Ágora Digital
O discurso disruptivo é a arma do nonsense e da loucura contra a democracia
Publicado em 21/08/2024 5:35 - Victor Barone
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A história política é recheada de personagens disruptivos que, com seu discurso antissistêmico, propuseram soluções miraculosas para os dramas sociais, relegando a política a algo dispensável e até prejudicial. Muitos usaram das ferramentas da democracia para corroer os seus próprios pilares. O século XX foi recheado destes personagens absurdos e o resultado foram décadas de guerras, imperialismo, xenofobia, fundamentalismo religioso e horror.
As consequências destas décadas de conflitos desembocaram no século XXI trazendo consigo mais do mesmo. A extrema-direita voltou a chocar os ovos do fascismo enquanto a esquerda, aprisionada em velhas fórmulas ou a novas verdades absolutas agrilhoadas ao identitarismo, permanece incapaz de conversar com as novas gerações e com o “homem comum”.
O terreno está pronto para novas tragédias. Basta observar o mundo.
No Brasil, o fenômeno do bolsonarismo colheu os frutos desta semeadura. Seu discurso antipolítica, anticiência, violento, misógino, racista, burro, era tudo o que o sebastianismo ressentido do brasileiro médio precisava para mostrar, de fato, o quão longe estamos de uma suposta cordialidade.
Em São Paulo, Pablo Marçal personifica tudo isso. Em vez de trazer ao eleitor uma discussão inovadora, inteligente ou até crítica à política partidária e suas armadilhas, ele apresenta um vazio absoluto de ideias, convenientemente embrulhado em grosserias, insultos e mentiras.
Em 2018 era comum ouvirmos que Bolsonaro era um louco, que ninguém o levaria a sério, ou que, no extremo, seria contido e controlado. Não vai dar em nada, diziam alguns. O desfecho todos sabemos. Bolsonaro foi eleito presidente e o Brasil foi lançado a quatro anos de retrocessos. Por isso, não se pode menosprezar Marçal. Seguindo à risca a cartilha do bolsonarismo, ele sabe como ninguém como usar as redes sociais (onde amealha mais de 12 milhões de seguidores) para disseminar o caos.
Após tentar emplacar a mentira de que Tabata Amaral foi responsável pelo suicídio do próprio pai, Marçal vem se esforçando em vender a fake de que Guilherme Boulos é dependente de cocaína. Assim como a “mamadeira de piroca” colada em Haddad em 2018, agora o novo disruptivo da antipolítica quer colar em seu oponente acusações desprovidas de fatos. A diferença é que, há seis anos, o bolsonarismo tinha um certo pudor, temeroso das consequências judiciais de sua máquina de moer reputações. Hoje, a candidatura de Marçal desafia às autoridades. A Justiça Eleitoral manda remover postagens com fakes, eles as tira e depois publica novos ataques na terra de ninguém das redes.
No que se refere a propostas, Marçal se destaca em meio à regra nas candidaturas, que é a produção de documentos generalistas e pouco claros em relação a recursos necessários para a implementação de projetos rascunhados por marqueteiros. Mas, ele se destaca por ser ainda pior, e pira com teleféricos e prédios quilométricos para os paulistas.
Se São Paulo der espaço político a Marçal, estará premiando a loucura e o nonsense como forma de fazer política. O Brasil não precisa disso.
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VICTOR BARONE
É jornalista, poeta, professor e Mestre em Comunicação pela UFMS. É editor da Semana On desde a sua fundação.
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