07/11/2024 - Edição 550

True Colors

Fala atribuída a Bolsonaro sobre uso de máscara ser ‘coisa de viado’ provoca debate

Publicado em 09/07/2020 12:00 - Huffpost

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Mesmo com o aumento de casos de covid-19 e dos mais de 65 mil mortos pela doença no País, o presidente Jair Bolsonaro debochava de métodos de proteção nos bastidores do Palácio do Planalto, chegando a constranger funcionários e classificando o uso de máscaras como “coisa de viado”.

As informações são da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo. Segundo a coluna, pessoas que estiveram com o presidente recentemente relataram momentos de tensão e disseram que Bolsonaro se recusa a usar máscaras em visitas feitas a ele, se aproxima dos visitantes e os cumprimenta com um aperto de mão, desrespeitando assim o distanciamento social. 

O presidente está sendo criticado pelo movimento LGBT por usar linguagem homofóbica para zombar do uso do equipamento de proteção. Nas redes sociais, a declaração atribuída ao presidente provocou debate sobre homofobia e padrões de masculinidade, além da hashtag #CoisadeViado.

Bolsonaro, que tem histórico de declarações consideradas discriminatórias contra a população LGBT, teria ainda dito a um dos visitantes que o “medo” que ele disse ter da contaminação era “besteira”. Comentários associando o uso de máscaras à sexualidade, em tom pejorativo, teriam sido feitos a funcionários. 

Bolsonaro, que já classificou a doença como uma “gripezinha” em pronunciamento em rede nacional, foi diagnosticado com novo coronavírus no úlltmo dia 7. O mandatário disse que sentiu dores no corpo, cansaço e febre de 38ºC, e que lhe foi receitada hidroxicloroquina com azitromicina.

A reação da comunidade LGBT e as discussões sobre homofobia

“Tem toda razão, presidente. Máscara é coisa de viado. De viado inteligente. De viado preocupado com segurança e a saúde do próximo. De viado que não acha que vai ser menos macho por seguir recomendações de saúde”, escreveu o jornalista Fernando Oliveira, no Twitter, ao criticar a fala do presidente.

Além de críticas, o debate sobre homofobia e padrões de masculinidade veio à tona nas redes sociais, mostrando o quanto cuidados com a saúde de modo geral e, também durante a pandemia, são vistos como “fragilidade”.

Pesquisa realizada pela Universidade de Middlesex, no Reino Unido, em parceria com o Instituto de Pesquisa em Ciências Matemáticas, nos Estados Unidos, mostra que mesmo que seja comum homens e mulheres deixarem de usar a proteção durante a crise, eles podem resistir mais ao uso do que elas.

Este comportamento masculino de não usar máscara, segundo os pesquisadores, estaria relacionado a uma postura mais ampla diante de questões de saúde. Homens são condicionados a serem durões e não sabem lidar com a fragilidade, medo ou preocupação diante de problemas de saúde – tanto sua, quanto dos outros -, o que explicaria a resistência ao uso.

Entre os líderes mundiais, não é apenas Bolsonaro que pensa dessa forma. Em maio, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou que não usaria máscaras de proteção em público por receio de “parecer ridículo” e que isso poderia passar uma “mensagem errada” para seus eleitores.  

‘Máscara é coisa de viado, sim’, protestam LGBTs

A fala do presidente também está sendo ressignificada na hashtag #coisadeviado. Nela, pessoas LGBTs estão publicando fotos usando máscaras de forma correta, seguindo orientações tanto do Ministério da Saúde, quanto da OMS (Organização Mundial da Saúde) para conter a crise sanitária.

A drag queen e Youtuber Lorelay Fox convocou mais “viadinhes” para compartilhar imagens usando máscara durante a pandemia: 

Em resposta à fala do presidente divulgada pela Folha, a organização Aliança Nacional LGBTI+ também lançou a campanha nas redes sociais batizada de “Usar máscara também é coisa de viado. Para proteger você e a todos”. 

Já a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), divulgou a campanha “Não é só coisa de viado… travesti também usa! Não faz a bobinha, use máscara!”

O uso de máscaras é medida importante durante a pandemia

A máscara é uma barreira física contra a contaminação. As mais eficazes são a cirúrgica ou a N95, mas como a prioridade de uso desses equipamentos é para profissionais de saúde, as pessoas comuns podem usar máscaras caseiras, de tecido. 

Elas devem ser usadas todas as vezes em que for preciso sair de casa. É necessário que a máscara tenha pelo menos duas camadas de pano, que cubra totalmente a boca e nariz e que esteja bem ajustada ao rosto, sem deixar espaços nas laterais. O uso é individual e deve-se evitar tocar nos olhos, nariz e boca.

O Ministério da Saúde publicou um vídeo em abril com orientações de como fazer a máscara de proteção caseira de forma segura, além de disponibilizar um link com protocolos de como manusear e limpar o acessório corretamente.

A recomendação da pasta é que a máscara pode ser usada até ficar úmida. Por isso, o ideal é ter uma limpa para usar a cada duas horas. Caso a pessoa espirre ou tussa, também é preciso trocar. Chegando em casa, lave as máscaras usadas com água sanitária. É preciso deixa de molho por cerca de 30 minutos. 

Em 3 de julho, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que obriga o uso de máscara no transporte público coletivo e privado (como aplicativos e táxis), mas vetou a obrigatoriedade no comércio, em escolas, igrejas e templos. É possível que o Congresso derrube o veto.

Apesar da decisão do presidente, em abril, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que as medidas do governo federal não interferem na competência dos estados e municípios. Isso significa que o cidadão deve seguir o que está determinado no local onde mora, especialmente se as regras forem mais rígidas.

Em uma carta aberta à OMS, 239 cientistas de 32 países citaram evidências de que o vírus permanece no ar em ambientes fechados, infectando as pessoas nas proximidades. De acordo com os pesquisadores, o SARS-CoV-2 é transmitido por partículas menores de saliva, que ficam no ar. Esse entendimento reforça a importância de usar máscara em locais fechados, como comércios e igrejas.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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