27/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Pipocada

Idelber Avelar fala de futebol, e do “bottle job” do Botafogo

Publicado em 04/12/2023 12:51 - Idelber Avelar

Divulgação

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O print que acompanha o post é do Daily Mail, que colocou para o seu leitorado a pergunta que você já encontra por aí nos círculos de discussão de futebol em inglês: a amarelada / pipocada (em inglês: “to bottle”, “a bottle job”) do Botafogo é a maior da história do futebol?

Andamos concluindo que sim. Nunca, na história dos pontos corridos em futebol de alto nível, houve uma equipe que disparasse tanto na frente das outras para depois perder o título como esse Botafogo de 2023, que na certa ainda vai render livros e filmes.

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Nada no futebol tem causa única e uma campanha assim certamente é produto de múltiplos fatores. Não serei eu a arriscar uma tabulação de todos eles, mas é consenso que o dono do clube errou muito a partir do momento em que perdeu o seu técnico que vinham bem, o Luis Castro.

Acho também que valeria a pena um estudo mais detalhado de como se produziu um dos maiores colapsos emocionais já vistos no futebol. Revejam os jogos do Botafogo no 2˚ turno e vocês verão um time que se amontoa em volta do árbitro aos 5 minutos de jogo para protestar uma marcação irrelevante de lateral no meio-campo; que desaba no chão de joelhos e com as mãos no rosto quando sofre um gol; que comemora os próprios de um jeito estranho, tenso, como se extravasasse uma raiva; que vira as costas para uma cobrança de pênalti porque não consegue suportar a imagem.

A entrevista dada por John Textor depois do jogo contra o Palmeiras, falando de uma suposta “corrupção” dos árbitros para prejudicar seu time, foi uma peça importante na produção do caos. Influencers de mais de 10 milhões de seguidores traficaram um monte de denúncias vazias para gerar engajamento e foram criando uma narrativa que boa parte do time parece ter comprado.

Claro que houve mil outros fatores e custou caro o erro da direção, ao não efetivar o interino Cláudio Caçapa, que assumira bem, seguia o modelo de Castro e continuava vencendo. Outras coisas podem ser ditas sobre a parte técnica e tática.

Mas a maior amarelada da história do futebol foi também, em grande medida, uma questão de cabeça, psicológica. A produção do caos nas redes e nas entrevistas do dono, especialmente com as teorias conspiratórias que foram traficadas, coincidiram com os momentos de maior colapso emocional do time em campo.

A turma fala para milhões de pessoas, trafica mentiras que alteram a própria natureza da realidade que a mentira inicialmente apenas distorce (já que a intensa circulação dessas fake news afeta a capacidade de o time jogar), e deveria agora, eu acho, assumir que as bobagens que circularam foram prejudiciais.

Aos botafoguenses, desejo que passem por esse processo tranquilos e cobrem de quem há que se cobrar.

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Idelber Avelar


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