10/09/2024 - Edição 550

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Mundo teme guerra Irã e Israel, mas esqueceu genocídio em Gaza

Iranianos rejeitam apelos de Estados Unidos e Europa para não retaliarem Israel após ataque israelense em seu território

Publicado em 13/08/2024 10:43 - Jamil Chade e Leonardo Sakamoto (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Reprodução

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O governo iraniano rejeitou os apelos feitos por potências ocidentais para que haja uma desescalada da tensão no Oriente Médio, elevando o temor de que um ataque seja iminente. A única forma de impedir uma escalada militar e evitar um ataque, segundo Teerã, seria se Israel aceitasse um cessar-fogo imediata em Gaza.

Se houver qualquer tipo de interpretação de que o governo de Benjamin Netanyahu está tentando ganhar tempo com a negociação ou agindo de má-fé, os iranianos seguiriam o plano da retaliação.

Enquanto isso, na tarde desta terça-feira, dois foguetes foram disparados de Gaza, com explosões sendo ouvidas. Um deles caiu no mar e outro não atravessou o território israelense. O Hamas explicou que tinha como alvo a cidade de Tel Aviv.

Na segunda-feira (12), Teerã recebeu o telefonema de diversos líderes, na esperança de convencer o regime de Ali Khamenei a não retaliar Israel. Mas indicou que não agir seria premiar o governo de Benjamin Netanyahu.

Há duas semanas, o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto na capital iraniana, enquanto um dos principais comandantes do Hezbollah foi assassinado no Líbano. Naquele momento, governos da região acusaram Israel de não querer um processo de paz, já que sabia que o Irã seria obrigado a responder.

O governo americano indicou que os ataques poderiam ocorrer ao longo desta semana, e fontes diplomáticas confirmaram que a ofensiva estava sendo preparada.

Numa ligação telefônica na segunda-feira, o chanceler alemão, Olaf Scholz, fez um apelo direto ao novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, para que faça todo o possível para evitar uma nova escalada militar.

Horas depois, as principais potências ocidentais se uniram em outro comunicado, alertando o Irã sobre as consequências que uma retaliação causaria. Para o grupo, a região precisa insistir em negociar um acordo de cessar-fogo em Gaza e liberar os reféns israelenses mantidos pelo Hamas.

Na tarde da segunda-feira, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Keir Starmer, também telefonou para Pezeshkian, na esperança de convencê-lo a diminuir as tensões no Oriente Médio e alertando sobre os “riscos de um erro de cálculo”.

Mesmo russos e chineses, aliados dos iranianos, indicaram sua preocupação com o cenário que se desenhava na região.

Num comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do Irã afirmou que o apelo de europeus e americanos “carece de lógica política, contradiz o direito internacional e constitui num apoio prático e público aos atos de Israel”.

O país, portanto, teria o direito de responder a um “crime de agressão”.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, ainda afirmou que “sem qualquer objeção aos crimes do regime sionista (Israel), a declaração (dos países Ocidentais) impudentemente exige que o Irã não responda a uma violação de sua soberania e integridade territorial”.

Kanaani disse que Teerã estava determinado a deter Israel e pediu a Paris, Berlim e Londres que “de uma vez por todas se posicionassem contra a guerra em Gaza e o belicismo de Israel”.

“A inação do Conselho de Segurança da ONU e o amplo apoio político e militar dos governos ocidentais ao regime sionista (Israel) são os principais fatores por trás da expansão regional da crise de Gaza”, disse ele.

Os iranianos, conforme o UOL revelou na semana passada, já tinham avisado aos diplomatas estrangeiros no país que eles teriam o “direito” de retaliar, diante do que foi um ataque em seu território.

A situação coloca o governo iraniano num dilema: precisa responder, inclusive para poder manter sua narrativa doméstica contra Israel. Mas sabe que, numa guerra declarada contra potências ocidentais, o impacto seria devastador para sua economia e até sobrevivência do regime.

