05/05/2024 - Edição 540

Poder

Deputado federal, conselheiro do TCE-RJ e ex-chefe da Polícia Civil são presos por suspeita de mandar matar Marielle Franco

A Polícia Federal prendeu na manhã de hoje os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, e Rivaldo Barbosa

Publicado em 24/03/2024 10:20 - Lorena Barros, Aguirre Talento, Saulo Pereira Guimarães e Leonardo Sakamoto (UOL) – Edição Semana On

Divulgação

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Os irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal; e Domingos Brazão, conselheiro do TCE-RJ, além de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do RJ, foram presos. Eles serão transferidos para Brasília.

Prisões. Chiquinho e Domingos foram presos por suspeita de serem “autores intelectuais” dos homicídios, segundo a PF, de Marielle e do motorista Anderson, assim como pela tentativa de homicídio da assessora de Marielle, Fernanda Chaves, que também estava no carro no dia do crime. Já Rivaldo foi detido por obstrução de Justiça.

Além dos três mandados de prisão, 12 de busca e apreensão são cumpridos. Todos na cidade do Rio de Janeiro, informou a Polícia Federal. A investigação confirmou buscas contra o ex-titular da Delegacia de Homicídios, Giniton Lages, além de Marcos Antônio de Barros Pinto e Erika de Andrade de Almeida Araújo. A PF não revelou o grau de envolvimento deles. A motivação do crime também não foi informada. A reportagem tenta contato com os envolvidos.

Viaturas da Polícia Federal chegaram à sede da corporação com malotes. Advogados também compareceram ao local, mas eles não quiseram confirmar se têm relação com o caso. Os três presos deverão ser encaminhados ainda hoje para o sistema penitenciário federal de Brasília.

Operação após delação

Delação de Ronnie Lessa, apontado como executor do crime, apontou Chiquinho como mentor. A citação motivou a mudança do caso do Superior Tribunal de Justiça para o Supremo Tribunal Federal.

Chiquinho negou envolvimento após ser apontado por Lessa. Após a delação do ex-PM, ele afirmou que “tinha a mesma posição política que Marielle”. Ele também questionou a delação afirmando que era o “relato de um criminoso”.

Domingos, por sua vez, disse que não lembrava quem era Marielle. “Não conhecia e não me lembro da vereadora, nem como assessora do Freixo”, informou.

Família da Marielle comenta prisões

Anielle Franco celebra prisão. Irmã de Marielle, a ministra da Igualdade Racial agradeceu à PF por terem chegado aos mandantes.

Marielle tinha relação de confiança com Rivaldo, informou mãe. Segundo ela, o ex-chefe da polícia preso hoje disse que a resolução do assassinato era uma “questão de honra” para ele.

“Só deus sabe o quanto sonhamos com esse dia! Hoje é mais um grande passo para conseguirmos as respostas que tanto nos perguntamos nos últimos anos: quem mandou matar a Mari e por quê?”, disse Anielle Franco, irmã de Marielle.

QUEM SÃO OS PRESOS

Domingos Brazão

Político carioca, Domingos Inácio Brazão, 59, foi assessor na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Depois, vereador, entre 1997 e 1999, pelos partidos PT do B (atual Avante) e PL.

Foi eleito deputado estadual em 1999 e ocupou o cargo até 2015. Posteriormente, virou conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). O órgão é auxiliar do Poder Legislativo e tem como função fiscalizar a movimentação financeira do estado.

Uma reportagem do UOL, em 2019, contava que ele era chefe de um clã cujo reduto eleitoral abrangia bairros da zona oeste do Rio dominados por milícias. Domingos nasceu na região, no bairro de Jacarepaguá.

Chiquinho Brazão

Já Chiquinho Brazão (União-RJ) foi eleito pela primeira vez em 2018. É deputado federal e tem uma atuação parlamentar discreta. Relatou somente oito projetos. Cabe ao relator ouvir as diferentes opiniões e interesses e redigir o texto de uma lei.

