18/05/2024 - Edição 540

Poder

Com recursos triplicados por Bolsonaro, militares têm verba até para botox

Publicado em 20/04/2022 12:00 -

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Além de 35 mil comprimidos de Viagra e 60 próteses penianas, os militares sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) têm recursos até para aquisição de botox. Tanto que reservaram R$ 546 mil para a aquisição de 50 frascos da camada toxina botilínica no ano passado. A substância é usada principalmente em procedimentos estéticos para rejuvenescimento. Isso porque, entre outras propriedades, diminui rugas e marcas de expressão.

O Hospital das Forças Armadas (HFA), que atende Jair Bolsonaro em casos de urgência em Brasília, estimou que precisaria de 50 frascos da toxina em 2021 – o equivalente a 5 mil aplicações, já que há 100 doses em cada frasco. É o que revelou hoje (13) o Metrópoles com base em dados do painel de compras do governo.

A previsão da necessidade de botox pelo HFA tem crescido rapidamente em pouco tempo. Em 2018, foram comprados seis frascos. No ano seguinte, 15 e mais seis 6, em 2020. O hospital é subordinado diretamente ao Ministério da Defesa, mas o Exército, a Marinha e a Aeronáutica também têm seus hospitais próprios.

A aplicação de botox com fins estéticos para o rejuvenescimento é a mais usada no país, tanto por homens quanto por mulheres. Ela atua paralisando músculos faciais, ao ser injetada, por meio de uma agulha muito fina, suavizando rugas e vincos. Mas o Exército nega que o botox teria essa finalidade, já que é comprovadamente eficaz em tratamentos diversos, incluindo algumas doenças oftalmológicas, bruxismo, espasmos musculares e outros.

Em nota, o Exército afirma que a substância, em seus pacientes, “é administrada para algumas patologias neurológicas como distonia, doença de parkinson, espasmo miofacial, espasticidade, enxaqueca crônica e neralgia do trigêmeo, além de queixas odontológicas como distúrbio da articulação temporomandibular”. E que “não realiza compras desse material para fins estéticos”.

Farra dos militares?

A escalada de compras de produtos considerados supérfluos e incompatíveis com a atividade militar é facilitada pelo aumento de recursos para as Forças Armadas constatado em estudo da Comissão de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS), divulgado em fevereiro.

Em 2019, o valor anual de verbas do SUS direcionadas à saúde dos militares foi de R$ 350 milhões. Em 2021, chegou a R$ 355 milhões, quebrando novamente o recorde da série histórica, iniciada em 2013 a 2021. O governo Bolsonaro dedicou, em média, R$ 325 milhões por ano ao Ministério da Defesa.

Durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), a média anual do uso de recursos do SUS pelos militares era de R$ 88 milhões, considerando o período analisado, de 2013 a 2015. Sob o comando de Michel Temer (MDB), o valor já havia dado um salto, com média de R$ 245,5 milhões anuais.

O Conselho Nacional de Saúde está elaborando uma recomendação aos órgãos de controle e ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que fiscalizem os repasses da saúde ao Ministério da Defesa e às Forças Armadas.

Uso de recursos do SUS pelos militares disparou com Bolsonaro

O uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Ministério da Defesa bateu recorde no governo do presidente Jair Bolsonaro. As informações constam em documento divulgado pela Comissão de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS) em fevereiro deste ano.

Em 2019, o valor anual de verbas do SUS direcionadas à saúde dos militares foi a R$ 350 milhões. Dois ano depois, em 2021, a cifra chegou a R$ 355 milhões, quebrando novamente o recorde da série histórica, de 2013 a 2021. O governo Bolsonaro dedicou, em média, R$ 325 milhões por ano ao Ministério da Defesa.

Na gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), a média anual do uso de recursos do SUS pelos militares era de R$ 88 milhões, considerando o período analisado, de 2013 a 2015. Sob o comando de Michel Temer (MDB), o valor já havia dado um salto, com média de R$ 245,5 milhões anuais.

O levantamento foi divulgado em uma publicação sobre a evolução dos gastos federais do Sistema Único de Saúde, produzida pelo CNS, órgão que reúne representantes da sociedade civil e do poder público. Clique aqui e faça o download da íntegra do boletim.

O estudo foi produzido por dois consultores técnicos da Comissão de Orçamento e Financiamento do CNS, os economistas Francisco Funcia, vice-presidente na Associação Brasileira de Economia da Saúde, e Rodrigo Benevides, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ.

