08/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

O urro conservador

Publicado em 12/05/2016 12:00 -

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Nos últimos anos fui um crítico feroz dos governos Lula e Dilma. Por sua aposta em um governismo que atraiu para a sua órbita o que havia de pior nas oligarquias, pelas políticas assistencialistas que se esgotaram em si próprias, pela aposta no consumo ao invés do protagonismo cidadão, pela cooptação destruidora dos movimentos sociais, por sua covardia em junho de 2013, por seu envolvimento com a corrupção sistemática que rege a República.

Fui um crítico insistente do PT, não por ele ter sido pior do que os demais partidos que se engalfinham pelo poder, mas por ele ter desdenhado da chance de ter sido diferente. Em troca da governabilidade, o PT se igualou aos que sempre criticou, os mesmos que estiveram ao seu lado por todos estes anos e, agora, abordam a Presidência como se trouxessem novos ares ao clima viciado dos corredores de Brasília.

Não são novos ares. Trata-se do mesmo miasma contaminado. As mesmas carrancas de sempre sorriem para as câmeras, escancaram discursos para os microfones de uma mídia mafiosa. Não há novidades, não há rupturas, apenas a continuidade de um processo espúrio que transformou o Brasil em piada internacional.

O que nos resta é resistir com unhas e dentes ao fortalecimento de um conservadorismo predatório que avançará sobre nós ao som das panelas, vestido de verde e amarelo, legitimado pelo analfabetismo político e pelo senso comum.

O PT não representa a esquerda. O PT não é a “ameaça comunista” – como urram os imbecis -, o PT não criou a corrupção. O PT, na verdade, errou por não ter feito a necessária ruptura, por não ter desatado os nós, por não ter sido o que disse que era, por não ter aproveitado a rara janela de oportunidade que a legitimação popular possibilita. Errou ao deixar de lado as bandeiras mais caras à esquerda em prol de um populismo que, hoje, é apontado como o que a esquerda representa de fato na América Latina.

Viver uma época em que as políticas de esquerda se resumem ao populismo lulista e ao atraso chavista é triste para quem imagina um mundo mais justo. Por isso, hoje, não lamento a queda deste governo. Ela é a consequência de uma série de erros históricos.

Mas, não há nada a comemorar.

Aos que sonham um país plural, o que resta é combater com coragem o fundamentalismo religioso, a política de massacre físico e cultural das minorias, a lógica da segregação, os que pretendem impor à totalidade da sociedade valores morais que deveriam estar restritos ao ambiente privado.

O que nos resta é resistir com unhas e dentes ao fortalecimento de um conservadorismo predatório que avançará sobre nós ao som das panelas, vestido de verde e amarelo, legitimado pelo analfabetismo político e pelo senso comum.


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