30/04/2024 - Edição 540

Poder

O ministério da Lava Jato

Publicado em 23/11/2018 12:00 -

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O futuro ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro (PSL), o ex-juiz Sérgio Moro, começou a mostrar o desenho da sua nova pasta ao nomear para postos-chave delegados veteranos da Operação Lava Jato no Paraná.

"Eu seria um tolo se não aproveitasse pessoas que trabalharam comigo, especialmente no âmbito da Lava Jato, porque essas pessoas já provaram tanto a sua integridade quanto a sua eficiência", afirmou Moro.

Entre os nomes escolhidos por Moro – que atuou no âmbito da operação até o início de novembro – está o atual superintendente da Polícia Federal no Paraná, Maurício Valeixo, que será o novo diretor-geral de toda a corporação.

Há mais de 20 anos na PF, Valeixo coordenou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril e foi um dos responsáveis pela negociação da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, que ocorreu à revelia do Ministério Público e que teve sua divulgação autorizada por Moro durante a campanha eleitoral.

Moro já havia anunciado a nomeação de Rosalvo Franco Ferreira, antecessor de Valeixo na chefia da Polícia Federal no Paraná, e da delegada Erika Mialik Marena para compor sua equipe de transição no ministério. Ferreira comandou a PF no Paraná entre 2013 e o fim do ano passado, e nesse período esteve à frente da corporação em momentos cruciais da Lava Jato.

Já Marena foi a responsável por batizar a própria operação Lava Jato. Além de participar da equipe de transição, Marena também já foi escolhida para chefiar o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério, um órgão estratégico de cooperação com outros países, especialmente em casos que apuram lavagem de dinheiro.

No ano passado, a atuação de Marena à frente da Operação Ouvidos Moucos foi alvo de questionamentos e críticas. A operação foi marcada pela prisão do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Cancellier, que se suicidou pouco depois. Críticos apontaram que a operação cometeu abusos, mas uma sindicância da PF eximiu Marena. Atualmente, ela comanda a superintendência da PF no Sergipe.

Após a nomeação de Marena, Moro chegou a abordar o episódio envolvendo o reitor. "O que aconteceu em Florianópolis foi um infortúnio e um imprevisto no âmbito de uma investigação, a delegada não tem responsabilidade quanto a isso", disse.

Um terceiro indicado de Moro para a equipe de transição é Fabiano Bordignon, que chefia a PF em Foz do Iguaçu. Ele também é cotado para assumir o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). No Paraná, Bordignon também foi diretor por cerca de dois anos da penitenciária federal de Catanduvas.

Lavagem de dinheiro para asfixiar crime organizado

O Ministério da Justiça sob o comando de Sergio Moro terá como foco o combate ao crime de lavagem de dinheiro, com o objetivo de asfixiar as organizações criminosas.

Nos bastidores, o termo utilizado pela equipe montada pelo ex-juiz é "descapitalização", ação cujo alvo seriam as facções e também os envolvidos em corrupção.  

Nas reuniões fechadas do grupo de transição de governo, em Brasília, definiu-se que a prioridade da gestão de Moro será mirar o patrimônio dos criminosos, uma estratégia que deu certo na operação Lava Jato e deve ser aumentada e reproduzida na guerra contra traficantes, por exemplo. 

Não à toa, Moro escolheu para os mais importantes cargos ligados ao Ministério da Justiça pessoas com experiência nessa área de atuação.

"Ele [Valeixo] tem a missão de fortalecer a Polícia Federal e que a Polícia Federal possa direcionar suas investigações principalmente com foco em corrupção e crime organizado. É um grande desafio, são problemas sérios, mas ele é uma pessoa plenamente capacitada", afirmou o ex-juiz federal, em Brasília.

O futuro ministro elogiou Marena, afirmando que ela assumirá uma área estratégica da pasta que ele pretende fortalecer. "Não há ninguém melhor do que ela", disse. Segundo Moro, ela "talvez seja a maior especialista no Brasil em cooperação jurídica internacional".

Hoje, o DRCI tem problemas para conseguir resultados mais efetivos por causa da legislação vigente. O novo ministro deve se debruçar em propostas para alteração de leis que deem maior liberdade ao órgão, considerado chave para o combate ao crime de lavagem de dinheiro. 

Os dois nomes anunciados por Moro atuaram com ele na condução da Lava Jato. "Eu seria um tolo se não aproveitasse pessoas que trabalharam comigo, especialmente no âmbito da Lava Jato porque já provaram integridade e eficiência", disse.

O ex-juiz também foi questionado se levará o delegado Márcio Anselmo, um dos precursores da Lava Jato ao lado de Marena, para o governo Bolsonaro. "É um delegado de profunda qualidade, é possível, mas não tem nada definido ainda", respondeu.

Valeixo deve anunciar em breve também sua equipe. Entre cotados para fazer parte de cargos estratégicos estão Igor Romário, delegado de destaque da Lava Jato, Disney Rossetti, superintendente da PF de SP, Cairo Costa Duarte, superintendente de Pernambuco, e Roberval Ré Vicaldi, número dois na hierarquia da PF no Paraná atualmente. 

A EQUIPE DE MORO

Rosalvo Franco
O delegado atuou na PF por quase 33 anos e chefiou a superintendência do Paraná desde o início da Lava Jato até o ano passado, quando pediu aposentadoria

Maurício Valeixo
Será o novo diretor-geral da PF. É hoje superintendente da PF no PR, cargo que já ocupou de 2009 a 2011. Já o nº da hierarquia da polícia quando foi diretor de Combate ao Crime Organizado (2015-17)

Erika Marena
Comandará o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Trabalhou nas investigações do Banestado e da Lava Jato, ambas com participação de Moro. Recentemente, foi criticada na investigação de desvios de dinheiro na UFSC. O reitor da universidade se matou em um shopping após ser preso temporariamente


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