O setor mais presente na atuação parlamentar de Chiquinho é a economia. Há três projetos relativos ao tema que estão sob relatoria do deputado.

Rivaldo Barbosa

Rivaldo Barbosa também foi citado na delação de Lessa. Ele tornou-se chefe da polícia um dia antes da morte de Marielle. Ele foi anunciado para o cargo em 22 de fevereiro, durante intervenção federal no Rio, e empossado em 13 de março de 2018.

Suspeito de receber propina para obstruir investigações. Em relatório enviado ao Ministério Público em 2019, a Polícia Federal apontou Rivaldo como suspeito de receber R$ 400 mil para evitar o avanço das investigações sobre autoria. Na ocasião, ele negou o recebimento de propina e a obstrução do caso.

Delação homologada

A homologação da delação de Ronnie Lessa foi anunciada pelo Ministério da Justiça. O ministro Ricardo Lewandowski afirmou que não teve acesso ao conteúdo e que o caso tramita em segredo de Justiça.

Processo está nas mãos de Alexandre de Moraes. Lewandowski afirmou que resultados sobre o que foi apurado devem ser divulgados “muito em breve”.

Assassinato completou seis anos em 2024

Em 14 de março de 2018, Marielle e Anderson foram assassinados na região central do Rio. Eles voltavam de um evento em que a vereadora palestrou quando um Cobalt prata emboscou o carro em que estavam e 14 tiros foram disparados. Nada foi roubado.

Suspeitos de cometer o crime foram presos. Os investigados como autores dos homicídios de Marielle Franco e Anderson Gomes, os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, ainda vão ser julgados.

Élcio firmou acordo de delação premiada com a PF e confessou ter participado do crime. Ele apontou que Ronnie Lessa foi o autor dos tiros.

A investigação do caso já foi comandada por cinco delegados diferentes e três grupos de promotores. O Ministério da Justiça e Segurança Pública escalou uma equipe para investigar o caso logo nos primeiro meses do governo Lula (PT).

Quem são os executores

Ronnie Lessa é um ex-policial militar e está preso preventivamente desde março de 2019. Ele é apontado como o principal suspeito da autoria dos assassinatos. Segundo a delação de Queiroz, Lessa foi o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson em março de 2018.

Preso preventivamente desde março de 2019, Élcio Queiroz também é ex-PM e foi o motorista do carro que seguiu Marielle e Anderson pelo centro do Rio. Em 14 de junho deste ano, ele fez uma delação premiada onde admitiu a participação no crime e forneceu novos detalhes da execução aos investigadores. Em 2020, ele foi condenado a cinco anos de prisão e pagamento de multa pelo porte de munição e pela posse de armas de fogo, munições e carregadores.

O ex-bombeiro Maxwell Simões, mais conhecido como Suel, também está preso. Ele teria participado do planejamento do crime e da ocultação das provas, tendo cedido, um ano depois dos assassinatos, um veículo utilizado para descartar armas que pertenciam a Ronnie Lessa. Em 2020, ele foi detido “por atrapalhar de maneira deliberada” as investigações. No ano seguinte, foi condenado a quatro anos de prisão. O ex-bombeiro foi preso na residência dele no dia 24 de julho de 2023, e transferido para a Penitenciária Federal de Brasília no dia seguinte, dia 25.

Outro PM também é suspeito de participar do crime. Segundo Queiroz, o ex-policial militar Edmilson Oliveira da Silva, mais conhecido como “Macalé”, teria sido responsável por convidar Lessa a matar Marielle e por ceder o carro utilizado nas execuções. Ele foi assassinado na zona oeste do Rio em novembro de 2021, após receber diversos disparos de homens dentro de um veículo BMW branco.

Também foram alvos de operação da PF Alessandra da Silva Farizote e João Paulo Vianna dos Santos Soares. Eles são conhecidos como “Gato do Mato”, que são investigados por terem recebido e descartado as armas do crime. O irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, é acusado de ter recebido os materiais usados no assassinato (arma do crime, touca, casaco e silenciador) no dia da execução.

