12/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Kamen Rider Black Sun e a crítica a sociedade japonesa

O remake do clássico Kamen Rider Black de 1987 é carregado de críticas sociais

Publicado em 15/12/2022 1:29 - Fernando Fenero

Divulgação

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Em 1988 a propriedade intelectual da TOEI de maior sucesso estava de aniversário, então foi decidido realizar algo especial. Com um enredo bastante dark para a época, e um visual arrebatador, o motoqueiro mascarado foi escolhido em um concurso com milhares de inscritos, onde Tetsuo Kurata foi escolhido mesmo não cantando absolutamente nada (e desta vez o protagonista cantaria a abertura da série) e não tendo nenhuma experiência anterior com atuação. Receita para o desastre… mas a série foi tão bem que é até hoje a única com sequência que manteve o protagonista (Kamen Rider Black RX).

E agora em 2022 Kamen Rider faz aniversário de novo, trinta e cinco anos do lançamento de Black Kamen Rider e a TOEI mais uma vez decidiu fazer algo especial, e conseguiu novamente mesmo que tenha muito fora da caixinha.

Black Sun ainda tem muitos elementos da série de 1987, mas não espere ver a mesma história. Aqui os Gorgon são uma organização que se transforma em partido político, sua criação remete a necessidade de criar políticas públicas de aceitação dos kaijins, monstros híbridos humanos-animais que vivem na sociedade japonesa.

Aqui é onde a crítica social começa a pegar com força, e onde a galera da direita já começa a sentir pinicadas na cadeira. Os kaijins aqui representam não só a xenofobia tão presente no Japão, como também as questões raciais e de aparência. Pode ser um choque cultural para o Brasileiro, mas fazer uma academia ou ir na piscina com tatuagens sobre o corpo é um problema no Japão, e as histórias de estrangeiros sendo agredidos não são tão raras.

E em uma segunda câmara, essa crítica também fala muito sobre as experiências do Japão na Segunda Guerra, onde fizeram barbaridades com chineses e soviéticos presos, se na ficção eles criaram monstros tentando desenvolver um super soldado, na realidade houve uma mistura de experimentos brutais, tortura e desumanidade crua, e é um evento bem pouco discutido quando se fala da história da Segunda Guerra Mundial.

A narrativa da série então se separa em dois momentos diferentes, um nos anos 70 onde os jovens Issamu (Kotaru) e Nobuhiko conhecem os Gorgom, e em 2022 quando os assuntos do passado finalmente vão ser resolvidos. Diferente dos tokusatsus comuns, aqui não vamos ter cores alegres, muita ação e uma mensagem bonita.

Se prepare para muita violência, gore e um sentimento contínuo de tristeza e melancolia, o que realmente a história quer comentar: sobre apatia e como o passado nos afeta.

Fãs da série antiga vão poder fisgar muitas referências, serão homenageados o tempo todo e se não encontrarem na diferença da narrativa um empecilho, vão poder aproveitar um filé da ficção científica japonesa. Para quem gosta de justificar nacionalismo e teorias malucas da extrema direita, a série promete uma indigestão daquelas.

Black Sun é protagonizado por Hidetoshi Nishijima, ganhador do Oscar em 2022 e um baita ator, e interpretação é algo que a gente não está acostumado quando se fala em Tokusatsu e o cara leva muito a sério seu papel. O diretor da série é Kazuya Shiraishi, que dá show de cinema no Japão não só dirigindo como escrevendo alguns de seus filmes, e em Black Sun ele tem como co-diretor o genial Hideaki Anno, que tem trabalhos Neo Genesis Evangelion e Shin Godzilla, então dá pra descartar completamente qualquer crítica quanto a qualidade do trabalho.

Kamen Rider Black Sun está disponível na Amazon Prime Video em dez episódios, todos legendados e mantendo os nomes da dublagem brasileira, e apesar da divulgação ser nula, está lá no top10 conteúdos da plataforma no Brasil.

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Fernando Fenero


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