05/05/2024 - Edição 540

Poder

Datafolha: Reprovação de Lula sobe para 34% na cidade de SP

Pedir paciência é pedir para apanhar: população tem pressa

Publicado em 12/03/2024 9:35 - DW, Josias de Souza (UOL), Ricardo Noblat (Metrópoles) - Edição Semana On

Divulgação Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

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Uma pesquisa do Datafolha divulgada na segunda-feira (12/03) revelou uma queda acentuada da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cidade de São Paulo, refletindo números de avaliações realizadas em todo o território nacional.

Entre os paulistanos, 38% consideram a gestão de Lula como boa ou ótima, enquanto 34% a avaliam como ruim ou péssima. O índice dos que consideram regular a atuação do presidente ficou em 28%, e 1% não soube responder.

Os números revelam um forte contraste em relação ao levantamento do Datafolha de agosto do ano passado, quando Lula teve a aprovação de 45% dos entrevistados, sendo reprovado por 25%, com 29% que consideravam sua atuação como regular. Não soube responder 1% do total.

No levantamento mais recente, Lula é melhor avaliado pelos eleitores com 60 anos ou mais (45%), que compõem 23% da amostra, e entre os que cursaram até o ensino fundamental (47%), que são 21% dos entrevistados.

A reprovação ao presidente é mais alta entre os evangélicos (25%), segmento fortemente ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, no qual a reprovação a Lula é 12 pontos percentuais maior do que o registrado em agosto de 2023, chegando a 49%, enquanto a aprovação teve queda de 16 pontos percentuais.

Números refletem desempenho nacional

O Datafolha avalia que, com os novos números, a aprovação de Lula em São Paulo praticamente se igualou à mais recente da pesquisa nacional, de dezembro de 2023. No levantamento, Lula teve a aprovação de 38% dos brasileiros, contra 30% que consideravam seu trabalho regular, número igual aos que o avaliaram como ruim ou péssimo.

Uma pesquisa do Ipec divulgada em 8 de março também revelou uma queda de 5 pontos percentuais na popularidade de Lula em relação ao levantamento anterior, de dezembro do ano passado, sendo este o pior número registrado pelo instituto desde março de 2023.

Segundo o Ipec, Lula é avaliado com ótimo ou bom por 33% dos brasileiros – mesmo número dos que o avaliam como regular –, com 32% que o consideram ruim ou péssimo.

O presidente comentou a queda de popularidade registrada em pesquisas recentes durante uma entrevista ao SBT News nesta segunda-feira, afirmando que não há “nenhuma razão do povo brasileiro me dar 100% de popularidade, porque ainda nós estamos muito aquém daquilo que prometemos”.

Lula disse que os frutos do seu terceiro mandato à frente da Presidência deverão aparecer nos próximos meses. “Nós preparamos a terra, aramos a terra, adubamos a terra e colocamos a semente. Cobrimos a semente. Agora, este é o ano em que a gente vai começar a colher aquilo que nós plantamos.”

Impacto nas eleições paulistanas

A queda de popularidade do presidente pode prejudicar a campanha de Guilherme Boulos (PSol) à prefeitura de São Paulo. O deputado federal é apoiado pelo PT na disputa contra o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), candidato do bolsonarismo.

Segundo a pesquisa do Datafolha, ambos estão virtualmente empatados na disputa pela prefeitura paulistana – Boulos tem 30% e Nunes, 29%. Os dois candidatos estão isolados na linha de frente da corrida municipal. A terceira colocada, Tabata Amaral (PSB), possui apenas 8% das intenções de votos, segundo o levantamento.

O Datafolha entrevistou 1.090 pessoas de 16 anos ou mais na capital paulista entre os entre os dias 7 e 8 de março. A margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos.

Mantido viés de baixa, Lula pode virar uma bola de ferro de Boulos

Num instante em que Guilherme Boulos acena para o centro, o Datafolha forçou-o a entrar na semana com o pé esquerdo. Primeiro, foi informado de que sua vantagem em relação a Ricardo Nunes reduziu-se a um ameaçador empate técnico. Na sequência, descobriu que o prestígio do padrinho Lula derrete na cidade de São Paulo.

O Datafolha mostra que, a exemplo do que ocorre em âmbito nacional, ocorre na capital paulista uma aproximação das linhas de aprovação e reprovação do governo Lula. A desaprovação tomou o elevador. Subiu nove pontos desde agosto do ano passado, batendo em 34%. A aprovação, agora em 38%, despencou sete pontos.

