18/05/2024 - Edição 540

Especial

Guerra de desinformação

Publicado em 04/03/2022 12:00 -

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Neonazistas, supremacistas brancos, adoradores de Hitler e similares devem ter ficado bastante chateados com o fato de o termo "nazista" ter se tornado o grande xingamento usado por ambos os lados do conflito entre a Rússia e Ucrânia.

De um lado, o presidente Vladimir Putin acusa a Ucrânia de estar infestada de neonazistas em seu governo e em suas forças armadas. A ponto de uma das demandas apresentadas por ele (além de seu objetivo real, que é manter a neutralidade do vizinho e desmilitarizá-lo) é a sua "desnazificação". Segundo ele, esse "nazismo" ucraniano estaria provocando um "genocídio" de russos.

Do outro lado, o governo ucraniano compara abertamente o líder russo à figura de Adolf Hitler – inclusive fisicamente. E afirma que as táticas empregadas por ele copiam a estratégia nazista na Segunda Guerra Mundial. No último dia 28, em uma rara sessão extraordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas, o embaixador ucraniano, Sergiy Kylskysia, equiparou a Rússia ao Terceiro Reich.

Putin é um autocrata, populista, homofóbico e violento, com comportamento czarista, mas não é Hitler. E o contexto da Rússia atual é bem diferente do da Alemanha da década de 1930. E o contexto importa.

Ao mesmo tempo, o governo do atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, um judeu que perdeu familiares para Hitler, não é nazista.

É fato que há neonazistas, supremacistas brancos e adoradores de Hitler agindo em ambos os países, eventualmente como funcionários públicos, militares ou lideranças de organizações. A extrema direita está em espaços como o Batalhão Azov, na Ucrânia, ou nas fileiras do Exército russo. Mas daí dizer que nazistas estão à frente dos respectivos governos é pura propaganda de um conflito que não começou na semana passada, mas já dura anos. Principalmente no campo da desinformação.

A Ucrânia, que perdeu milhões para o nazismo na Segunda Guerra, contou com grupos que colaboraram com Berlim, como em outros países – o que é sempre lembrado pelos russos. Pesou na colaboração a lembrança do Holodomor, a grande fome promovida pelo stalinismo entre 1932 e 1933, que matou milhões de ucranianos.

E, nos últimos anos, houve o fortalecimento de grupos neonazistas na Ucrânia – como em toda a Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Essa extrema direita está em milícias armadas que lutam contra os separatistas russos e conta com membros nas forças armadas. Mas não as controlam, muito menos compõem o governo.

Putin acusa o presidente ucraniano, o judeu Volodymyr Zelensky, de ser nazista para justificar o ataque junto à sua população. O objetivo é tentar moldar a opinião pública russa, que precisa apoiar a invasão. Zelensky, em um pronunciamento à TV, afirmou à população russa: "dizem a vocês que somos nazistas, mas pode um povo que deu mais de oito milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo apoiar os nazistas? Como posso ser nazista?".

Nas redes sociais, as torcidas de ambos os lados, à direita ou à esquerda, têm usado essas acusações de laços infundadas de ambos os governos com o nazismo para provar que o inimigo é o mal encarnado. Muita desinformação vem sendo compartilhada, de fotos descontextualizadas a mentiras bem elaboradas.

Nesse contexto, chamar o adversário de "nazista" é uma forma simples de desumanizá-lo e representá-lo como o mal, uma vez que a maioria dos russos e dos ucranianos entendem muito bem o que foi o nazismo, considerando que seus parentes foram mortos por ele.

Isso bate de frente com o que a graduação em Política Internacional pela Universidade do WhatsApp ensinou para muita gente. Mas a realidade não está aí para servir às nossas crenças.

E falando em crenças, sempre bom lembrar: o fato de os Estados Unidos contar com uma longa lista de invasões de outros países para saciar seus interesses econômicos e a Otan, uma aliança militar, agir de forma expansionista sobre a vizinhança da Rússia não diminui o fato que Putin invadiu de forma inadmissível a Ucrânia, uma nação soberana, deixando um rastro de mortes, dor e destruição para forçar que o país se mantenha neutro. E precisa parar imediatamente.

