12/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Wandinha Addams e a sátira do preconceito

Sombrios, a tristeza era sua felicidade, a dor era sua alegria

Publicado em 02/12/2022 11:41 - Fernando Fenero

Divulgação Reprodução

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A série Wandinha chegou a Netflix recentemente com nomes importantes como Cristina Ricci (a Wandinha dos anos 90) e Tim Burton como diretor, e a série discute uma série de problemas sociais para irritação do nerdola incel padrão da internet, que prova mais uma vez desconhecer completamente o produto que está consumindo.

Família Addams foi criada em 1938 por Charles Addams em forma de tirinhas de jornais, e era uma clara provocação aos valores da sociedade americana da época como religião, família, tradições e fortuna. Os Addams eram sombrios, a tristeza era sua felicidade, a dor era sua alegria.

Isso fica ainda mais engraçado quando o clã do patriarca Gomez é fortemente inspirado em famílias latinas que haviam ascendido socialmente por sua força de trabalho principalmente na construção civil. Para o americano comum que convivia com esses imigrantes e novos ricos, era assustador. Ao invés do sério Dia de Finados, os latinos comemoravam o alegre “Dia de los Muertos” onde se pintavam de caveiras e falavam sobre a morte de parentes com imensa felicidade.

A paixão dos latinos era motivo de vergonha e constrangimento para o americano padrão, outra constante nas tirinhas com Gomez perseguindo Mortícia e trocando com ela palavras de amor em francês.

E sejamos francos, a sociedade americana mudou tanto assim se compararmos a década de 30?

Vinte minutos no Twitter vão mostrar que as críticas ao “Gomez Feio” da nova série da Netflix fazem parecer que o pensamento pouco evoluiu nesse quase um século.  Luis Guzmán realmente não é um homem bonito, mas um ator bastante competente com uma série de bons trabalhos, entre eles a série Narcos e a adaptação de Conde de Monte Cristo de 2002, mas além da qualidade do ator, é preciso destacar a semelhança com o personagem dos quadrinhos e da série animada.

Mais uma vez a “opinião” do nerdola irritado em seu quarto escuro iluminado pelos leds RGB de seu valioso computador gamer confronta a lógica, e falha em ser só mais uma vazão imbecil a seu preconceito.

E se é bizarro reclamarem da Wandinha e do Gomez latinos lá nos Estados Unidos, é ainda pior no Brasil, onde etnicamente somos semelhantes aos Addams e a crítica original provoca um raciocínio que deveria destacar o valor de nosso povo.

Wandinha já está disponível na Netflix em áudio original legendado e uma excelente dublagem, em seu elenco nomes como os já citados Tim Burton (diretor), Cristina Ricci (Professora Thornhill), Luis Guzmán (Gomez Addams), Catherine Zeta-Jones (Mortícia Addams) e Gwendoline Christie (Diretona Weems). A série é divertida, não tanto quanto os filmes dos anos 90, mas ainda sim uma adaptação bem feita, perfeita para ver com a família e a pipoca fica só para quem tem estômago forte.

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Fernando Fenero


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