17/09/2024 - Edição 550

Brasil

Sem poder parcelar, classes D e E não compram, dizem varejistas

Desemprego cai para 7,8% em agosto, menor nível desde fevereiro de 2015

Publicado em 29/09/2023 10:39 - UOL – Edição Semana On

Divulgação Pixabay

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O parcelamento sem juros no cartão de crédito é muitas vezes a única forma de uma família de baixa renda comprar itens de maior valor ou em situações de emergência, afirmam associações do varejo. A Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção e a CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) estão entre as entidades que defendem a manutenção da modalidade.

Importância do parcelado sem juros

Mais pobres não têm dinheiro disponível em emergências. Em setores como o de material de construção, em que os valores das compras são mais altos, é o parcelamento que possibilita uma compra em caso de necessidade, diz Geraldo Defalco, presidente da Anamaco. Segundo ele, o fim da modalidade poderia gerar queda de até 50% nas vendas do setor.

Parcelamento também garante aquisição de itens de maior valor. O parcelamento tornou-se um costume no comportamento do consumidor e é a forma que a população encontrou de “conquistar o que não possui ainda”, diz José César da Costa, presidente da CNDL.

“Se estoura um cano em casa, as pessoas das classes D e E não têm dinheiro disponível. Então, se ela não parcelar, ela não compra. E é o tipo de gasto que não dá para adiar”, diz Geraldo Defalco, presidente da Anamaco.

Riscos para a economia e o varejo

Fechamento de pequenas e médias empresas. As empresas que mais sofreriam com o fim do parcelamento sem juros seriam as pequenas e médias, segundo os representantes do varejo. Pesquisa do Sebrae mostra que 4 em cada 10 donos de pequenos negócios usam o cartão de crédito como modalidade de financiamento.

Parcelamento só com juros aumentaria a inadimplência, diz Costa. “A pessoa terá mais dificuldade de cumprir seus compromissos, e vai cair mais facilmente no rotativo do cartão de crédito”, afirma. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, 80% da população avalia que teria mais dívidas sem o parcelado sem juros. O levantamento aponta também que 63% dos consumidores de baixa renda temem passar necessidade, se não puderem mais parcelar sem juros compras de itens como alimentação, remédios e higiene básica.

Varejistas seriam levados a correr mais risco. Os lojistas seriam forçados a financiar o cliente por conta própria, em especial nos setores com compras de mais alto valor, avalia Defalco, da Anamaco. Isso representaria aumento de risco, em especial para os pequenos lojistas. “Eles não têm experiência em análise de crédito e podem se perder nessa operação”, diz.

“O parcelamento é muito usado em produtos de maior valor, porque faz com que as parcelas caibam no orçamento. Sem isso as vendas serão reduzidas de forma expressiva”, afirma José César da Costa, presidente da CNDL.

Parcelamento está disseminado

Milhões de consumidores têm compras parceladas. Segundo pesquisa da CNDL, 51% dos entrevistados disseram que tinham prestações de compras no cartão de crédito, cartão de lojas, crediário ou cheque pré-datado a pagar. A partir desse número, o estudo estima que 71 milhões de consumidores tenham contas parceladas. Os entrevistados tinham em média 5,6 parcelas de compras no crédito.

A forma preferida de parcelamento é o cartão de crédito, citado por 73% dos entrevistados. Em seguida vem o PIX parcelado, com 9%. Dentre as categorias em que mais usa o parcelamento no cartão estão roupas e acessórios (41% preferem o usar o cartão) e eletroeletrônicos (50%). A pesquisa ouviu 667 pessoas e tem margem de erro de 3,8 pontos percentuais.O estudo foi realizado pela CNDL e pelo SPC Brasil em parceria com a Offerwise, entre 31 de julho e 8 de agosto.

Os dados também evidenciam a elevada oferta de crédito pelas instituições financeiras e a inadimplência alta. Dentre os entrevistados, 47% disseram que receberam oferta de cartão de crédito; 32%, de cartão de loja; 30%, de empréstimo pré-aprovado; e 24% receberam oferta de aumento do limite do cheque especial. Dentre os entrevistados, 34% disseram que ficaram com o nome sujo devido à inadimplência no pagamento das compras parceladas, sendo 21% devido ao cartão de crédito. Outros 60% não foram negativados.

Entenda a discussão

Recentemente, presidente do BC falou em “disciplinar” parcelamento. Roberto Campos Neto levantou a possibilidade de se criar uma tarifa para desincentivar o parcelamento sem juros no cartão de crédito. A continuidade ou não das compras parceladas sem juros abriu uma briga entre grandes bancos, varejo e fintechs.

Entidades do setor de comércio e serviços se uniram para defender a modalidade de pagamento. Elas pedem que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não permita que os bancos acabem com o parcelamento sem juros. Além da CNDL e da Anamaco, integram a campanha a Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e a Afrac (Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços).

Governo e Congresso buscam reduzir os juros do cartão e a inadimplência. Um projeto em tramitação no Senado estabelece um teto de 100% para os juros do rotativo e estipula prazo para uma solução acordada com os bancos. O texto não aborda, no entanto, o parcelamento de compras sem juros, modalidade apontada pelos bancos como responsável pelas altas taxas —que chegaram em agosto a 445,7% ao ano.

