18/05/2024 - Edição 540

Especial

Lula vence em 14 estados e Bolsonaro em 12 e no DF. Decisão fica para o segundo turno

Extrema direita cria raízes e Brasil repete experiência de Hungria e EUA

Publicado em 03/10/2022 8:49 - Jamil Chade (UOL), Semana On - Edição Semana On

Divulgação

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão disputar o segundo turno daqui a quatro semanas, no próximo dia 30. Com 99,80% das urnas apuradas, o ex-presidente tem 48,38% dos votos (57.089.864), ante 43,24% do atual presidente (51.032.891). Bolsonaro liderou a apuração durante horas. A virada de Lula não foi suficiente para garantir vitória já neste domingo (2).

O petista tem vitória em 14 unidades da federação e o presidente, em 13. A senadora Simone Tebet (MDB) ficou em terceiro, com 4,16% dos votos (4.912.481). Ele ultrapassou o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que terminou em quarto, com 3,05% (3.595.557). Depois vieram Soraya Thronicke (UB), com 0,51%, Felipe d´Avila (Novo), com 0,47%, Padre Kelmon (PTB, 0,07%), Léo Péricles (UP, 0,05%), Sofia Manzano (PCB, 0,04%), Vera (PSTU, 0,02%) e Eymael (DC, 0,01%).

Lula venceu nos nove estados do Nordeste: Alagoas, Ceará, Pernambuco, Bahia, Piauí, Maranhão, Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte. Em quatro da região Norte (Amazonas, Amapá, Pará e Tocantins) e um no Sudeste (Minas Gerais). Bolsonaro ganhou em três do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), nos três do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná), três do Norte (Roraima, Rondônia, Acre) e quatro do Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, além do Distrito Federal).

Votos em branco foram 1,59% (1.963.140) e nulos, 2,82% (3.481.043). As abstenções somaram 20,94%.

A extrema direita cresce

Começamos esta semana sem saber quem será o próximo presidente do Brasil. Mas já sabemos quem, em parte, vai governar: a extrema direita que, no país, leva o nome de bolsonarismo.

Com senadores eleitos, deputados e governadores estaduais, o bloco ultraconservador chega a um patamar importante de votos, revelando que nem a pandemia que matou 700 mil pessoas, nem a fome que voltou, nem a crise social e nem os abjetos comentários do presidente Jair Bolsonaro são suficientes para desencorajar um segmento da população. Para além dos eleitos, o Brasil revelou que 50 milhões de cidadãos dizem: ele sim.

Assim como ocorreu na Hungria, uma vez no poder, a extrema direita dificilmente é derrotada apenas com a repetição de lógicas eleitorais tradicionais. E quanto mais permanecem no poder, mais enraizado fica. Basta perguntar para Viktor Orban.

Como ocorreu na Hungria, a estratégia bolsonarista é a de deslegitimar a imprensa, a sociedade civil, ativistas e qualquer tipo de controle externo. E, em seu lugar, criar canais supostamente diretos com a população para veicular mentiras. Sem contestação, sem perguntas.

No Brasil, a estratégia também funcionou. Eduardo Pazuello foi eleito, depois de ter cruzado os braços diante da pandemia. O país elegeu uma ex-ministra dos Direitos Humanos que desmontou os mecanismos de controle de tortura e tantos outros instrumentos de promoção da dignidade. Elegeu um ex-ministro do Meio Ambiente negacionista. E tantos outros que, para chegar à vitória, não colocaram um limite para a desinformação. Agora, poderão fazer o mesmo com imunidade de oito anos, em alguns dos casos.

Ao longo deste dia de domingo, vivi em primeira mão o resultado da mentira. Em Genebra, enquanto os votos ainda eram contados, eleitores bolsonaristas recebiam em seus grupos alertas de que o presidente tinha vencido e que, se não fosse o caso, a culpa era de manipulações de fiscais infiltrados pelo PT.

Quando o resultado foi publicado e Luiz Inácio Lula da Silva venceu, a única reação do grupo de bolsonaristas que estava diante da seção foi a de que o resultado tinha sido roubado e que “não fazia sentido” perder. A mentira tinha vencido, uma vez mais.

As sequelas da desinformação são de longo prazo e estamos descobrindo isso. Mas responsabilizar a eleição de todas as principais figuras do bolsonarismo à mentira é contar meias verdades.

Assim como nos EUA, milhões de eleitores – muitos deles ressentidos – não se identificam com pautas que lhes parecem distantes. Lula ainda pode vencer, como Joe Biden venceu. Mas o impressionante resultado do bolsonarismo em votações regionais e no Legislativo revela que a capilaridade é real.

Como diz a escritora brasileira Juliana Monteiro, a oposição não pode mais ler uma carta pela democracia apenas nos salões nobres da escola da elite paulistana. Por mais que tenha sido fundamental, não é e não será suficiente.

Soma-se a tudo isso a herança que temos de uma sociedade intolerante, racista, incapaz de ver o estado e essencialmente individualista.

Com esse cenário, o Brasil desembarca em 2023 com um bolsonarismo enraizado. E com forças progressistas divididas e incapazes de dialogar de forma suficiente com o eleitor.

Se Luiz Inácio Lula da Silva vencer no segundo turno, terá de governar diante de uma provável recessão internacional, de uma guerra, de uma ameaça nuclear e de um colapso climático. Mas, acima de tudo, com um Poder Legislativo que irá se transformar na nova trincheira da extrema direita no Brasil.


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