12/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Quem deveria se importar com a Sininho?

Novo filme da Disney desperta ódio em quem não é público alvo

Publicado em 12/03/2023 11:06 - Fernando Fenero

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De tempos em tempos os clássicos são refeitos, as vezes como continuações, outras vezes contando a história desde o início. Faz todo sentido, já que tem toda uma geração que não conhece a história e vai poder curtir com novo visual, e atores já conhecidos.

Quando era moleque, a história do Peter Pan me foi apresentada por “Hook – A volta do Capitão Gancho”, com Dustin Hoffman como o vilão Capitão Gancho, Julia Roberts como Sininho e Robin Williams em um de seus melhores papeis como um envelhecido Peter Pan voltando a Terra do Nunca. O filme de 1991 continua ótimo, mas minha filha e as outras crianças merecem um Peter Pan só delas.

Como não sou só eu que penso assim, a Disney está para lançar “Peter Pan e Wendy” dia 28 de Abril, e o elenco está causando urticária em quem tem racismo como base de sua identidade.

Não se trata da escalação de Jude Law como Capitão Gancho, o incômodo também não está nos protagonistas do título, mas na fada que quem tem mais de trinta anos conhece como Sininho, mas que hoje em dia é conhecida como Tincker Bell, fenômeno que mudou também o nome do sapo Caco para Kermit, uniformizando o original.

O papel da fada ficou por conta da atriz Yara Shadidi, que trabalhou em algumas produções da Disney para TV como Black-Ish, e apesar de uma conduta perfeita em sua vida pessoal e profissional, agora enfrenta uma série de ataques que não existe outra forma de classificar que não sejam racistas.

A moça é boa atriz, é bonita, mas não é difícil ver nas redes sociais, e até mesmo nas dela, acusações de que ela não é o nome certo para o papel por ser feia e não tendo qualidade para interpretar a fada. Beleza é uma questão bastante subejetiva, mas nesse caso não consigo não acreditar que seja só o típico racismo onde condiciona a pessoa a considerar só aquilo que agrada sua visão eurocêntrica de mundo, mesmo tendo nascido em Campo Grande e sendo morador do Jockey Club.

Outra prova que as reclamações são só racismo exposto sem qualquer vergonha, é que o filme ainda será lançado na segunda quinzena de Abril, tudo que foi visto até agora da atriz no papel é ela sobrando seu pó mágico em um trailer, fragmento pequeno demais para qualquer filhote de Rubens Edwald Filho criar uma narrativa sobre a performance.

Por fim, o arremate fica por conta da personagem Tincker Bell (Sininho para os mais antigos), ela é uma fada da Terra do Nunca, que foi representada em um vestido verde com cabelos loiros. Na live action de 1991, a personagem foi interpretada pela ganhadora do Oscar Julia Roberts com orelhas pontudas e cabelo ruivo sem nenhum constrangimento de nenhuma parte.

É preciso lembrar que a Terra do Nunca, e que as fadas não existem.

Eu sei, não é todo mundo que vai lidar bem com essa informação, mas de fato, não tem como representar fielmente no audiovisual uma personagem que tem como origem um livro infantil de fantasia, e adaptação não é fazer igual, é transpor para um novo formato, de uma mídia para a outra.

O mais curioso nisso tudo, é que nenhuma criança vai reclamar da “nova Sininho”, ela simplesmente vai assistir ao trailer e ficar bastante inclinada a assistir o filme a ponto de perturbar a paciência dos pais para que levem até o cinema antes mesmo da estreia.

Mas uma série de pessoas com um perfil curiosamente parecido estão reclamando não só nas páginas de notícia e em seus grupos de ódio como também com a atriz, que só estava fazendo seu trampo numa boa. Caso encontre uma dessas pessoas, recomendo que lembre que o filme não é feito para adultos, e ele não deveria se ofender com isso caso não queria assumir publicamente sua posição como racista, e em caso de qualquer discussão mais prolongada, é caso para terapia para resolver as questões da criança interior da pessoa.

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Fernando Fenero


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