Edilson Barbosa dos Santos, o “Orelha”, é acusado por ter sido o responsável por receber o veículo usado no crime das mãos de Ronnie, Maxwell e Élcio após o crime. Segundo a delação de Queiroz, ele foi responsável por destruir o carro em um desmanche. Denunciado pelo Ministério Público em agosto de 2023 por impedir e embaraçar as investigações do caso, ele foi preso no fim de fevereiro deste ano.

A PF também fez buscas nas residências de dois suspeitos. São eles: Jomar Duarte Bittencourt Junior, o “Jomarzinho”, e Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o “Mauricinho”. Eles são acusados de vazar informações e alertar os responsáveis pelas execuções por meio de mensagens eletrônicas.

Executores tentaram destruir provas

Provas foram destruídas. A PF informou que, após executar Marielle, os investigados teriam jogado pedaços da placa do veículo utilizado no crime nas linhas férreas dos trens urbanos do Rio de Janeiro. Dois dias após a execução, Orelha recebeu a ordem de “sumir com o automóvel”, segundo as investigações. O destino teria sido um desmanche no Morro da Pedreira, na zona norte da cidade.

Maxwell teria ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios pertencentes a Lessa. O armamento estava em um apartamento utilizado pelo ex-PM cuja localização ainda é desconhecida. De acordo com a PF, em março de 2019, um ano após a execução da vereadora, o arsenal foi descartado no mar da Barra da Tijuca, atrapalhando o andamento das investigações.

Prisão mostra que crime, política e polícia andam juntos no Rio, diz Freixo

Além de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, e do deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), suspeitos de serem mandantes da execução de Marielle Franco, em 2018, a operação da Procuradoria-Geral da República, da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio também prendeu, neste domingo (24), o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa.

“As prisões de hoje são muito reveladoras do Rio: Tribunal de Contas, Câmara dos Deputados e Polícia Civil. Crime, polícia e política andam de mãos dadas no Rio. Isso estava na CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa, em 2008, e hoje ajuda a explicar o caso Marielle”, afirmou à coluna o presidente da Embratur e ex-deputado federal Marcelo Freixo.

Freixo era uma das pessoas mais próximas à vereadora executada em 14 de março de 2018, no centro da capital fluminense. Ele lembra que há três perguntas a serem respondidas sobre o caso: quem matou, quem mandou matar e quem não deixou investigar.

Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão presos por serem executores do crime. Queiroz fez uma delação premiada, o que empurrou Lessa a fechar um acordo com a Polícia Federal, homologado por Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal.

Isso teria sido fundamental para entregar os nomes dos mandantes. O nome de Domingos Brazão já havia aparecido antes nos inquéritos, inclusive em uma investigação da Polícia Federal sobre tentativa de obstrução do caso. Rivaldo Barbosa teria recebido propina para atrapalhar as investigações e garantido, desde o início, proteção aos criminosos.

Marcelo Freixo conta que o ex-chefe da Polícia Civil foi a primeira pessoa para quem ele ligou assim que soube da execução da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, na emboscada no centro do Rio. Ele tinha sido alertado sobre o ocorrido por informações dadas por Fernanda Chaves, assessora do PSOL que estava no carro que foi metralhado e sobreviveu.

“Assim que soube da morte da Marielle, liguei para ele, pois era o chefe da polícia. Foi ele quem mandou os agentes ao local. E, após o velório e o enterro, ele recebeu a mim e à família, prometendo a solução do crime”, conta Freixo.

Em 2019, o UOL revelou que a Polícia Federal havia afirmado, em um relatório reservado ao MP-RJ, que o delegado Rivaldo Barbosa deveria ser investigado pela suspeita de ter recebido propina no valor de R$ 400 mil para evitar que fossem conhecidos os reais culpados pelas execuções. A informação teria surgido de interceptação telefônica do miliciano Jorge Alberto Moreth com o vereador Marcello Sicilliano.

Na época, Barbosa negou que tenha sido subornado.


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