Sobre jardins dentro de mim

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Às vezes fico pensando que já passei por quase tudo nessa vida. Trilhei o bom caminho, fiquei perdido, me encontrei, fui verão, outono, inverno e primavera, terço e patuá.

Alcei voo, pés no chão, beira do abismo, templo, zona, contemplação, desordem, antiquado, moderno, inteiro ou aos pedaços, te dei prazer, gozei, broxei, romântico e canalha, fui luz, breu, estático, inquietude, música, silêncio, fui aplaudido, vaiado, ignorado.

Cozinhei pra você, senti fome, fui teu copo cheio, senti sede, tomei um porre, sobriedade, ressaca e aspirina. Fui sal, senti o gosto doce da tua boca, amei e fui amado, desprezado, colorido, monocromático, do afeto ao descaso, da lembrança ao esquecimento.

Já tive um jardim dentro de mim, fui deserto, enchente, floresta, seca, oceano, rio, latifúndio, sem terra, realidade, miragem, cotidiano, fantasia, comédia, drama e ficção científica.

Você me fala na cara dura que estou passando por isso porque a lua está em libra, o que acaba nos fazendo querer buscar harmonia nas relações e nos sentimentos, além disso me diz que mercúrio está retrógrado.

Tudo são fases, quando casar sara como dizia minha avó.

O que importa é que as coisas se alinham, o mundo gira, o tempo passa, depois de um dia um novo dia.

Eu ainda escrevo com caneta esferográfica, amassando e jogando fora o que não serve, reiniciando, reciclando, reaproveitando tudo aquilo que realmente vale a pena.

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