18/05/2024 - Edição 540

Ecologia

Desmatamento acumulado em 2022 é o segundo pior em 15 anos, aponta Imazon

Fundo da Amazônia: equipe de Lula negocia adesão de novos países e recursos

Publicado em 28/11/2022 10:43 - Murilo Pajolla (Brasil de Fato), Jamil Chade (UOL) – Edição Semana On

Divulgação

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Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam que a Floresta Amazônica perdeu 10 mil km² de floresta entre janeiro e outubro de 2022, o equivalente a seis vezes a cidade de São Paulo.

É a segunda pior marca já registrada pelo Imazon em 15 anos, apenas 0,5% menor do que o acumulado no mesmo período de 2021, quando o recorde histórico foi batido. O monitoramento é feito pela entidade ambiental desde 2008, por meio de imagens de satélite.

O estado campeão da destruição foi o Pará, que desmatou 351 km² em outubro, pouco mais da metade do registrado em todo o bioma. O Imazon alerta que o desmatamento tem invadido áreas protegidas do estado, onde estão sete das 10 unidades de conservação e quatro das 10 terras indígenas mais desmatadas em outubro.

Árvore símbolo da Amazônia está ameaçada 

Quase metade do desmatamento registrado em Terras Indígenas (TIs) da Amazônia ocorreu na TI Apyterewa (PA), habitada por 800 indígenas Parakanã. O povo é vítima de grileiros e da expansão da pecuária ilegal.

Além disso, a derrubada se aproxima do norte paraense, onde fica o maior bloco de áreas protegidas do mundo. Entre elas está a Floresta Estadual (Flota) do Paru, que ficou em 5° lugar no ranking das unidades de conservação mais desmatadas na Amazônia.

A área local ganhou repercussão internacional após uma expedição apoiada pelo Imazon, em setembro, ter encontrado a maior árvore da Amazônia: um angelim-vermelho de 88,5 metros de altura e 9,9 metros de circunferência. A árvore, símbolo da Amazônia, está ameaçada pelo avanço do crime ambiental.

Práticas sustentáveis em risco 

“É desesperador ver o desmatamento invadindo a Flota do Paru, unidade de conservação que o Imazon ajudou a criar e apoia a implementação há 16 anos, afirma Jakeline Pereira, pesquisadora do Imazon e conselheira da Flota do Paru.

“Estamos vendo a grilagem e o garimpo avançarem no território, colocando em risco o extrativismo de castanha-do-pará e o manejo florestal, práticas sustentáveis. Além da maior árvore da Amazônia, a Flota do Paru também tem diversas espécies endêmicas, como são chamadas aquelas que só existem em uma determinada região”, diz Pereira.

Fundo da Amazônia

A equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), negocia a ampliação do Fundo da Amazônia para incluir novos países doadores, pelo menos no primeiro ano do mandato que começa em 2023. Ao longo da semana passada, a equipe de Lula usou a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas para costurar com europeus e americanos um reforço na cooperação internacional, usando o mecanismo já existente.

Brasil e Noruega criaram o maior fundo de cooperação internacional durante o primeiro governo Lula, com mais de US$ 1 bilhão e administrado pelo BNDES e instituições em Oslo. Logo depois, o governo da Alemanha decidiu se unir à iniciativa. Mas, em 2019, o governo de Jair Bolsonaro colocou novas exigências que acabaram levando a Noruega e a Alemanha a encerrar a transferência de recursos.

Com a vitória de Lula, tanto Oslo como Berlim indicaram que voltarão a dar recursos. Mas a reportagem apurou que Marina Silva conversou com John Kerry, enviado do governo de Joe Biden, sobre a possibilidade de os EUA se uniram ao Fundo da Amazônia, ainda que sejam em um valor relativamente modesto.

A ideia é de que, com o dinheiro da Casa Branca, a iniciativa de Biden sirva como uma espécie de chancela para que outros governos apostem no Fundo como uma alternativa viável para contribuir com o combate ao desmatamento no Brasil.

Marina Silva ainda fez a mesma proposta para o governo do Reino Unido e para as autoridades do Canadá. Nesses casos, a proposta é a de que esses governos de fato façam parte do mecanismo.

Outra linha de atuação será com a filantropia. O governo eleito recebeu, ao longo das últimas semanas, propostas e demonstrações concretas de interesse por parte de mega empresários e de fundações privadas. Para 2023, o governo eleito quer organizar a viagem de uma missão desses empresários para que conheçam a realidade da Amazônia. No foco do governo está em especial o Bezos Fund, do bilionário americano Jeff Bezos e que promete US$ 10 bilhões para lutar contra mudanças climáticas pelo mundo.

A proposta do novo governo é ainda de que parte dos recursos seja destinado para órgãos específicos, que nos últimos quatro anos foram esvaziados e viram seus orçamentos desaparecer. Um deles seria o Instituto Chico Mendes.

Na avaliação da equipe de transição, o dinheiro internacional poderia ser fundamental para compensar pela queda de recursos destinados ao combate ao desmatamento nos últimos anos e para equilibrar o corte ainda maior planejado para o orçamento de 2023.

Segundo um levantamento do Greenpeace, houve uma redução de 6,4% previstos para o Ministério do Meio Ambiente (caiu de R$ 3,17 bi para R$ 2,96 bi); de 12,% para o Ibama (caiu de R$ 1,9 bi para R$ 1,7 bi) e de 2% para o ICMBio (caiu de R$ 726 mi para R$ 711 mi).

De acordo com a entidade, pelo segundo ano consecutivo, não há recursos previstos para Monitoramento da Cobertura da Terra e do Risco de Queimadas e Incêndios Florestais, realizado pelo INPE, “órgão de excelência e referência internacional, que foi amplamente atacado e desmontado nos últimos anos”.

Em seu discurso na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, Lula destacou que o Brasil quer e precisa de ajuda para lidar com o desmatamento. Essa é uma posição radicalmente diferente do tom usado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que insistia em afastar qualquer participação estrangeira e desmontou os mecanismos de cooperação

Lula, porém, deixa claro que qualquer iniciativa estrangeira não poderá significar qualquer ameaça à soberania e que caberá ao Brasil pilotar o mecanismo.


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