18/05/2024 - Edição 540

Ecologia

ONU alerta para ‘risco iminente’ de crise global por escassez de água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

Publicado em 22/03/2023 10:56 - Victor Nunes (DCM), Letycia Bond (Agência Brasil) – Edição Semana On

Divulgação Abr

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Na última terça-feira (21), a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório que alerta para o risco de uma crise global de escassez de água. Segundo o relatório, a falta de água sazonal pode se tornar cada vez mais frequente na América do Sul e em outras partes do mundo.

A divulgação do estudo foi realizada um dia antes do início da Conferência da Água da ONU. Richard Connor, editor-chefe do relatório, durante entrevista coletiva, disse que há incertezas diante de um cenário que aponta aumento de demanda e redução na disponibilidade de água. “Se não resolvermos isso, definitivamente haverá uma crise global”, afirmou.

O avanço da poluição, o aumento do consumo e falta de preservação de recursos são apontadas no relatório como as principais causas da crise.

O levantamento revelou o aumento de 1% no uso da água nos últimos 40 anos, em âmbito global. A estimativa é que a taxa de crescimento continue neste patamar até 2050. Dados obtidos ainda em 2020, apontam que 2 bilhões de pessoas não possuem acesso a serviços de água potável gerenciados com segurança, o que representa 26% da população mundial. Enquanto isso, 3,6 bilhões de pessoas (46% da população) não têm acesso a saneamento.

“A escassez de água está se tornando endêmica, como resultado do impacto local do estresse hídrico físico, juntamente com a aceleração e a disseminação da poluição da água doce”, disse o documento.

Locais onde há abundância de recursos hídricos, como partes da América do Sul, a África Central e a Ásia Oriental, poderão observar temporadas mais longas de escassez de água em decorrência do avanço da poluição e do aumento do consumo.

Em regiões onde a água já é escassa, como no Oriente Médio e na África, a tendência é de um cenário ainda pior nos próximos anos. Segundo o relatório, o progresso das metas de 2030 para água e saneamento das Nações Unidas está fora de rumo.

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona.

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.


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