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Cultura e Entretenimento

Manoel de Barros ganhou Avenida Paulista com frases sobre o nada

Publicado em 18/04/2019 12:00 -

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“O que é bom para o lixo é bom para a poesia”. A frase acompanhada do rosto do poeta Manoel de Barros sorrindo travesso ocupou a frente do prédio do Itau Cultural, na Avenida Paulista, em São Paulo, entre 13 de fevereiro e 7 de abril. O poeta, senhor, menino, que engrandecia o desimportante foi o tema da 43 edição da ocupação cultural do prédio. Manoel pode até ser menos pop que o bloco afro da Bahia Ilê Aiyê, tema da ocupação anterior, mas atraiu milhares de leitores da sua obra e curiosos que tiveram ali o primeiro contato com o cuiabano, radicado em Campo Grande que escrevia sobre os “nadas”.

Durante os fins de semana, o movimento no prédio do Itau Cultural era intenso e a publicação impressa que acompanhava a exposição acabou logo nas primeiras semanas. Eram 1 mil exemplares que se esgotaram, mas pode ser acessado por aqui. A assessoria do órgão não soube informar quantas pessoas passaram pela exposição, mas garantiu que o movimento foi intenso no período.

“Lagarto, pedra, lata, porcaria. Nenhuma palavra, nem mesmo as mais desimportantes eram desprezadas”, diz trecho de introdução da exposição, que continua dizendo que Manoel Wenceslau Leite de Barros: “o poeta fez nascer termos e expressões que exaltaram a grandeza das coisas e dos seres – os humanos, inclusive – menos valorizados pela sociedade da máquina, do consumo e do descarte. Os andarilhos, os pobres-diabos, a própria poesia”. Ou seja, a obra de Manoel parece contrapor o lugar que a abriga, no centro financeiro paulista, sede das maiores e mais importantes empresas do país, mas ignoradas pelo poeta, que preferia o desimportante.

Aliás, o dinheiro de Manoel vinha da fazenda que herdou no Pantanal de Corumbá e que lhe permitiu ser poeta, ou “vagabundo profissional”, como preferia. Nascido em Cuiabá em 1916, ele chegou a morar no Rio de Janeiro, leu os clássicos da literatura, mas preferia os pequenos bichos e o isolamento do pantanal. “Sou por isso Proust e sapo ou vice-e-versa”. Estavam expostos os textos que Millôr Fernandes escreveu sobre o poeta; as cartas que Manoel trocou com figuras como o escritor Carlos Drummond de Andrade; rascunhos escritos a próprio punho; trechos de sua poesia e fotos da esposa Stela e de Bernardo, funcionário da fazenda que era seu alter ego. Dos 100 caderninhos que usou durante a vida, seis estavam na mostra em São Paulo.

Ao sair da exposição há três sentimentos: Manoel continua vivo nos versos; a ocupação era pequena para tantos registros; e o gosto de quero mais. Quem sabe a filha Martha Barros não concretiza uma promessa que fez quando o pai morreu em 2014, a de transformar a casa em que morou a última parte da vida em Campo Grande, na Rua Piratininga 363, em museu, como ocorre com vários outros ícones da literatura. “Ainda estamos iniciando um trabalho de levantamento de toda a obra do poeta, para poder organizá-la. Estamos pensando em criar uma casa de memória, mas o projeto não é para agora”, disse Martha em 2014.

Nome de uma avenida na capital de Mato Grosso do Sul, o poeta ganhou após sua morte uma estátua na principal avenida da cidade, a Afonso Pena, no cruzamento com a Rua Rui Barbosa, em que aparece sentado sorrindo num sofá, ao lado de um caramujo e de um passarinho, esperando os fãs se sentarem ao seu lado para fotos. Agora, os fãs ficam na torcida pelo museu.

Imagens

Trecho de entrevista de Martha Barros, artista visual e filha do poeta, para o Itaú Cultural em vídeo que integra o espaço expostivo da Ocupação:

Teaser da Ocupação Manoel de Barros

Trecho de gravações realizadas por Joel Pizzini com o escritor homenageado. O material, inédito e pertencente ao acervo do cineasta (crédito obrigatório), será divulgado no hotsite da Ocupação Manoel de Barros:

Ocupação Manoel de Barros (2019) – vídeo 1/4

Ocupação Manoel de Barros (2019) – vídeo 2/4

Ocupação Manoel de Barros (2019) – vídeo 3/4

Ocupação Manoel de Barros (2019) – vídeo 4/4


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