Posição dúbia

A representação diplomática brasileira condenou a invasão russa na ONU. Jair Bolsonaro poderia ter feito o mesmo: criticado a invasão e afirmado que não aplicaria sanções à importação de produtos russos, como fertilizantes, por questões estratégicas nacionais. Mas ele não fez isso e, em coletiva à imprensa ainda defendeu Putin e zombou do presidente ucraniano.

Esse comportamento faz parte da guerra eleitoral de Jair. Enquanto o Itamaraty tenta agir de forma pragmática, mas dentro do que se espera de um país que reconhece o direito à autodeterminação e à integridade territorial dos povos, o presidente tenta alimentar uma parte da extrema direita brasileira que vê Putin como referência exatamente pelo conservadorismo em costumes.

Aliás, para uma parte desse pessoa da extrema direita daqui, "nazista" não é xingamento, mas elogio.

Mas, por que Putin acusa nacionalistas ucranianos de fascistas?

Na última década, a emergência de grupos, organizações e mesmo políticos inspirados pelo nazismo e pelo fascismo ocorreu em várias partes do mundo, incluindo a Ucrânia.

Até que ponto, porém, o nacionalismo ucraniano é dominado ou influenciado por essa visão política? O atual governo ucraniano é nazista, fascista ou de extrema-direita? O antissemitismo tornou-se uma marca registrada da Ucrânia desde 2014?

As acusações de nazismo, fascismo e antissemitismo contra a Ucrânia tornaram-se moeda corrente no discurso de Putin depois de 22 de fevereiro de 2014.

Nesse dia, caiu o governo do presidente Viktor Yanukovitch em consequência de uma onda de protestos que teve, no auge, o apoio da maioria da população ucraniana. A exceção eram as regiões do Donbas, no leste, e da Crimeia, no sul.

Yanukovitch, um oligarca alinhado a Moscou, tinha iniciado sua carreira política em Donetsk, cidade mais importante de Donbas. Historicamente, a Crimeia pertencia à Rússia e foi cedida à Ucrânia pelo então líder soviético Nikita Kruschev.

Se houve um ponto de união entre os manifestantes que foram à Praça Independência, no centro de Kiev, a capital, contra Yanukovitch, foi o repúdio à corrupção no governo. Estavam na praça nacionalistas e internacionalistas, liberais e comunistas, cristãos ortodoxos, judeus e muçulmanos.

Simpatizantes do movimento disseram à época que os três primeiros mortos pela repressão policial determinada pelo governo Yanukovitch foram um bielorusso, um armênio e um judeu – minorias com presença significativa na Ucrânia.

O nacionalismo ucraniano tem raízes no início da era moderna, mas, como em toda a Europa, ganhou força em meados do século XIX. Ao longo da história, o atual território ucraniano esteve dividido entre Áustria-Hungria, Polônia e Rússia, e levantes protagonizados por populações ucranianas ergueram-se, em distintos momentos, contra cada um desses Estados.

Embora cultuem pais fundadores como o poeta romântico Taras Shevchenko (1814-1861), parte dos atuais partidos e grupos nacionalistas ucranianos consideram-se herdeiros de um grupo nacionalista armado surgido nos anos 1930, depois que a União Soviética anexou uma parte da Ucrânia polonesa por meio do Pacto Ribentropp-Molotov, em 1939.

"Em termos gerais, o nacionalismo na Ucrânia é um movimento bem abrangente, que incorpora várias concepções, incluindo a de que a Ucrânia é uma nação com direito à autodeterminação, ou seja, a ter um Estado próprio", afirma Bruno Mariotto, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

"Só que, na prática, essa questão é bem mais complexa. Quem é ucraniano? É quem fala ucraniano? Quem tem ligações com a história ucraniana? Se for isso, teremos um conceito muito restrito."

Combate aos soviéticos

Foi na Galícia, que era parte do Império Austro-húngaro e, a partir de 1918, da Polônia, que nasceu em 1909 Stepan Andriovich Bandera. Filho de um sacerdote católico de rito grego, Bandera foi impedido pelas autoridades polonesas de viajar para fazer estudos universitários na Tchecoslováquia e passou por distintas organizações nacionalistas ucranianas. Por sua atividade política, o governo polonês condenou-o à morte.