Os números levantados na plataforma SigaBrasil mostram o aumento de verbas do SUS para o Ministério da Defesa. O órgão fica atrás apenas do Ministério da Educação, que conta com uma rede de hospitais universitários pelo país. No mesmo período, no entanto, houve queda nas verbas recebidas pelo MEC.

Com a repercussão da compra de Viagra e próteses penianas pelo Ministério da Defesa, integrantes do CNS estão elaborando uma recomendação para que os órgãos de controle e o Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizem os repasses da saúde ao Ministério da Defesa e às Forças Armadas.

Compra de prótese peniana e Viagra mostra como Bolsonaro amoleceu militares

Nem bem os indícios de sobrepreço de até 143% na compra de milhares de comprimidos de Viagra pelas Forças Armadas deram uma baixada e já cresceu a informação de que o Exército adquiriu R$ 3,5 milhões em próteses penianas de 10 a 25 centímetros com recursos públicos.

Talvez se adolescentes pobres de escolas públicas e mulheres em situação de rua usassem farda, Bolsonaro não teria vetado, no ano passado, o projeto para garantir distribuição gratuita de absorventes a elas justificando falta de recursos. O país de Jair tem suas prioridades.

O deputado Elias Vaz (PSB-GO), que se especializou em cobrar informações do governo federal quanto aos gastos públicos, e o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) estão acionando o TCU e o MPF para saber por que o governo resolveu dar essa mãozinha a seus membros militares.

Da mesma forma, Vaz e o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) querem que os órgãos de controle investiguem os gastos com Viagra. Até porque, em ano eleitoral, sobrepreços têm a estranha mania de se transformarem em caixa 2, pingando em alguma campanha.

Forças Armadas são importantes para qualquer país, desde que saibam quem devem proteger. A sua potência está na capacidade de respeitar a Constituição Federal, não de obter benefícios em troca de ser usada para atender às necessidades de um governo de plantão.

Nos últimos três anos, Jair Bolsonaro conseguiu cooptar parte dos militares com cargos, vantagens na Reforma da Previdência, licitações de produtos de luxo para o oficialato. Cobrou, em troca, sujeição para degradar a democracia e cumplicidade enquanto garantia o vale-tudo ambiental na Amazônia.

Com isso, o chefe do Poder Executivo ajudou no rebranding das Forças Armadas. Com o capitão, a imagem transmitida pode ser uma cena de Pier Paolo Pasolini, com um comboio de veículos blindados, tossindo fumaça preta na Esplanada dos Ministérios, enquanto seus membros se beneficiam de Viagra e próteses penianas, camarão e filé mignon, pensões especiais para filhas não casadas e acesso a hospitais especiais.

Ou uma de David Cronemberg, com coronéis articulando bizarras reuniões em que se negocia com reverendos, servidores públicos e indicados de políticos, sobrepreço e propinas para a compra de doses de vacina contra a covid-19 enquanto pessoas morrem por falta de imunizante. Personagens não faltam uma vez que a CPI da Covid citou um rosário de coronéis, como Élcio Franco, Marcelo Blanco, Helcio Bruno…

Tanto que o presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou, no dia 7 de julho de 2021, que "membros do lado podre das Forças Armadas estão envolvidos com falcatrua dentro do governo" e que os honestos devem estar muito envergonhados. Mas o ministro da Defesa e a cúpula das Forças Armadas subiram nas tamancas, ameaçando o Senado Federal com uma nota pública.

Gastariam melhor o seu tempo depurando suas próprias fileiras. Pois há militares que, com sua ação e inação, foram cúmplices da montanha de mais de 660 mil mortes por covid fomentada por Bolsonaro, como o general Eduardo Pazuello. Aliás, o Exército não só fez a egípcia ao absolver Pazuello, que ignorou as regras da corporação ao participar de uma micareta eleitoral com o presidente no Rio de Janeiro, como deu um mau exemplo para o seu contingente.

Durante os últimos três anos, Bolsonaro foi jantando parte das Forças Armadas de olho na sobremesa: o alinhamento de grandes contingentes das forças policiais às suas necessidades e uma possível insubordinação deles em relação ao resultado das eleições.

Enquanto continuar devorando as instituições, o presidente vai dobrá-las em nome de seu projeto de poder. Os militares correm o risco, diante de tanta genuflexão, de não levantarem tão cedo. Nem com ajuda.


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