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ONU ordena saída de tropas israelenses de Gaza e Cisjordânia
Publicado em 19/09/2024 11:20 - Leonardo Sakamoto (UOL), James Mackenzie (Reuters ), DW – Edição Semana On
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Sabem por que o uso de pagers-bomba e walkie-talkies explosivos, como os que explodiram no Líbano, entre ontem e hoje, é uma aberração? Porque muitas famílias sabem que crianças não podem brincar com uma pistola, um fuzil ou uma granada, mas liberam despreocupadamente o pager ou walkie-talkie do pai ou do tio.
Se chegou até aqui no texto e pensou “dane-se, filho de terrorista merece morrer”, então saiba que você também é um risco à vida em sociedade.
Quem repudiou o uso de objetos civis como armas foi o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na quarta (18). Até agora, pelo menos 3.000 pessoas foram atingidas e 26 mortas – o grupo Hezbollah, alvo do ataque, confirma que oito eram seus membros.
Sim, explosivos atingem que está à sua volta. Num campo de batalha, entende-se o uso de granadas. Mas e quando a bomba é detonada em um mercado ou na rua?
A ONU teme tanto que isso leve a uma escalada da violência na região quanto a um entrave às negociações para que Israel interrompa os ataques à faixa de Gaza. O governo Benjamin Netanyahu não reconheceu, nem negou a autoria das explosões, o que é desnecessário. Esse é o padrão do atual governo, que vem eliminando adversários militares em ataques isolados no território iraniano, sírio e libanês.
As bombas de agora, contudo, reforçam que a tecla “foda-se” está apertada. Um governo que não se importa que objetos do cotidiano possam atingir pessoas que não são combatentes, como de fato aconteceu de acordo com os vídeos que circulam nas redes, mostra que não se importa diante de quem vive e quem morre, desde que atinja seu objetivo. Isso é puro suco de terrorismo.
Uma das crianças mortas com as explosões dos pagers, aliás, foi Fatima Jaafar Mahmoud Abdullah, com nove anos de idade.
Não é novidade porque essa é a realidade de Gaza. O ataque terrorista do Hamas, que matou mais de 1.100 pessoas em Israel em 7 de outubro do ano passado, foi respondido com um massacre generalizado. São mais de 41 mil mortos até agora, na qual os civis palestinos foram condenados à sede, à inanição, a doenças, bombardeados, atropelados, metralhados.
Se a vida de milhares crianças em Gaza não vale nada para o governo Netanyahu, por que valeriam as do Líbano?
Israel bombardeia Líbano após explosões de rádios
Israel bombardeou o sul do Líbano nesta quinta-feira (19) e disse que havia frustrado um plano de assassinato apoiado pelo Irã, um dia após as explosões de rádios do Hezbollah que vieram na sequência de explosões de pagers com armadilhas, colocando os inimigos em direção à guerra.
Israel afirma que seu conflito com o Hezbollah, assim como a guerra em Gaza contra o Hamas, faz parte de um confronto regional mais amplo com o Irã, que patrocina ambos os grupos, bem como movimentos armados na Síria, no Iêmen e no Iraque.
Nesta quinta-feira, as forças de segurança israelenses anunciaram que um empresário israelense foi preso no mês passado após participar de pelo menos duas reuniões no Irã, onde discutiu o assassinato do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do ministro da defesa ou do chefe da agência de espionagem Shin Bet. Na semana passada, a Shin Bet descobriu o que, segundo ela, era um plano do Hezbollah para assassinar o ex-ministro da Defesa Moshe Ya’alon.
Israel foi acusado de assassinatos, incluindo explosões em Teerã que mataram o líder do Hamas e em um subúrbio de Beirute que matou um comandante sênior do Hezbollah com poucas horas de diferença, em julho.
Apesar dos acontecimentos dos últimos dias, um porta-voz da missão de manutenção da paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no sul do Líbano disse que a situação ao longo da fronteira “não mudou muito em termos de troca de disparos entre as partes”.
“Houve uma intensificação na semana passada. Esta semana está mais ou menos na mesma. Ainda há troca de fogo. Ainda é preocupante, ainda é preocupante, e a retórica é alta”, afirmou o porta-voz, Andrea Tenenti, à Reuters.
Israel e o Hezbollah têm trocado disparos na fronteira entre Israel e Líbano, paralelamente à guerra que Israel tem travado em Gaza contra o Hamas, o grupo militante palestino cujos combatentes atacaram Israel em 7 de outubro.
Dezenas de milhares de pessoas tiveram que fugir da área de fronteira entre Israel e Líbano em ambos os lados. Netanyahu prometeu na quarta-feira devolver os israelenses retirados “com segurança para suas casas”.
