29/11/2023 - Edição 525

Conexão Brasília

Caso Celso Daniel na Globoplay: vale a pena assistir

Publicado em 21/02/2022 12:00 - Rafael Paredes

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“Toda vez que vai chegando perto de um ano eleitoral, o caso Celso Daniel volta à tona”. A afirmação é do então presidente Lula, em 2006. Desta vez não é diferente. O documentário foi produzido em 2017 e muitos estranharam porque só agora, em ano eleitoral, o grupo Globo resolveu exibir.

O temor entre alguns petistas era de que a grande reportagem enfatizasse os mitos referentes ao caso, mas o trabalho jornalístico acabou por dissipar falsos mistérios, coincidências enganosas e teorias da conspiração.

A frase que inicia este texto é do ex-presidente Lula, mas seu conteúdo foi também defendido pelo delegado Marcos Carneiro Lima durante as entrevistas. Para o policial, algum motivo há para se abordar mistérios artificiais e tentar lincá-los a um partido para prejudicá-lo. “E olha que eu não defendo nenhum partido”.

O documentário apresenta a versão da Polícia Civil de que a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002, foi um crime comum, urbano, um sequestro que deu errado. Por pressão dos irmãos do prefeito e do Ministério Público, o inquérito foi reaberto, a delegada foi escolhida pelo MP e por esses familiares e as novas investigações chegaram a mesma conclusão.

A produção aponta que as conclusões da Polícia Civil batem com a verdade dos fatos. Os sequestradores iriam abordar um outro empresário, sabiam a cor e a marca do carro deste empresário, mas ele mudou de carro naquela noite e então resolveram sequestrar o primeiro carro importado que cruzou a frente. O carro do prefeito.

As entrevistas mostram que a imprensa e especificamente a Rede Globo agiu mal em noticiar o sequestro imediatamente, não era usual em casos de sequestro, mas essa ação pode ter assustado os sequestradores e provocando o desfecho fatal.

Os mistérios da morte do prefeito foram desmontados um a um. Um deles foram as mortes misteriosas de sete pessoas ligadas ao caso. Em primeiro lugar essas pessoas não eram tão ligadas ao caso assim. Em segundo lugar essas pessoas morreram por questões particulares: acidente de trânsito, suicídio depois de uma separação traumática e rixas antigas. A troca de roupa do prefeito e sua cueca do avesso foram outras alucinações de alguns investigadores.

Na época, o crime de sequestro era uma epidemia em São Paulo, mas o Ministério Público, sempre ele, ignorou todas as evidências e formulou primeiro a sua verdade para depois investigar: crime de mando por esquema de corrupção em administração do PT.

No desenrolar das investigações, na cobertura jornalística séria, para duas equipes da Polícia Civil, para as duas ex-mulheres, para a filha, para amigos do ex-prefeito, Celso Daniel foi morto em um sequestro que deu errado. Para o MP, para dois irmãos torturados pela mágoa da distância com o irmão político e para a senadora tucana Mara Gabrilli, a culpa é do ex-segurança Sérgio Sombra e do PT.

O documentário é muito bem feito jornalisticamente, não traz dano nenhum ao PT, mas falas tiradas do contexto podem alimentar as máquinas de fakenews eleitorais.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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