A Febraban diz que os juros do rotativo do cartão ajudam a cobrir o custo das operações do parcelado sem juros. Segundo a entidade, cerca de 75% das operações de cartão são no modelo de parcelado sem juros. A entidade diz que defende a discussão sobre as causas dos juros praticados e um redesenho do rotativo. Mas quer que, de outro lado, seja feito um “aprimoramento do mecanismo de parcelamento de compras”.

Desemprego cai para 7,8% em agosto, menor nível desde fevereiro de 2015

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 7,8% no trimestre encerrado em agosto, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua divulgados nesta sexta-feira (29) pelo IBGE.

O que diz a PNAD

É o menor nível desde fevereiro de 2015, quando estava em 7,5%. É também a menor taxa de desempregado para um trimestre encerrado em agosto desde 2014 (7%). Em julho, o índice ficou em 7,9%, segundo o IBGE. A taxa caiu 0,5 ponto percentual frente ao trimestre encerrado em maio (8,3%). Em comparação com o mesmo período de 2022 (8,9%), a queda é de 1,1 ponto percentual.

País ainda tem 8,4 milhões de desempregados. A população desocupada, porém, recuou 5,9% (ou 528 mil pessoas) no trimestre e caiu 13,2% (menos 1,3 milhão de pessoas) em um ano. Foi o menor contingente desde o trimestre móvel encerrado em junho de 2015 (8,5 milhões), de acordo com o IBGE.

A população ocupada chegou a 99,7 milhões, um crescimento de 1,3% (ou 1,3 milhão de pessoas) em relação ao trimestre encerrado em maio. Em 12 meses, a alta é de 0,6% (ou 641 mil pessoas).

Nível de ocupação também cresceu no período. O percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar foi calculado em 57%, um aumento de 0,6 ponto percentual frente ao trimestre de fevereiro a abril (56,4%).

“Esse quadro favorável pelo lado da ocupação é o que permite a redução do número de pessoas que procuram trabalho”, diz Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE.

“A redução na taxa de desemprego foi acompanhada pelo aumento na taxa de participação, mostrando que mais pessoas em idade ativa estão inseridas no mercado de trabalho. Esse é um dado importante para entendermos a qualidade na queda do desemprego”, afirma André Meirelles, diretor da InvestSmart XP.

Massa salarial bate recorde

Rendimento real foi de R$ 2.947 no trimestre encerrado em agosto. O valor ficou praticamente estável em relação aos três meses encerrados em maio, quando foi de R$ 2.914. No ano, porém, a renda média cresceu 4,6%.

Massa de rendimento real cresce e bate recorde. A massa de rendimento salarial chegou a R$ 288,9 bilhões em agosto, batendo o recorde da série histórica (R$ 286,9 bilhões em julho deste ano). O valor subiu 2,4% frente ao trimestre anterior e 5,5% na comparação anual.

“Nos chama atenção o comportamento da massa salarial, que continua subindo e mais uma vez bateu recorde. Isso indica que o PIB deste ano deve avançar de maneira mais significativa”, afirma o economista André Perfeito.

Mais trabalhadores formais

Número de trabalhadores com carteira assinada cresceu em agosto. O total de empregados formais no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) chegou a 37,248 milhões em agosto, o maior contingente desde fevereiro de 2015. O número representa alta de 1,1% (422 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e de 3,5% (1,3 milhão) em um ano.

Informalidade também aumentou no trimestre, mas ficou estável ante 2022. O número de trabalhadores sem carteira no setor privado cresceu 2,1% (mais 266 mil pessoas) nos três meses encerrados em agosto, passando para 13,2 milhões. Em relação ao mesmo período do ano passado, há estabilidade.

Taxa de informalidade é de 39,1% da população ocupada. O percentual equivale a 38,9 milhões de trabalhadores informais, considerando todos os setores da economia. No trimestre anterior, a taxa era de 38,9%; no mesmo trimestre de 2022, de 39,7%.

Ocupação por grupo

Aumento da ocupação é puxado por três grupos de atividades. O maior crescimento em relação ao trimestre terminado em maio foi no setor de Serviços domésticos (2,9%), que ganhou mais 164 mil pessoas ocupadas. Em seguida, aparecem Administração pública, Defesa, Seguridade social, Educação, Saúde humana e Serviços sociais, com alta de 2,4% (422 mil pessoas), e Informação, Comunicação e Atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (+2,3%, ou 275 mil pessoas)

“No geral, houve resultado positivo também porque nenhum outro grupo registrou perda estatística de trabalhadores. Mas esses três grupamentos, em especial, contribuíram no processo de absorção de trabalhadores”, diz Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE.

PNAD x Caged

Caged reúne dados do governo federal sobre empregos formais. Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados se referem apenas a trabalhadores com carteira assinada (CLT), e são as próprias empresas que preenchem as informações no sistema. A divulgação do Caged de agosto está prevista para segunda-feira (2).

Pesquisa do IBGE é mais ampla, e inclui o mercado de trabalho informal. O levantamento da Pnad é feito a partir de entrevistas feitas com uma amostra da população sobre sua situação de trabalho. A pesquisa compreende tanto os trabalhadores formais quanto os informais.

PNAD é o principal instrumento para monitorar a força de trabalho no país. A amostra da pesquisa corresponde a 211 mil domicílios brasileiros. Cerca de dois mil entrevistadores trabalham no levantamento, em todos os 26 estados e no Distrito Federal.


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