12/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Guerra dos Streamings

Nunca fez tão pouco sentido uma guerra comercial promovida por fãs

Publicado em 22/09/2022 11:09 - Fernando Fenero

Divulgação

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“Game of Thrones, Casa do Dragão”, “The Witcher”, “Anéis do Poder”, “Roda do Tempo”, “Sombra a Ossos”… a fantasia nunca foi tão adaptada para o audiovisual, nem mesmo no boom anterior de produções do tipo após o sucesso de Conan nos anos 80 e seus milhares de clones maravilhosos tanta coisa maneira era lançada em pouco tempo.

E ainda temos a internet e seus meios não oficiais e o streaming, que permitem que você assista na hora que quiser, e quando puder. Parece bobo, mas houve uma época que a gente se organizava para assistir algo, e se fosse uma série que passava na cara e não acessível TV a cabo, não era incomum reunir na casa do amigo que tinha o serviço instalado.

Se tanta coisa boa está rolando, porque existe esse mal estar entre Fan bases?

Sério, é algo que não faz sentido, e vem diretamente da própria fanbase, os serviços e canais que produzem o conteúdo não estimulam isso, suas redes sociais mais brincam com a concorrência que de fato falam mal um do conteúdo do outro.

Mais recente a briga é quem faz mais sucesso: House of Dragon ou Anéis do Poder, e essa briguinha não faz sentido algum. A começar pelo básico, não dá pra comparar uma produção com a outra, em comum só o fato de ambas estarem no gênero fantasia, ainda que Tolkien tenha praticamente criado o conceito de alta fantasia ao misturar mitologias e que George R.R. Martin seja complexo demais para se classificar em subtipo.

Outra coisa, é que House of the Dragon é uma história anterior a Game of Thrones, uma experiência em TV de quase uma década de muito sucesso apesar do final amargo (ao invés do agridoce prometido), enquanto Anéis de Poder é mais uma experiência de adaptar para o formato episódico o conteúdo dos livros, o que não é uma missão das mais fáceis. Se uma série já tem uma base de fãs formada na última década, a outra tem a quase um século de vida se considerarmos o primeiro livro do universo criado pelo professor Tolkien.

E os argumentos para sustentar essa briga idiota?

“A Amazon gastou milhões na série que eu gosto”

“Tem sexo e sangue na minha série preferida”

O que pode ser bastante aceitável numa sexta feira de tarde dentro da sala com a turminha da quinta série B do colégio do seu bairro, acontece diariamente nas redes sociais.

E como a molecada de 11 anos, esses adultos revoltosos em seus sofás com seus dedos rápidos e sarcásticos, eles também não conseguem perceber que dá pra assistir tudo e curtir sem desgostar de um para gostar do outro. E por favor Joãozinho, eu sei que você levantou da sua cadeira para bater boca comigo sem que a Tia Magali de Português tenha visto, mas é sério: Você pode assistir Anéis do Poder e Casa do Dragão, e tudo bem… não tem problema de gostar de uma ou de outra.

Esses confrontos de fanbases tinham sentido lá no começo dos anos 90, e isso era porque lá havia uma escolha a se fazer, e escolher é perder (frase do Rafael Soares e não minha). Explicando melhor, se você era uma feliz criança dos anos 90, viveu as duas grandes guerras comerciais da época: Nintendo X SEGA (Console Wars) e Coca-Cola x PEPSI (Cola Wars). Videogame nunca foi barato, e comprando um, você abdicaria de jogar exclusivos do outro console. E nos anos 90 isso era muito mais sensível do que hoje em dia, era uma escolha difícil de se fazer, e sabendo disso, as indústrias dos videogames focaram todo seu marketing nesse sentido. A Cola Wars era menos problemática, no máximo uma refeição era feita sem seu refrigerante favorito.

Mas estamos em 2022.

Ano de Copa do Mundo, da queda do regime neofascista pentecostal do Bolsonaro e todo mundo tem incríveis níveis computacionais em seus celulares e sim, eu falo dessa forma muito antes do Toguro viralizar.

Não é mais uma escolha entre A e B, você pode ter os dois, curtir os dois. Se lá nos anos 90 já não fazia sentido ofender o amiguinho ou menosprezar o outro pela escolha, hoje em dia sem a obrigatoriedade de “escolher um lado” fica ainda mais fácil perceber o quão bobão é quem faz isso.

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Fernando Fenero


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