18/05/2024 - Edição 540

Poder

As próximas eleições serão sobre a democracia

Publicado em 22/04/2022 12:00 -

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O perdão concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) passa a seguinte mensagem para os seus seguidores mais radicais: podem atacar a Justiça, o Congresso, os opositores do presidente, a democracia, que vocês não serão presos.

Caso Bolsonaro seja derrotado em outubro, sua turma mais exaltada poderá tentar invadir os prédios do Tribunal Superior Eleitoral, do Supremo e do Congresso, segura que de imediato, ou em dezembro, será perdoada por um indulto presidencial.

Em 2018, depois de eleito, Bolsonaro disse que o país deveria dormir descansado porque ele jamais concederia indulto a criminosos Silveira foi julgado e condenado. O presidente que retardou a compra de vacinas indultou-o 24 horas depois.

As eleições deste ano serão sobre a democracia, nada mais do que isso; se desejamos mantê-la ou se não ligamos para seu destino. Se quisermos mantê-la, Bolsonaro terá que ser derrotado, não interessa por quem. Por qualquer candidato que possa derrotá-lo.

Não se enganem com os que dizem que nossas instituições são sólidas e que saberão reagir às ameaças. Do fim da ditadura para cá, elas nunca passaram pelo teste de conviver com um presidente golpista fortemente apoiado pelas Forças Armadas.

Um presidente que não se envergonha de dizer abertamente ser a favor da ditadura e da tortura aplicada aos que se opuserem ao regime. E que apenas lamenta que a ditadura militar de 64 não tenha matado e flagelado um maior número de pessoas.

Um presidente que defende armas para quem as queira, a pretexto de que assim o povo jamais será escravo do Estado. Sua primeira fala nesse sentido foi em meados de 2019 dentro de um quartel do Exército na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Jairzinho Paz & Amor veio à luz depois do fracasso do golpe ensaiado em 7 de setembro. Tinha prazo de validade curto, como se previu. Foi sepultado ontem. Deu lugar ao único Jair que existe e que na melhor das hipóteses só será morto se não se reeleger.

Aos que ainda duvidam disso, esperem para ver.

Bolsonaro é o maior inimigo da democracia brasileira

O Brasil vai suportar os sucessivos ataques de Jair Bolsonaro ao processo eleitoral, ao STF, às instituições? E as ameaças de usar as Forças Armadas em um golpe de Estado?

A estratégia bolsonarista é de confrontar sistematicamente as instituições e os atores responsáveis pelo cumprimento da Constituição. Não vai diminuir a intensidade das agressões. Pelo contrário, a tendência é de que, conforme for se aproximando das eleições, Bolsonaro —sabedor da sua derrota— irá tentar romper os limites legais. Em outras palavras, vai apostar em um golpe militar. Pelo cenário atual, vai fracassar. Mas qual será o custo de tal aventura para o país?

Houve uma naturalização —até compreensível pelo estágio político que vive o Brasil— das afrontas de Bolsonaro à democracia. Com o passar do tempo e pela falta de reação, passaram a ser consideradas uma forma de fazer política, como se o extremismo fosse apenas uma das facetas da democracia.

O rebaixamento do debate político e a falta de lideranças —lideranças de fato— acabou transformando Jair Bolsonaro em um protagonista que decide os destinos de uma das maiores economias do mundo. Um personagem como ele seria inimaginável em um processo eleitoral como o de 1989, a não ser como uma figura folclórica, um Antonio Pedreira ou o pastor Armando Correa.

Com a deterioração da economia e um turbulento cenário internacional, teremos um segundo semestre muito tenso. É o cenário que agrada a Jair Bolsonaro. Vai aumentar as declarações políticas ambíguas que poderão ser compreendidas como de apoio a um golpe militar. Para isso já está construindo um roteiro. O primeiro passo é a presença do general Braga Netto como candidato a vice-presidente. Sinaliza para os incautos que tem o Exército como parceiro político. Ou seja, quer transformar uma instituição permanente de Estado em instrumento de um governo —mais ainda, um instrumento eleitoral.

O Brasil vai ser inundado de fake news. Os nazifascistas bolsonaristas vão edificar uma realidade paralela. Milhões vão acreditar que o comunismo está às portas, que Bolsonaro fez um excelente governo, que ele é um emissário de Deus— como uma Santíssima Trindade dos trópicos: em nome do Pai, do filho e do Bolsonaro. O Brasil vai revelar a sua mais cruel faceta.

Caminhamos para uma campanha eleitoral mais que encarniçada, sangrenta. Bolsonaro preparou a tragédia com eficiência— para isso ele serve. Trouxe as Forças Armadas novamente para o primeiro plano da cena política, quebrou a cadeia de comando das polícias militares, armou dezenas de milhares de fanáticos, comprou apoio de rádios e televisões, organizou uma estrutura de fake news —via Gabinete do Ódio— que irá produzir um clima de ódio, de verdadeira guerra civil. Quem viver, verá.

‘Os demônios se liberaram’

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, afirmou no último dia 10 que, apesar de vivermos um momento em que “em que todos os demônios se liberaram”, é “preciso não supervalorizar o inimigo”. A declaração foi dada em um painel do Brazil Conference, em Boston, nos Estados Unidos.

“Saíram à luz do dia os homofóbicos, os misóginos, os racistas. É preciso enfrentá-los, mas sem a sensação de que nós perdemos”, disse o magistrado. A” causa das mulheres, a causa do meio ambiente, a causa da igualdade racial, a causa da proteção indígenas não são causas progressistas, essas são causas da humanidade”.

No evento, Barroso, mesmo sem citar o presidente Jair Bolsonaro, declarou ainda que “as instituições têm sido capazes de resistir, não sem sequelas”.

“Eu não gostaria de ter uma narrativa que está tudo desmoronando”, afirmou. “É preciso ter uma compreensão crítica de que há coisas ruins acontecendo, mas é preciso não supervalorizar o inimigo. Nós somos muito poderosos”.

No discurso, o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral citou os ataques feitos às urnas eletrônicas e a ele próprio pelos aliados do ex-capitão.

“No Brasil, houve e continua a haver ataques infundados à honestidade, à integridade do processo eleitoral, em que nunca se verificou fraude”, ressaltou. “E neste momento se está articulando, novamente, os mesmos ataques. Isso não é normal. A mentira não é uma outra versão da história. A mentira é só uma mentira”.


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