27/04/2024 - Edição 540

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Israel reclama que ONU tolheu seu ‘direito’ de cometer genocídio em Gaza

Resolução de cessar-fogo não pode ser vazia como os prato de comida na região

Publicado em 26/03/2024 10:39 - Leonardo Sakamoto - UOL

Divulgação Reprodução

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O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução demandando cessar-fogo imediato em Gaza após cinco meses de fracassos. Essa foi a parte fácil. A difícil vai ser forçar o governo Benjamin Netanyahu a cumpri-la. Até porque sua permanência no poder agora depende da guerra, não da paz.

Após ter protagonizado um dos maiores fiascos da história de Israel, falhando em prever o ataque terrorista do Hamas, que matou mais de 1,1 mil pessoas e fez duas centenas de reféns, Netanyahu adotou uma política de limpeza étnica sobre Gaza. Aposta que se derramar sangue palestino o suficiente, conquistará popularidade o suficiente para ficar. E chama de racista qualquer sensato que critique o Hamas, mas também as mortes de palestinos – que já passam de 32,3 mil.

Antes da guerra, a trajetória de incompetência, corrupção e intervenção antidemocrática na Suprema Corte (parece com alguém que a gente conhece?) já tornava Netanyahu um primeiro-ministro polêmico. Diante de sua incapacidade de resgatar os reféns, tornou-se um fardo. Que só não cai porque há um conflito em curso.

Que seu governo ficará para a história como criminoso de guerra, isso é fato. A questão é se passará também como genocida. No começo da retaliação, as Forças de Defesa de Israel ordenaram que os palestinos fossem para Rafah ao sul, onde estariam salvos. Agora, planeja um grande ataque exatamente contra Rafah, que já vive uma catástrofe humanitária com um país refugiando-se em poucos quilômetros quadrados.

Caso Israel se negue a cumprir a demanda, punições podem ser aprovadas. O que inclui a proibição de fazer negócios com o país e suas empresas. Vale lembrar que o bolso é a parte que mais dói.

O embaixador de Israel na ONU disse ter ficado enojado com a decisão e chamou o texto de “vergonhoso”. Até aí, nada de novo. Os representantes de Netanyahu nas Nações Unidas costumam ser treinados para morder. Já teve até exigência para o secretário-geral António Guterres pedisse demissão – o que não foi levado a sério por absolutamente ninguém.

O que impressiona é o cinismo. Vergonhoso é um governo que conta com uma das melhores inteligências militares do mundo, se não a melhor, e é pego de calças curtas. Vergonhoso é fazer com que crianças morram de bomba, de tiro ou de fome e as que sobrevivem fiquem órfãs. Vergonhoso é atacar uma multidão que se reunia em torno de caminhões que levavam ajuda humanitária, gerando pânico e levando as que não morreram por bala terem sido pisoteadas e atropeladas.

Vergonhoso são os Estados Unidos terem optado pelo voto de abstenção só agora, após terem travado um sem-número de resoluções, não por consciência, mas pela necessidade de salvar votos democratas nas eleições de novembro. Aliás, Israel criticou a gestão Joe Biden por permitir a aprovação da resolução, chamando a decisão de “um recuo da consistente posição norte-americana desde o início da guerra”. Disse também que a abstenção “prejudica o esforço de guerra, bem como o esforço para libertar os reféns”. Sim, Netanyahu é um aliado ingrato.

Como já disse aqui um rosário de vezes, é óbvio que o que o Hamas fez foi inominável. Mas sobram palavras no vocabulário para descrever as atitudes do governo Benjamin Netanyahu, que parece menos preocupado em resolver o retorno dos reféns israelenses em segurança para casa (o que passaria pelo respeito a um cessar-fogo) do que se manter no poder através de uma campanha de destruição total para que todos esqueçam seu fracasso em prevenir o 7 de outubro.

Que o mundo, que falhou até agora com a dignidade humana, tenha coragem de aplicar sanções econômicas e políticas caso o governo de Netanyahu siga com a limpeza étnica. A resolução não pode ser vazia como um prato de comida em Gaza.


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