Com o início da II Guerra Mundial, foi preso pelos nazistas após a invasão da Polônia e depois libertado na esperança de que ajudasse a sublevar a Ucrânia soviética contra Moscou durante a Operação Barbarossa, como foi chamada a invasão da União Soviética pela Alemanha em 1941.

Até o final da guerra, o movimento nacionalista de Bandera promoveu massacres de poloneses, russos e judeus – o líder acreditava que estes últimos eram responsáveis pelo domínio soviético na Ucrânia. Sua morte, em 1959, em Munique, na então Alemanha Ocidental, foi perpetrada por agentes soviéticos.

Bandera era certamente antissemita, mas também antipolonês e anti-russo. Imaginava uma Ucrânia independente e unitária em termos étnicos, linguísticos e culturais, em termos não muito diferentes de outros nacionalistas da Europa central e oriental da época, como o líder da independência polonesa Jozef Pilsudski.

Nada era mais perigoso para o regime soviético no momento em que, detido o avanço alemão, iniciou uma contra-ofensiva em direção além das fronteiras soviéticas no Leste europeu. Moscou moveu uma intensa campanha de descrédito contra Bandera e seus seguidores, destacando sua comprovada colaboração com os nazistas.

Essa não era, porém, uma peculiaridade do ucraniano: entre 1939 e 1941, o colaboracionismo de Bandera com Hitler empalidece diante da mais do que ativa contribuição soviética ao esforço de guerra alemão a partir do Pacto de Não-agressão de 1939.

O curso da guerra, porém, ao opor Hitler e Stalin, permitiu que Moscou voltasse a utilizar o epíteto de "fascistas" contra todos os nacionalistas que se interpusessem em seu caminho atrás do que viria a ser conhecido como Cortina de Ferro.

Entre os partidos que rendem homenagem a Bandera, estão Svoboda (Liberdade), que chegou a obter 10,44% dos votos em eleições parlamentares nacionais em 2014 e que tem acusados de antissemitismo entre seus líderes.

O Svoboda fez parte do primeiro governo pós-Yanukovitch, encabeçado pelo presidente Petro Poroshenko, mas seus líderes se parecem mais com populistas tradicionais do que com ideólogos nazistas e adotam como modelo partidos de direita da Europa ocidental como a francesa Frente Nacional (FN).

O ministro do Interior de Poroshenko, Arsen Avakov, era ligado a uma milícia de extrema direita, o Batalhão de Azov, formada por indivíduos com passado de atividade em organizações neonazistas.

Svoboda, Pravyi Sektor (Setor de Direita) e outros grupos formaram desde 2014 suas próprias milícias armadas, muitas das quais passaram a integrar forças regulares ucranianas como a Polícia de Patrulha para Operações Especiais da Ucrânia e a Guarda Nacional da Ucrânia, empregadas contra os separatistas pró-Rússia na região de Donbass.

O Batalhão de Azov foi apontado como responsável por um esquema de recrutamento de combatentes para a Ucrânia em sete municípios do Rio Grande do Sul, em 2016. A Polícia Federal (PF) deflagrou, na época, a Operação Azov para desmantelar o grupo, efetuando a detenção de um suspeito com material neonazista.

Eles estão no poder?

Apesar de ter obtido atenção intensiva da imprensa na Rússia e no resto do mundo, a extrema-direita na Ucrânia raramente ultrapassou 3% dos votos desde a independência do país da União Soviética, em 1991.

Com exceção de Svoboda, partidos de extrema-direita conseguem eleger raros parlamentares em distritos com um único representante, e nenhum de seus candidatos presidenciais garantiu mais de 5% dos votos em eleições nacionais. Segundo a pesquisadora Alina Polyakova, da Universidade de Berna, na Suíça, o apoio a esses grupos está concentrado sobretudo na Galícia, no oeste da Ucrânia.

