18/05/2024 - Edição 540

Poder

Carta de terrorista aponta Bolsonaro como o mentor da violência golpista

STF tem provas de que militares de várias patentes cometeram crimes no 8 de janeiro

Publicado em 16/02/2023 10:05 - Leonardo Sakamoto (UOL), Julinho Bittencourt (Fórum) – Edição Semana On

Divulgação

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Há momentos em que o óbvio precisa vir em confissão por escrito para que algumas pessoas entendam que pregar golpe gera golpismo e incitar violência produz mortes. Prova disso é a cartinha redigida pelo terrorista George Washington de Oliveira, que apontou Jair Bolsonaro como a grande inspiração para os seus atos.

Ele é um dos três responsáveis por plantar uma bomba em um caminhão de combustível a fim de tentar explodir o Aeroporto Internacional de Brasília no dia 24 de dezembro. Se Oliveira e seus comparsas fossem um pouco mais competentes em montar o artefato, que deu chabú na véspera de Natal, a explosão poderia ter matado milhares.

Não se sabe se o documento, descoberto pela perícia da Polícia Federal no telefone do terrorista e publicado originalmente pelo portal Metrópoles, foi enviado ao então presidente. Mas Oliveira escreve com todas as letras que Bolsonaro “despertou esse espírito em nós”.

Também destacou que o então presidente afirmou “em quase todos os seus pronunciamentos” que “o povo armado jamais será escravizado”, deixando claro que ele aprendeu a lição. E pediu autorização a Jair para que pudesse permanecer armado no acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília.

De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Robson Cândido, o objetivo de Oliveira era chamar atenção para a sua pauta ideológica, focada em evitar a posse do vencedor das eleições, ou seja, Lula. O criminoso tem registro de CAC (Colecionador. Atirador, Caçador) e contava com um arsenal de armas e munições – o que foi fomentado pelos decretos e discursos armamentistas de Bolsonaro.

Estamos colhendo agora o resultado de anos de cultivo de discursos violentos, golpistas, insanos e psicopatas do então presidente da República junto aos seus seguidores mais radicais. Para uma camada da população, houve fraude nas urnas em meio a um complô internacional que envolve bilionários pedófilos, fabricantes de vacinas chinesas, Fidel, Che, Marx, Lenin e, claro, o terrível Leonardo Di Caprio.

Bolsonaro sabendo do que uma parcela dos seus seguidores seria capaz, continuou alimentando o golpismo através de mensagens cifradas, discursos dúbios e silêncio cúmplice após perder a eleição. Queria tentar impedir a posse do petista e, se tudo desse errado, aumentar o custo de manda-lo à prisão.

Frustrados com o Exército por não ter cumprido a profecia de golpe militar, bolsonaristas foram às cabeças, em ações terroristas que queimaram ônibus e carros na capital federal, destruíram caminhões no Mato Grosso, atiraram em policiais no Pará, atacaram a sede da PF, invadiram, vandalizaram e pilharam o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF, plantaram bomba para explodir o aeroporto.

No dia 17 de maio, Bolsonaro havia dito que o uso de armas seria necessário para a garantia de preservação da democracia – sua visão violenta de democracia no caso. E deixou claro: “Não interessa os meios que um dia porventura tenhamos que usar”.

Vamos de novo: “Não interessa os meios que um dia porventura tenhamos que usar”.

Jair vai dizer que não pediu a ninguém para plantar uma bomba perto do aeroporto. Ou matar adversários, como fez, por exemplo, o bolsonarista Jorge Guaranho, ao invadir a festa do petista Marcelo Arruda e executá-lo, em Foz do Iguaçu, por ódio político das eleições.

Mas, convenhamos: ele os treinou tão bem, deixou tão claro a mensagem de que era necessário “metralhar a petralhada”, que nem precisava.

STF tem provas de que militares cometeram crimes

Há provas suficientes de crimes cometidos por militares de diferentes patentes no 8 de janeiro, em pelo menos dois momentos, de acordo com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em um dos casos, militares proibiram a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) de desmontar o acampamento golpista. Alguns, de patentes mais altas, teriam permitido que o espaço servisse para a formação de uma célula terrorista onde foi planejado e de onde partiram os ataques aos Três Poderes naquele domingo.

A proibição ocorreu também na noite do 8 de janeiro, por parte do Comando Militar do Planalto (general Gustavo Dutra de Menezes) e do Comando do Exército (general Júlio Arruda). Os dois afirmaram ao interventor Ricardo Cappelli que não permitiriam a remoção.

O comandante do Exército, de acordo com informações da coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, chegou a ter feito ameaças. Ele disse para o então comandante da Polícia Militar, coronel Fábio Augusto Vieira, que a tropa sob seu comando era maior do que a da PMDF.

O coronel Jorge Eduardo Naime afirmou após ser preso, que era o comandante de Operações da PM do DF. Ele disse também que havia sido proibido de desmontar o acampamento em dezembro, ainda no governo Bolsonaro, quando o Exército era comandado por Marco Antônio Freire Gomes.

Outra comprovação de conivência e omissão proposital se deu já nos ataques propriamente ditos. Vídeos mostram que a Guarda Presidencial do Palácio do Planalto, formada por militares do Exército, não fizeram nada e deixaram o palácio ser destruído.

Vídeos e relatos de servidores do Planalto mostram que os militares da Guarda Presidencial queriam deixar os golpistas saírem do palácio sem ser presos.


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