O temor da comunidade internacional é de que a situação saia de controle e que, logo depois, Israel ou qualquer outro país atacado, sinta a necessidade de se defender ou responder.

Entre os cenários desenhados por observadores, a expectativa é de que o ataque iraniano ocorra em coordenação com seus aliados do Hezbollah. Há ainda o temor de que milícias xiitas na Síria ou Iraque usem a ocasião para lançar ataques contra bases americanas.

“Cúpula da Última Chance”

Apesar das ameaças, correm informações entre diplomatas de que, agora, a única forma de impedir um ataque seria garantir um cessar-fogo em Gaza. Mas Teerã faz mistério sobre quanto tempo daria para a negociação.

Do lado dos EUA, o governo de Joe Biden está reforçando sua presença militar na região, inclusive com o envio de um submarino nuclear. Mas, ao mesmo tempo, insiste na realização de uma cúpula na quinta-feira, no Catar, na esperança de fazer avançar um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

Entre os diplomatas, porém, a reunião está recebendo o nome de “cúpula da última chance”. Para observadores e mediadores, se o processo fracassar, as portas estarão abertas tanto para que o Irã retalie como para que a guerra saia das fronteiras de Gaza.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, deve viajar para o Oriente Médio nesta terça-feira. em meio a altas tensões na região. O chefe da diplomacia americana tem paradas planejadas no Qatar, Egito e Israel. Mas tudo vai depender de um eventual ataque iraniano.

Mundo teme guerra Irã e Israel, mas esqueceu genocídio em Gaza

No cenário de tensão crescente no Oriente Médio, a atenção global tem se voltado para o temor de uma guerra aberta entre Israel e Irã. No entanto, muitos esquecem que uma tragédia já se desenrola há muito tempo, com o genocídio em curso na Faixa de Gaza. A recente escalada de violência e os bombardeios constantes destacam a complexidade e a gravidade da situação na região.

Nas últimas semanas, Israel realizou bombardeios em várias cidades estratégicas, incluindo Damasco, Beirute e Teerã. Cada ataque é justificado pelo governo israelense como uma medida de segurança, mas as repercussões vão além das justificativas oficiais. O mundo, tanto do lado da OTAN quanto das potências como Rússia e China, frequentemente adverte sobre os riscos de um contra-ataque, mas a impunidade percebida do governo de Benjamin Netanyahu levanta questões sobre a justiça e a moralidade na região.

O Hamas, reconhecido como uma organização terrorista por diversos países, também desempenha um papel crucial nessa tragédia. Os ataques de 7 de outubro são condenados globalmente, mas a resposta de Israel, segundo críticos, amplificou a crise humanitária na Faixa de Gaza. Sob a liderança de Netanyahu, Israel intensificou suas operações militares, resultando em uma devastação que muitos classificam como genocídio.

Dentro de Israel, cidadãos protestam diariamente em Tel Aviv e outras cidades, pedindo a saída de Netanyahu do poder ou a negociação para a libertação de reféns. A continuidade da guerra é vista como um meio de manter o governo de Netanyahu, que enfrenta diversas acusações de corrupção e ataques à Suprema Corte.

Enquanto o mundo teme uma guerra entre Israel e Irã, a realidade em Gaza continua a se deteriorar. Ataques aéreos israelenses recentes resultaram em tragédias como a morte de 100 pessoas em uma escola, um evento que evidencia a crise humanitária em curso. As mortes diárias de civis palestinos, muitas vezes em ataques a hospitais e campos de refugiados, contribuem para uma contagem de corpos que pode chegar a dezenas de milhares.

O mundo está à beira de uma possível guerra de grandes proporções, mas a tragédia em Gaza já é uma realidade cruel. As mortes contínuas e a destruição na Faixa de Gaza são um lembrete de que o conflito não é apenas uma questão de política internacional, mas uma crise humanitária que demanda ação urgente. A normalização dessa violência ameaça a moralidade global e exige uma resposta imediata para evitar uma catástrofe ainda maior.


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