegal

Polícia Federal intima Augusto Heleno para depor sobre ‘Abin paralela’

Publicado em 31/01/2024 11:05 - Carolina Pimentel (Agência Brasil), Mateus Coutinho (Brasil de Fato), Leonardo Sakamoto (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Antonio Cruz - Abr

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou ontem (30) Alessandro Moretti do cargo de diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A exoneração do número 2 da agência foi publicada na noite de hoje em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).

A demissão ocorre após a Polícia Federal (PF) deflagrar operação que investiga suposto esquema de produção de informações clandestinas dentro da Abin durante a gestão do então diretor e atual deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ). Um dos alvos da investigação é o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Mais cedo, o presidente Lula havia dito, em entrevista, que se fosse comprovado o envolvimento de Moretti no monitoramento ilegal feito no governo passado, não haveria condições de ele permanecer na instituição.

O delegado federal Alessandro Moretti estava na Abin desde março de 2023 e continuou no órgão por ter relação de confiança com o diretor-geral Luiz Fernando Corrêa, nomeado pelo presidente Lula.

Com a saída de Moretti, o segundo maior posto do órgão passará a ser ocupado por Marco Aurélio Chaves Cepik, conforme nota divulgada pela Casa Civil da Presidência da República. Cepik é professor universitário e o atual diretor da Escola de Inteligência da Abin.

Antes da Abin, Moretti ocupou direção de Inteligência Policial (2022 a 2023) e de Tecnologia da Informação e Inovação (2021 a 2022) da Polícia Federal. Ele também atuou como diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2020 e foi secretário-executivo de Segurança Pública do Distrito Federal, entre 2018 e 2020.

Polícia Federal intima Augusto Heleno para depor sobre ‘Abin paralela’

O ex-ministro do GSI durante o governo Jair Bolsonaro, general Augusto Heleno, foi intimado pela Polícia Federal para depor na investigação sobre a “Abin paralela” que teria sido montada durante aquela gestão para monitorar desafetos políticos e levantar informações de interesse da família do presidente.

O depoimento está previsto para ocorrer na próxima terça-feira, (6). Durante o governo Bolsonaro, a Abin ficava submetida ao GSI, que era comandado por Heleno. Até o momento, porém, seu nome não havia sido mencionado nas decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que autorizaram as operações para investigar o esquema de espionagem ilegal e que teria envolvido o diretor da Abin no governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem, e o vereador de filho do ex-presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos–RJ).

Ambos foram alvos recentes de mandados de busca e apreensão no âmbito da operação chamada Vigilância Aproximada. Atualmente, no cargo de deputado federal, Ramagem teve seus endereços residenciais e seu gabinete revistados pela Polícia Federal na semana passada e, a partir do que foi encontrado nas buscas e com a quebra de sigilo das comunicações do deputado, a PF avançou e realizou na segunda-feira (29), buscas nos endereços de Carlos Bolsonaro no Rio e em Brasília.

A suspeita da PF é de que Carlos Bolsonaro recebia as informações da estrutura que seriam levantadas ilegalmente pela estrutura paralela de espionagem.

Heleno sempre negou ter conhecimento sobre a existência de uma “Abin paralela” durante o governo Bolsonaro.

Brasil será justo quando polícia tratar pobre como tratou Carlos Bolsonaro

É perturbador perceber que os mesmos perfis em redes e em aplicativos de mensagens que defendem esculacho da polícia em barraco de pobre em morros do Rio ou na Baixada Fluminense postam horrorizados sobre a busca e apreensão pela Polícia Federal na casa do vereador Carlos Bolsonaro em um condomínio na Barra da Tijuca.

A lei é a mesma e vale para todos, mas a busca e apreensão realizada pela PF, nesta segunda (29), no Vivendas da Barra, onde o vereador e o seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, têm imóveis, ao que tudo indica, foi realizada respeitando os pertences e a propriedade do investigado. O que é muito bom. Pois nem sempre isso acontece quando há o cumprimento de um mandado em uma comunidade.

Aliás, muitas vezes o pobre da comunidade nem está sendo investigado por nada e, mesmo assim, tem sua casa atropelada pelas autoridades porque vira o “suspeito miojo”, instantâneo. Deu azar de nascer no lugar errado, com a cor de pele errada.

“Cheguei há pouco em casa com muitas coisas reviradas e largadas abertas. Aos poucos reorganizando tudo”, publicou Carlos no X/Twitter.

Junto, um vídeo mostrando que a PF cumpriu a decisão judicial dentro da normalidade, ou seja, sem aloprar. Imagens mostram um cômodo com gavetas abertas, itens e caixas remexidas, mas nada que se assemelhe a um esculacho. Particularmente, já vi quartos de adolescentes mais desarrumados.

Carlos Bolsonaro é o principal nome da operação desta segunda que apura quais foram os beneficiários de espionagem ilegal conduzida na Abin durante o governo de seu pai. Na última quinta (25), o alvo já tinha sido o ex-diretor-geral da agência e, hoje, deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Ramagem é investigado pelo uso sem autorização judicial do software First Mile, que monitora o deslocamento de alvos. A Polícia Federal também tenta descobrir se o governo Bolsonaro investigou desafetos de outras formas. E se ainda há vazamento de dados sigilosos no governo atual para membros do governo passado via Abin.

Por enquanto, o vereador é apenas investigado no caso, não tendo sido formalmente acusado, denunciado ou condenado. Mas seu pai e seus aliados atacam a PF, a PGR, o STF, uma vez que não aceitam que o bolsonarismo seja investigado por indícios de crimes que tenha cometido. Levam a sério aquela história de “mito”, colocando-se acima de tudo e de todos.

O caso da espionagem é grave e pode ter abastecido com informações o Gabinete do Ódio, uma estrutura montada nas dependências do Palácio do Planalto, com pessoas pagas pelo erário, para atacar adversários políticos, partidos, juízes, jornalistas. Carluxo é apontado como o responsável pelo bunker, inclusive pelo ex-faz-tudo de Jair, o tenente-coronel Mauro Cid.

Coincidentemente, ficamos sabendo, nesta terça (30), que a PF concluiu o inquérito contra o empresário Renato Cariani, indiciando-o pelos crimes de tráfico equiparado, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Ele teria fornecido quantidades industriais de matéria-prima para a fabriçação de cocaína e crack ao narcotráfico.

Quando a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público deflagraram a operação contra ele, em dezembro, parte das redes fez a festa com memes. A contradição de alguém que ganha dinheiro vendendo “saúde” ajuda a fabricar toneladas de drogas que destroem o organismo é digna de sarcasmo.

Cariani não é apenas próximo do bolsonarismo, como realizou uma de suas lives, que têm a maior audiência entre os marombados deste país, para ajudar Jair a conseguir votos em 2022. O então presidente usou o espaço para reafirmar a sua pauta naquele momento de campanha, de que ninguém passava fome por aqui.

Claro que tudo isso tem um impacto enorme para a sua imagem profissional, dissociando-a da ideia de saúde. Mas, como já disse aqui, Cariani recebeu um tipo de reação estatal e pública que é garantida principalmente aos brancos e ricos. Ou seja, críticas e investigações, mas com todos os direitos garantidos, inclusive, o de ser punido apenas após ser investigado, julgado e condenado.

Um negro e pobre com meia dúzia de papelotes de pó não recebe o mesmo tratamento social que brancos ricos flagrados desviando material para produzir 19 toneladas de crack e cocaína. Um é um traficante que merece ser esculachado, o outro um empresário que foi mal compreendido.

O Brasil vai ser um país mais justo quando toda polícia tratar negro pobre como tratou o Carluxo.


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