Uma estimativa dos cientistas políticos Andreas Umland e Anton Shekhovtsov sugere que, em 2008, o número de neonazistas organizados na Ucrânia não excedia 2 mil, enquanto na Rússia grupos fascistas reuniam na mesma época 20 mil a 70 mil membros.

"É inegável a presença de grupos nacionalistas e de extrema-direita na Ucrânia atual. A questão que fica é qual o seu nível de ingerência no país. Putin diz que esses grupos têm enorme influência na Ucrânia, especialmente nas forças armadas. Por outro lado, o governo ucraniano tenta minimizar esse peso, especialmente em razão do perigo que representam para outro ator regional importante, a Polônia. Os antecessores dos grupos atuais praticaram extermínio em massa de poloneses, muitas vezes com assistência dos nazistas", lembra Mariotto.

Grupos menores, como o Exército Rebelde Ucraniano (UPA), também compõem a extrema direita ucraniana. Embora adotem um estilo paramilitar e utilizem símbolos como a cruz céltica, que lembra a suástica, esses grupos se legitimaram mais por participar da revolução de 2014 do que pela ideologia.

"Esses setores (de extrema-direita) cresceram dos anos 2000 para cá de forma inversamente proporcional ao distanciamento da Ucrânia da órbita russa. Quanto mais para a Europa a Ucrânia se inclinava, mais a extrema-direita se manifestavam em favor da Europa e contra a Rússia. Isso reflete fenômenos mais antigos, dos tempos soviéticos, quando esses grupos também existiam mas ficavam sufocados", analisa Vinicius Teixeira, doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor de Geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Uemat).

Durante o levante contra Yanukovitch, não houve registro de ataques na praça contra manifestantes por religião, etnia, orientação sexual ou preferência política. Ataques antissemitas são relativamente raros na Ucrânia: entre 2004 e 2014, houve 112 ações violentas de caráter antissemita no país, com apenas quatro no último ano da série, segundo o Congresso Judaico Euroasiático.

Pesquisas indicam que visões xenófobas, sexistas, racistas e homofóbicas não são mais expressivas entre o eleitorado de partidos de extrema-direita do que de outros partidos na Ucrânia. Em 2012, por exemplo, parlamentares do Partido Comunista da Ucrânia e do Partido das Regiões apresentaram projetos de lei anti-LGBT.

"Apesar de Zelensky ser judeu e ter perdido parentes no Holocausto, ele nada fez para coibir a expansão de Svoboda e outras milícias. O uso de símbolos nazistas não é proibido na Ucrânia", afirma Andrew Traumann, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Oriente Médio (Gepom).

"Esses grupos têm pequena representação no parlamento e não conseguem sucesso nas eleições, mas são muito ativos e têm política muito xenófoba, homofóbica e anticatólica, perseguem russos e migrantes."

Na região da Galícia, depois de 2014, Bandera passou a ser cultuado como uma figura mítica, e o governo ucraniano incluiu-o entre os heróis da pátria. Para os ucranianos da maior parte do país, porém, é pouco mais que um símbolo.

Pouco depois da queda de Yanukovich, em março de 2014, representantes das quatro grandes religiões da Ucrânia – cristã ortodoxa, católica, muçulmana e judaica – rezaram juntos em homenagem ao bicentenário do poeta nacional Taras Shevchenko.

"Bandera é considerado herói nacional porque se considera que sua aliança com os nazistas não se deu por afinidade ideológica, mas para lutar contra Stalin. Não se pode comprar a narrativa de que a Ucrânia é nazista, como afirma Putin, mas tampouco é possível dizer que o neonazismo no país seja insignificante", complementa Traumann.

Se havia um personagem que, para os manifestantes de 2014, lembrava Hitler, não era exatamente Bandera. Um cartaz em que Putin aparecia com bigodinho e cabelo negro caído sobre a testa era popular na Praça Independência, em Kiev. Um letreiro dizia: "Putin, vá embora".

A falsa alegação da Rússia de que a Ucrânia iniciou a guerra

Alegação: "A Rússia não começou a guerra, mas está terminando", escreveu Maria Zakharova, porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia, recentemente numa postagem no Facebook. Ela coloca a invasão russa na Ucrânia em curso no contexto do conflito em Donbass, que já vem acontecendo há anos.

