28/04/2024 - Edição 540

Ogroteca

Os filmes realmente dão prejuízo?

A resposta curta é não, mas dá pra explicar melhor esse fenômeno e entender como que as coisas acontecem em Hollywood

Publicado em 26/11/2023 9:54 - Fernando Fenero

Divulgação Imagem: Copilot

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azer um filme custa dinheiro.

Muito dinheiro para ser exato. Só pra começar, é preciso encontrar produtores, diretores e roteiristas, para montar o projeto, então encontrar o elenco, contratar outros profissionais, arranjar locações, desenvolver a parte de computação gráfica.

Se antes os grandes sucessos custavam 15 milhões (foi o quanto custou Rambo: Programado para Matar por exemplo), agora é fácil passar da casa dos 200 milhões. Inflação? Em grande parte, sim, os custos cresceram também pelo gasto com marketing, redes sociais, e as exigências que as melhores resoluções têm, como maior atenção com cenário, figurino e maquiagem, para não parecer com um esquete do Chespirito.

Então o filme custa 200 milhões de dólares, e para dar lucro precisa dobrar apesar da intenção do estúdio de bater lá no teto e chegar perto do bilhão. E para fazer isso, precisa acertar na China, investir muito em marketing, e contar com a sorte de nenhuma estrela envolvida na produção acabar em algum escândalo midiático.

Então os filmes tem dado prejuízo aos estúdios de cinema?

É o que boa parte da crítica alega, mas na minha opinião é cair na tentação de fazer jornalismo fácil, criticando de forma rasa e desinformando quem lê.

Sobre relação bilheteria x lucro, é mais complexo do que parece. Se não fosse assim, Netflix, Amazon e Apple não produziriam para seus streamings, já que não recolhem bilheteria nem vendem pipoca.

E temos outro fator a considerar, os estúdios tem seus serviços de streaming, como a Disney ou a Paramount. Se faz sentido a Netflix gastar em uma produção e disponibilizar em seu catálogo, como que não faz mais sentido para a Disney exibir no cinema, encher o bolso e fazer ainda mais dinheiro na sua plataforma?

E falando de Disney, tem ainda outra parada: as propriedades intelectuais deles geram receitas de outras formas, como por exemplo a licença de uso de imagem para brinquedos e outros itens. Parece bobagem, mas o filme “Carros” tem duas sequências que foram mal no cinema, mas faturam muito mais em licenciamento.

Então vale a pena colocar o Relâmpago Marquinhos no cinema só pra pagar a conta e sair zerado, se depois vender camiseta e lancheira vai dar muito mais dinheiro.

Por último, é interessante entender como que um filme é feito para sacar que o prejuízo não é exatamente prejuízo. Lembra do Chaves vendendo churros para ele mesmo? No cinema é parecido. O estúdio contrata atores, mas quando vai fazer cenário e figurino, chamam empresas que são ligadas as corporações para fazer o trabalho. Então meio que o trabalho todo é pago para a mesma galera, não é exatamente uma aposta estilo Jogo do Tigrinho ou quem acha que fazer bet contra o Vasco é renda extra.

Por isso terror tem dado tanto dinheiro para os estúdios, além de custar dois pasteis e um guaraná Funada, tem o lance de um monte de pequenas produtoras já especializadas em efeitos e demais necessidades do filme, tudo isso se retroalimenta e termina por fazer a grana que entra valer muito a pena.

Então vamos parar de passar vergonha de comemorar “fracasso” nas bilheterias, até porque isso é meio que coisa de nerdão de direita que odeia mulher, e fica extasiado quando “Marvels” não fatura como o esperado.

No fim das contas, o camundongo ainda vai fazer grana mesmo que você não vá no cinema.

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Fernando Fenero


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