A pesquisa acende uma luz amarela no painel de controle da campanha de Boulos. O Datafolha deu a Lula a aparência de uma corrente que Boulos arrasta pela conjuntura eleitoral. Mantido o viés de queda, o padrinho pode virar uma bola de ferro.

O Datafolha também informou que a taxa de aprovação do governo de Tarcísio de Freitas entre os paulistanos, hoje em 33%, oscilou positivamente dentro da margem de erro da pesquisa. Aliado de Ricardo Nunes, Tarcísio não chega a ser um trampolim. Mas representa um degrau em cima do qual Nunes consegue acenar com mais facilidade para o eleitorado bolsonarista.

Lula pede de novo para apanhar, e é o que vai acontecer

Difícil que Lula ignorasse que seria muito criticado quando disse, à época de candidato e depois de ter sido eleito, que os Estados Unidos e a Europa alimentavam com apoio político e armas a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ao invés de pará-la.

Aqui foi muito criticado por seus opositores e pela direita dita civilizada, que tapou o nariz e nele votou só para evitar o pior – a reeleição de Bolsonaro. Lá fora, as críticas foram mais brandas, mas não deixaram de ser feitas.

Difícil que ele ignorasse que voltaria a apanhar por sua postura simpática ao governo de Nicolás Maduro, na Venezuela. Bolsonaro bateu muito em Maduro para, por tabela, atingir Lula, mas no fundo admirava o venezuelano.

Ah, se como Maduro, ele, Bolsonaro, pudesse se eternizar no poder… Maduro é apoiado pelos militares, Bolsonaro também era; e Maduro controla o Congresso e o Judiciário, algo que Bolsonaro, por mais que tentasse, não conseguiu.

Difícil que, mesmo em um discurso de improviso, Lula não soubesse que comparar o massacre dos judeus pela Alemanha nazista com o massacre dos palestinos pelo governo israelense provocaria um turbilhão de ataques, tendo-o como alvo.

Lula não errou na sua fala sobre a guerra na Ucrânia. Indiretamente, o papa Francisco deu-lhe razão ao sugerir que, à beira da derrota, a Ucrânia faça um acordo com a Rússia para evitar que seu povo continue morrendo.

Lula não errou ao censurar o comportamento de Israel em Gaza. Taxou o grupo Hamas de terrorista, mas apontou o extermínio dos palestinos, um povo à espera de terras desde que as suas foram tomadas para a fundação de Israel.

Enfim, os líderes dos Estados Unidos e da Europa abriram os olhos para o holocausto dos palestinos. Sim, holocausto, porque a palavra, escrita em latim, foi usada pela primeira vez por um monge no século XII para designar grandes massacres.

E por séculos continuou a ser usada. Só a partir de 1960 o termo passou a ser empregado para designar apenas o massacre dos judeus. A minissérie de televisão Holocausto ajudou a popularizar o termo após 1978.

Quantos milhões de russos não foram mortos a mando do ditador Josef Stalin, que governou a União Soviética de meados de 1920 até sua morte, em março de 1953? E quantos chineses não foram mortos sob a ditadura de Mao Tsé-Tung?

Lula pediu outra vez para apanhar ao dizer, ontem, em entrevista ao jornal do SBT (Sílvio Brincando de fazer Televisão), que não se preocupa com a polarização política no Brasil e que pretende tirar vantagem dela:

“Eu não me preocupo porque o Brasil foi polarizado entre PSDB e PT durante muito tempo. Foi assim em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006. Agora, o Brasil está polarizado entre duas pessoas. Não são nem dois partidos, porque o meu existe e o partido deles não existe. É uma legenda eleitoral. A polarização é boa se a gente souber trabalhar os neutros para que a gente possa criar maioria e governar o Brasil”.

Os neutros não devem ter gostado do que ouviram – tratados como massa de manobra. Os que votaram em Lula para se livrar de Bolsonaro não devem ter gostado. Será Lula partidário do “falem mal, mas falem de mim”?

Às vezes funciona, às vezes não. E Lula, como ele mesmo reconhece, não está no seu melhor momento. A sua, e a aprovação do governo, está em queda, mesmo no Nordeste, mesmo entre as mulheres, suportes de sua vitória em 2022.

Há exatos 20 anos, o Lula 1 estava sendo sufocado por uma avalanche de críticas porque o desemprego crescia e havia estourado o escândalo de corrupção envolvendo um ex-assessor de José Dirceu, chefe da Casa Civil da Presidência.

No ano seguinte, veio à tona o escândalo do Mensalão do PT – a compra de votos no Congresso para aprovar projetos do governo. Então, deu-se Lula como derrotado em 2016. Ele se reelegeu com folga. Mas a História nem sempre se repete.


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