O presidente Vladimir Putin havia argumentado de forma semelhante no início do ataque russo, quando justificou falsamente a ofensiva da Rússia como um caso de defesa nos termos do artigo 51º da Carta das Nações Unidas.

Além disso, Zakharova afirma que a Ucrânia planejou a "aniquilação sistemática da população em Donbass". As alegações de Zakharova também foram divulgadas pela emissora estatal russa RT em alemão (antiga Russia Today).

Checagem de fatos: Errado.

As duas declarações de Zakharova são falsas. O atual conflito armado começou quando as tropas russas invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro, logo após Putin anunciar uma "operação militar especial" na Ucrânia num discurso televisionado.

Assim, a Rússia iniciou as hostilidades no conflito atual e, ao cruzar a fronteira para o território da Ucrânia, desencadeou uma escalada militar que vem acontecendo desde então. A segunda alegação da porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia também é falsa: não há qualquer evidência de uma "aniquilação sistemática da população" em Donbass, como mostra uma checagem de fatos da DW.

Russos iniciaram o conflito armado em 2014

De fato, há uma disputa entre a Ucrânia e a Rússia sobre quem provocou o início do conflito em 2014. O ponto de partida foi a revolução Maidan, em 2014, quando o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, recusou-se a assinar um acordo de adesão à UE. As manifestações pró-Ocidente acabaram forçando Yanukovych a fugir, e um governo interino assumiu.

Ao mesmo tempo, soldados sem emblemas nacionais ocuparam a Crimeia e hastearam bandeiras russas. De acordo com fontes russas, eles não agiram sob ordens do Kremlin, mas observadores ocidentais duvidam fortemente disso.

Após um referendo não reconhecido internacionalmente, a Federação Russa anexou a península. Ao mesmo tempo, a Rússia apoiou movimentos separatistas na região leste de Donbass, na Ucrânia, contra os quais o governo de Kiev agiu militarmente.

Em que ponto o conflito se transformou em guerra é uma questão controversa entre os seus atores e também na comunidade científica. No entanto, o conflito evoluiu para uma guerra entre Estados, o mais tardar quando as tropas russas invadiram a fronteira leste da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.

Antes disso, as regiões de Donetsk e Lugansk já haviam se autoproclamado "repúblicas independentes" do governo central em Kiev – e a Rússia reconheceu esse status alguns dias antes da invasão.

Não há evidência de genocídio da população ucraniana oriental

Maria Zakharova também se refere explicitamente a uma suposta "destruição planejada da população em Donbass" e que o conflito já teria causado pelo menos 13 mil mortos. No entanto, não há evidências de um extermínio sistemático da população civil. A missão de monitoramento da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que está ativa desde 2014, não registrou assassinatos em massa da população civil em Donbass. E o Ministério do Exterior da Rússia ainda não apresentou nenhuma evidência de um genocídio planejado contra a população do leste da Ucrânia.

Além disso, a ONU acusa ambos os lados de violações de direitos humanos, como tortura e abusos de prisioneiros – especialmente nos primeiros anos do conflito. O cessar-fogo acordado como parte do acordo Minsk II também foi repetidamente quebrado por ambos os lados. É verdade, porém, que pelo menos 13 mil pessoas foram mortas no conflito armado no leste da Ucrânia.

De acordo com os últimos cálculos das Nações Unidas, até 13.200 pessoas haviam morrido no conflito até o início de 2020 – sendo 3.350 civis, 5.650 insurgentes e 4.100 membros das Forças Armadas ucranianas. A porta-voz Zakharova argumenta que as baixas nas fileiras do Exército ucraniano também justificariam a ação militar contra a Ucrânia.

Conclusão: A afirmação de Maria Zakharova de que a Ucrânia começou a guerra é falsa. A Federação Russa anexou ilegalmente a península da Crimeia em 2014, numa ação que não é reconhecida internacionalmente. Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia atacou a Ucrânia ao norte, nordeste e através da península da Crimeia ao sul, iniciando uma guerra entre Rússia e Ucrânia.


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