09/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

O coro dos ignaros

Publicado em 20/05/2016 12:00 -

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A revista Semana On trouxe nesta edição uma reportagem sobre os primeiros passos do Governo Temer, passos que marcam uma guinada conservadora e autoritária, especialmente no que se refere as garantias constitucionais na saúde e educação, aos movimentos sociais, direitos trabalhistas e lutas das minorias.

O que dizer de um governo que afirma que o acesso à saúde pública não é um direito universal e prevê o enfraquecimento do SUS em detrimento dos planos de saúde? Que chega cancelando a construção de 11.250 casas do programa Minha Casa Minha Vida? Que anuncia cortes em programas importantes como o Bolsa Família? Que pretende cobrar mensalidades nas universidades públicas? Que quer aumentar o tempo de contribuição para o INSS e a idade mínima para a aposentadoria? Que se refere aos movimentos sociais como guerrilha? Que já se prepara para uma flexibilização da CLT e defende a terceirização do emprego? Como classificar um governo que em menos de uma semana alastra estas barbaridades como se fossem panaceias para a crise?

Para nós, trata-se de um governo pernicioso ao país. E isso não significa, em hipótese alguma, que estejamos defendendo o Governo Dilma, o PT, a corrupção. Ora, a crítica ao Governo Temer não é pré-condicionada ao apoio ao Governo Dilma. O óbvio, no entanto, costuma ser subjugado pelo senso comum, especialmente quando ele é construído sobre bases autoritárias, sobre aquele sentimento de pertencimento a que a turba e os imbecis se agarram dando solo aos totalitarismos de esquerda e direita história afora.

O maniqueísmo imbecilizante que dá a esta turma ignara a sensação de unidade típica dos fascismos mostra sua face nas expressões mais histriônicas que o senso comum oferece a quem não se permite o debate.

A reação à reportagem, ironicamente, refletiu o que o nosso entrevistado da edição – o filósofo Ricardo Timm – quis expor ao afirmar: "Uma característica do fascismo é a ojeriza ao questionamento, pavor ao pensamento, e, por extensão, à cultura em geral. Goebbels disse: ‘quando ouço falar em cultura, levo a mão ao coldre do meu revólver’. O fascista típico não argumenta, ele rosna, emite onomatopeias, cacareja lugares-comuns, mas não processa dados cognitivos.".

Basta uma rápida olhada nos comentários feitos na postagem da reportagem de capa e da entrevista de Timm no Facebook para compreendermos exatamente de onde vem esta onda reacionária que divide o mundo entre nós e eles, bons e maus, são paulinos e corintianos… O maniqueísmo imbecilizante – que dá a esta turma ignara a sensação de unidade típica dos fascismos – mostra sua face nas expressões mais histriônicas que o senso comum oferece a quem não se permite o debate. “Sinto-me parte de um todo, empodero-me no bater de panela, descarto tudo que não faça eco à matilha que me cerca”.

Me dei ao trabalho de ler cada uma das postagens de uma gente muito indignada com a corrupção do “governo do PT”, mas também com qualquer crítica ao “governo Temer”. Apontar as ameaças ao SUS, ou os corruptos que compõe o novo ministério é, para este pessoal, “ser petista, vagabundo, ladrão e safado”…

Revistinha porcaria se não ajuda não atrapalha, para de descrever merda e deixa o presidente espremer esse país sim, vcs querem o que que ele faça milagre depois desse desgoverno fez, tem que reduzir tudo e todos”, cacareja uma leitora (?), que exibe em seu perfil uma foto do salvador da pátria, o juiz federal – e orgulho de Curitiba – Sérgio Moro; "Chora Cambada", vocifera um cidadão que aparentemente não dicerne mão de contramão; “Revista provavelmente patrocinada pelo PT”, regurgita um adevogado; “Fora PT, fora Lula, Fora Dima…”, rosnam os imbecis, incapazes de compreender que o mundo não é uma arquibancada.

É este o conteúdo básico de boa parte dos comentários na Fanpage da Semana On no Facebook, neste sábado (21). Um ódio tão insano que temi pela saúde física e mental de alguns. Vai que este pessoal surta, tem um piripaque e vai parar no Posto de Saúde após ler uma de nossas matérias. Não… pera… Não vai ter SUS para atendê-los!


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