Brasil
Publicado em 21/12/2018 12:00 -
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A queda do endividamento das famílias em um ritmo mais lento do que o esperado é um dos componentes que explicam a trajetória oscilante do consumo nos últimos meses e, em consequência, a lentidão da recuperação econômica como um todo.
Especialistas esperavam que essa redução fosse um pouco mais rápida neste ano.
Nas contas da AC Pastore, consultoria do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, a previsão era que o peso das dívidas sobre a renda das famílias chegasse ao fim de 2018 um ponto percentual menor, ao redor de 19%.
Esse movimento liberaria cerca de R$ 30 bilhões à economia, segundo Marcelo Gazzano, economista da AC Pastore.
Supondo que tudo fosse direcionado às compras, o consumo das famílias brasileiras encerraria este ano 0,7 ponto percentual maior e adicionaria 0,4 ponto ao PIB (Produto Interno Bruto).
Parece pouco, mas significaria um gás na mediana das previsões atuais, de alta de 1,3% para 1,7% do PIB de 2018.
Gazzano explica que, hoje, a massa salarial ampliada está em R$ 3,173 trilhões. Aplicando a folga esperada (1%) sobre esse total, se chegaria a algo próximo ao montante bilionário a ser injetado na economia brasileira.
No entanto, a fatia da renda das famílias direcionada ao pagamento da dívida principal mais seus juros fica ao redor de 20% pelo menos desde outubro de 2017, segundo dados divulgados pelo Banco Central.
“Claro que não é possível dizer que tudo seria consumido, mas, ainda que fosse uma parte, os efeitos sobre a economia seriam significativos”, afirma Gazzano.
Para ele, o consumo das famílias deve crescer 2,1% em 2019, desempenho insuficiente, afirma o economista, para liderar a retomada do PIB.
Qualquer soluço no consumo é visto com bastante apreensão porque ele representa 64% do PIB brasileiro, sendo considerado, portanto, o grande motor da economia.
Em um cenário que já era de morosidade, o comércio varejista fechou outubro, por exemplo, no vermelho, e a expectativa é de um ano bastante morno no setor.
Além da saída mais demorada do endividamento, a reação lenta da renda também chama a atenção, em um contexto de alta da informalidade no mercado de trabalho.
Hoje, há 12,4 milhões de desempregados e, entre os ocupados, cerca de 40% são informais. “Indivíduos na informalidade têm menor propensão a consumir, uma preocupação adicional”, diz Gazzano.
O Itaú Unibanco diz que os indicadores que sinalizam o que está acontecendo com o consumo —como licenciamento e vendas de veículos, sondagens do consumidor e consultas aos serviços de proteção ao crédito— apontam para estagnação em novembro.
Mesmo diante desse quadro, diz Artur Passos, economista do banco, os bens de consumo que, para crescer, dependem mais de crédito têm obtido desempenho melhor do que os bens ligados à renda.
Em divisão feita pelo banco, setores mais sensíveis a crédito (veículos, construção civil, móveis e eletrodomésticos) sobem 9,5% em outubro em relação a dezembro de 2017.
Já os sensíveis à renda, como roupas e alimentos, avançam 2%, em linha com o crescimento da massa salarial.
Com a melhora esperada do emprego formal, afirma Passos, setores ligados à renda devem se destacar.
O resultado do varejo vem decepcionando, mas a MCM Consultores diz que é preciso avaliar até que ponto isso decorre da postergação de consumo em razão, por exemplo, da Black Friday em novembro.
Contando com um bom desempenho do varejo em novembro, a consultoria Rosenberg Associados mantém projeção de alta de 2,6% para o varejo em 2018 —distante do pico mais recente, em 2013, quando subiu mais de 4%.
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