Durante a noite, jatos e artilharia israelenses atingiram vários alvos no sul do Líbano, informaram os militares de Israel.
Os militares disseram que os ataques aéreos atingiram alvos do Hezbollah em Chihine, Tayibe, Blida, Meiss El Jabal, Aitaroun e Kfarkela no sul do Líbano, além de uma instalação de armazenamento de armas do Hezbollah na região de Khiam.
A mídia israelense informou que vários civis israelenses foram feridos por mísseis antitanque disparados do Líbano, mas não houve confirmação oficial.
ONU ordena saída de tropas israelenses de Gaza e Cisjordânia
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou na quarta-feira (18/09) uma resolução para exigir o fim da ocupação de Israel nos territórios palestinos (Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e a Faixa de Gaza) , com uma maioria de 124 votos a favor, 14 contra e 43 abstenções.
Foi necessária uma maioria de dois terços para apoiar a resolução, que não é vinculativa, como todas as resoluções da Assembleia, mas que é de certa forma histórica, pois foi apresentada pela primeira vez pelos palestinos, que, apesar de não terem um Estado pleno, ganharam algumas competências nos últimos meses.
O texto da resolução segue o parecer histórico emitido em julho pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), mais alto tribunal da ONU, que a pedido da Assembleia Geral analisou a ocupação dos territórios palestinos desde 1967 e considerou que “a continuação da presença” israelense nesses territórios “é ilegal” e que Israel tem “obrigação de pôr fim a isso […] o mais rápido possível”.
Enquanto os países muçulmanos e africanos votaram quase em bloco a favor da resolução, a União Europeia mostrou novamente sua desunião com votos a favor (entre eles Espanha e França), contrários (Hungria e República Tcheca) e várias abstenções (Alemanha, Itália, Holanda, Suécia e Polônia).
Israel e Estados Unidos mais uma vez mostraram sua sólida aliança em votações consideradas críticas para o governo israelense, tendo ao seu lado Argentina, Paraguai e vários países das ilhas do Pacífico, que sempre votam com os americanos.
Prazo de 12 meses para fim da ocupação
A resolução “pede a Israel que ponha fim, sem demora, à sua presença ilegal nos Territórios Palestinos Ocupados, incluindo Jerusalém Oriental (…) e a fazê-lo no prazo máximo de 12 meses após a adoção da resolução”.
O texto também exige que Israel devolva as terras confiscadas dos palestinos, permita o retorno das pessoas deslocadas pelos assentamentos e faça reparações aos afetados, além de pedir que a comunidade internacional não reconheça as consequências territoriais, legais e demográficas da ocupação das terras palestinas.
Também pede que os Estados-membros tomem medidas para impedir as importações procedentes dos assentamentos e o fornecimento de armas a Israel se houver motivos “razoáveis” para acreditar que elas poderiam ser usadas nos territórios palestinos. Também propõe sanções contra os envolvidos na “manutenção da presença ilegal de Israel” nos territórios palestinos.
Linguagem dura
No entanto, a linguagem da resolução, desta vez muito dura com Israel, não convenceu vários países, como Canadá, Austrália, Índia, Suíça e muitos europeus, que optaram por se abster.
Como resultado, a deliberação adotada teve menos consenso do que a que foi votada em maio na mesma Assembleia em favor da adesão plena de um Estado palestino à ONU: 143 países a apoiaram e apenas nove votaram contra.
Nesta terça-feira, ao apresentar a nova resolução, o embaixador palestino na ONU, Riad Mansour, disse que “nenhuma potência ocupante deve infringir os direitos inalienáveis” dos palestinos.
“A justiça é o único caminho para a paz. Respeitem o direito internacional e não o sacrifiquem por cálculos políticos frios”, acrescentou.
Logo em seguida, o embaixador israelense na ONU, Danny Danon, tomou a palavra, referindo-se a esse momento histórico como “um circo onde o terror é aplaudido”.
“Qualquer um que vote a favor está colaborando com a violência e insultando o próprio funcionamento desta instituição (…) Eles estão tentando isolar e destruir Israel, essa resolução atrasa a esperança de paz na região”, disse Danon.
A embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que rejeitava “resoluções unilaterais” sobre o conflito israelense-palestino porque são “irrealistas” e considerou que “a paz só virá por meio de negociações entre os dois lados” rumo a uma solução de dois Estados.
Esse é o caminho que os EUA vêm tentando implementar há meses, sem sucesso, por meio de um cessar-fogo prévio na guerra entre Israel e o grupo islâmico Hamas na Faixa de Gaza.
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