12/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Precisamos falar sobre o Discord

Na coluna dessa semana, convido responsáveis por jovens a discutir os perigos no mundo online e como evitar ser mais uma vítima

Publicado em 01/07/2023 10:56 - Fernando Fenero

Divulgação

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De tempos em tempos um novo grande mal aparece na internet, e boa parte da mídia noticia tudo sobre o assunto sem dominar o mínimo. Com isso, milhares de famílias são afetadas e atritos de gerações acontecem. De um lado, pais e responsáveis com medo de um objeto, programa ou jogo prejudicial, e do outro o jovem que sofre censura doméstica em uma das poucas atividades de lazer que lhe restaram.

Na coluna de hoje, pretendo usar a informação para evitar essas fissuras, e mostrar onde realmente existe perigo, e como pais e responsáveis podem evitar problemas.

O Fantástico, da Rede Globo de Televisão, tem feito matérias sobre alguns perigos da internet, e recentemente parecem ter descoberto o Discord, um programa\app que funciona em computadores, tablets, videogames e celulares que tem funções como salas de chat e videoconferência. O Discord foi criado em 2015, e ganhou força principalmente no nicho gamer, por ser uma boa solução multiplataforma para se comunicar. Os chats deixam o registro como um fórum, então a ferramenta permite uma boa comunicação com histórico, envio de imagens e pequenos vídeos.

O aplicativo tem recebido uma série de denúncias sobre armazenamento de material de pedofilia, e por permitir organização de grupos racistas, neonazistas, homofóbicos e outros com a função de cometer os mais diversos crimes.

O caso que mais chamou atenção foi a de um grupo criminoso formado por rapazes de vinte e poucos anos, que assediavam, chantageavam, e estupraram dezenas de vítimas usando o aplicativo. A notícia não mente, informa de forma correta e até mostra a brutalidade com que as vítimas eram tratadas, algumas delas com 13 anos de idade. Um dos criminosos exibia em vídeo SSD’s lotados com fotos e vídeos das vítimas, e compartilhou as imagens com seu grupo.

O problema de como a imprensa está tratando o assunto, é parar por aí.

O problema ocorreu no Discord, e segundo nossa lei, e entendimento do atual Ministro da Justiça Flávio Dino, a plataforma deve auxiliar as autoridades nas investigações, o que realmente está acontecendo. O advogado do Discord falou em entrevista que a maior parte das pessoas usa a ferramenta para bons fins, e não para o cometimento de crime.

Culpar a plataforma faz tanto sentido quando culpar o Google Chrome por permitir que pessoas entrem em sites de conteúdo ilegal, ou ainda culpar o Whatsapp ou Telegram por algum conteúdo ilegal.

Veja bem, qualquer pessoa pode cometer crime em uma rede social ou aplicativo, a plataforma não tem como “adivinhar” que isso vai acontecer, mas DEVE ter ferramentas para denúncia e remoção do conteúdo, assim como deve identificar o criminoso e oferecer isso para as autoridades.

O Telegram erra muito nisso, o Twitter também, assim como os aplicativos e serviços do grupo Meta (Instagram, Whatsapp e Facebook), e tudo isso vai continuar acontecendo enquanto nosso país não promover uma legislação específica para tratar esses assuntos. Países europeus já fizeram isso, e depois das graves ameaças a Democracia e Saúde Pública no Ocidente, é urgente que se resolva isso.

 

Mas como não vai acontecer como num passe de mágica, é preciso entender como esse tipo de crime acontece, como evitar, e como tratar no caso de descobrir uma vítima.

Os criminosos conseguem o que querem com uso de chantagem, e fazem isso com uso de fotos íntimas muitas vezes enviadas de forma consentida pela vítima no começo do contato. E o envio desses nudes, é uma questão geracional e até mesmo moderna, porque nem só adolescentes fazem sendo bem comum entre adultos. Não quero perder o foco fazendo juízo de valor com relação a prática, porque de qualquer forma, o crime está em chantagear a vítima com a divulgação das imagens.

Após constranger a vítima dessa forma, o criminoso continua perseguindo e obrigando a fazer novas imagens e a participar de outros ilícitos, e são coisas tão pesadas que não posso escrever na coluna.

Como evitar isso?

A missão é difícil para os responsáveis: manter diálogo sincero e honesto com os jovens pode evitar que sofram esse tipo de assédio, assim como conversar sobre os interesses e participar da vida do jovem também no mundo online.

Como pai, eu entendo a complexidade da tarefa, como permitir que o jovem se desenvolva sem ferir sua intimidade ao mesmo tempo que existe a tarefa de protege-lo desse mundo? Se seus filhos tem em você uma relação de confiança, você pode alertar sobre esses perigos e como agem os criminosos para evitar essas situações.

Se com as meninas o problema é quase sempre relacionado as imagens intimas delas, para os meninos a questão é diferente, muitos grupos criminosos ligados a extrema-direita usam o meio nerd-geek para procurar novos membros para suas fileiras. Em uma fase complicada como a adolescência, o discurso fascista costuma a ter aceitação tal qual aconteceu com a terceira idade brasileira contaminada por Kwai, TikTok e Telegram.

E caso reconheça alguma vítima de um desses grupos criminoso, busque ajuda com entidades e profissionais, como a Polícia Civil para registrar o caso e pedir investigação, levando prints, logs, fotos, vídeos e demais provas em um pendrive que vai ficar na delegacia, um advogado pode ajudar muito nessas horas, já que ao mesmo tempo que você deve denunciar, a vítima vai precisar de suporte. Reviver todas as situações em depoimentos vai certamente ferir ainda mais quem já está fragilizada, então buscar apoio com um psicólogo é fundamental, assim como considerar também atendimento médico especializado.

É muito importante que mesmo envergonhada, a vítima denuncie o crime. Esses criminosos agem de maneira perversa e sequencial, sem a interrupção por parte de alguma autoridade, eles podem fazer isso por décadas. E desses mesmos locais onde se faz a coação de vítimas de crimes sexuais, também se organizam atentados em escolas, morte de moradores de rua e tantos outros ilícitos.

Apoiar as soluções legais para redes também é importante, é a forma mais segura de identificar e punir os criminosos.

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Fernando Fenero


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