13/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Dead Cells, Castlevania e como o Capitalismo está matando os games

Sim, querer fazer dinheiro acima de tudo está destruindo lentamente o mercado de games

Publicado em 26/03/2023 9:07 - Fernando Fenero

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Dead Cells foi feito em 2018 pela Motion Twin, um roguelike no estilo metroidvania onde você passa correndo pelas fases\masmorras matando tudo que tem pelo caminho, criando um set de equipamentos e tentando sobreviver mesmo que sua morte seja impossível de evitar em um momento ou outro.
Desde então a empresa que tem toda uma filosofia de trabalho maneira pra caramba, tem lançado DLC’s do jeito que um conteúdo desse tem que ser oferecido, dando novas possibilidades que são acrescentadas ao jogo e um preço bem bacana.

Recentemente lançaram a DLC Return to the Castlevania, que permite ao jogador conhecer Alucard, Richter, Maria, Shanoa, a Morte e o próprio Drácula. O acréscimo é de na verdade três novas fases, três novos chefes (Medusa, Morte e Drácula) e uma série de novos equipamentos.

Considerando o precinho, e que os fãs de Castlevania estão sedentos por qualquer coisa desde o gosto amargo de Lord of Shadows, a DLC foi bem recepcionada tanto pelos fãs de Dead Cells quanto também pela galera que gosta de surrar o Drácula.

Mas se existe uma série de fãs querendo o jogo, se tem empresa fazendo dinheiro com isso como a Motion Twin fez… porque a Konami não dá atenção para sua propriedade intelectual e simplesmente abandonou Castlevania?

Simplificando bem a história, a culpa é do Capitalismo.

A Konami é uma empresa de capital aberto, que na década de 80 e 90 cresceu muito, precisando até burlar o esquema da Nintendo de segurar lançamentos pelo tanto que produziam. E apesar do volume, a qualidade era muito boa. Inegável que os Castlevanias eram ótimos desde seu lançamento no Nintendinho de 8 bits, e com eles jogos das Tartarugas Ninja, Contra e mais um tanto de coisa.

Até nos anos 90 e 2000 eles ainda faziam bonito até em esportes com Internacional Superstar Soccer Deluxe que evoluiu para Winning Eleven que viria se tornar PES (Pro Evolution Soccer) e que hoje em dia está respirando por aparelhos com nome de eFootball.

Se tudo isso deu e poderia dar tanta grana, por que diabos a Konami não faz mais nada?
Porque não vale a pena.

Na ponta do lápis, um jogo custa milhões para o risco de faturar ou não uma grana. Pega o exemplo da Sony, que abandonou completamente o desenvolvimento de Days Gone 2 para focar seus recursos na sequência de God of War. Ao invés de investir 200 milhões para faturar prováveis 400 na sequência do motoqueiro matador de zumbi, eles preferem investir 300 milhões no Cleiton fazedor de dinheiro, que o mercado responde vendendo até fevereiro de 2023 11 milhões de cópias.

Isso é bom para quem?

Para o executivo e o acionista, ambos vão colocar uma grana no bolso investindo menos.

Mas é ruim para todo o mercado.

O caso da Konami é ainda mais grave, porque a empresa investiu em abertura de academias e de casas de Pachinko, que é um caça níquel japonês. Jogos desse tipo são proibidos no Japão, não se pode apostar dinheiro, mas as casas de packinko vende as pequenas esferas de metais usadas para o jogo, e quem ganha e quiser trocar por dinheiro vai até uma loja ao lado que só trabalha com compra e venda de esferas.

Tapa na cara de quem acha que só brazuka é corrupto e que a sociedade japonesa é perfeita.

Como as academias e o pachinko fazem uma puta grana, os acionistas e executivos da Konami não querem arriscar nada nos games. Um triple A custa uma grana para ser feito, mas coloca uma centena de pessoas para trabalhar por anos, e quando as coisas não dão muito errado ele se paga e gera algum lucro. Até outro dia esse modelo era ótimo, um grande sucesso apagava o problema das vendas modestas de outros dez títulos, mas não dá pra competir com o pensamento do mercado financeiro.

Lateralmente isso fortalece o mercado de games independentes, onde eu insisto que está o espírito do “videogame de verdade”. Normalmente um grupo de malucos (isso quando não é só um doido) que trabalham por anos para colocar algo para ser vendido sem certeza de nada, a paixão suficiente para fazer o cara investir um baita tempo já que o importante é a satisfação de ver seu jogo sendo jogado e a grana é só consequência.

Então caros leitores, saibam no buraco que as grandes empresas de games estão se metendo, e se quiserem diversão honesta busquem na cena indie.

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Fernando Fenero


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