04/10/2024 - Edição 550

Brasil

Desigualdade entre escolas pobres e ricas é de 4 anos ao fim do ensino fundamental

Alunos terminam Ensino Médio sem saber calcular porcentagem, aponta Ideb

Publicado em 16/08/2024 9:55 - Semana ON, ICL Notícias – Edição Semana On

Divulgação

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Dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2023 revelam que a desigualdade entre escolas públicas que atendem alunos mais pobres e mais ricos continua significativa. Embora tenha havido uma leve oscilação em relação aos números de 2021, ano marcado pela pandemia, a disparidade permanece. Ao final do ensino fundamental, a diferença de aprendizado entre alunos de escolas mais pobres e mais ricas equivale a quatro anos.

O Ideb de 2023, divulgado nesta quarta-feira (14) pelo MEC (Ministério da Educação), é calculado a partir de dois componentes: a taxa de aprovação das escolas e o desempenho dos alunos nas provas de matemática e língua portuguesa do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). As avaliações são realizadas a cada dois anos e abrangem três etapas: anos iniciais (5º ano) e finais (9º ano) do ensino fundamental, além do ensino médio.

Embora as médias nacionais reflitam uma visão geral, elas escondem desafios específicos enfrentados por cada escola e rede de ensino. Um dos fatores mais relevantes é o nível socioeconômico dos estudantes. Estudos já demonstraram que é mais desafiador melhorar os resultados acadêmicos entre alunos de famílias de baixa renda.

Ao cruzar os dados do Ideb 2023 e 2021 com o INSE (Índice de Nível Socioeconômico), elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), observou-se uma disparidade preocupante. Em 2023, a diferença média do Ideb entre escolas com níveis socioeconômicos mais baixos e mais altos foi de 1,7 ponto, uma leve redução em relação aos 1,77 pontos de 2021. Para se ter uma ideia do progresso nacional, desde 2007, quando o Ideb foi criado, o Brasil avançou apenas 1,2 ponto no indicador para os anos finais do ensino fundamental em escolas públicas.

A desigualdade também se reflete nas disciplinas avaliadas pelo Saeb. Em língua portuguesa, a diferença entre as escolas de menor nível socioeconômico e as de nível mais alto foi de 45,9 pontos em 2023, uma queda em relação aos 51,2 pontos de 2021. Já em matemática, a distância foi de 43,9 pontos, menor que os 52,4 pontos de dois anos atrás. Como uma variação de 12 pontos no Saeb equivale a um ano de aprendizado, essa diferença de mais de 40 pontos indica que alunos de escolas mais pobres têm um atraso de cerca de quatro anos em relação aos mais ricos.

A pandemia de coronavírus, que resultou no fechamento das escolas em 2021, contribuiu para uma queda generalizada no aprendizado em todas as etapas da educação básica. Contudo, em 2023, mais escolas participaram da avaliação federal, o que permitiu uma análise mais abrangente, também levando em conta o INSE.

O Inep classificou as escolas brasileiras em sete níveis socioeconômicos, de acordo com dados divulgados em 2021. Como há poucas escolas nos níveis extremos (1 e 7), a reportagem agrupou essas escolas em cinco intervalos para uma análise mais equilibrada. Tanto o Ideb quanto as notas do Saeb mostraram uma clara correlação: quanto maior o nível socioeconômico, melhor o desempenho.

Curiosamente, em 2023, as escolas com alunos mais pobres apresentaram uma recuperação nas notas de português e matemática, enquanto as escolas mais ricas registraram uma queda em relação a 2021. Segundo Ernesto Martins Faria, diretor do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), essa recuperação faz sentido, uma vez que os alunos mais pobres foram os mais afetados pela pandemia. Eles tiveram menos acesso à internet e retornaram mais tardiamente às aulas presenciais, ao contrário dos alunos de maior nível socioeconômico.

A média do Ideb para os anos finais do ensino fundamental em escolas públicas foi de 4,7 em 2023, abaixo da meta de 5,2 estabelecida para 2021. Aproximadamente 8.900 escolas com alunos nos três níveis socioeconômicos mais baixos ficaram abaixo da média nacional, enquanto as 12 mil escolas nos níveis mais altos registraram uma média superior, de 5 pontos. Nas escolas do grupo com os dois maiores níveis socioeconômicos, a média foi de 5,6, superando a meta de 2021.

Embora as médias indiquem uma tendência geral, há exceções. Algumas escolas com alunos de famílias mais pobres conseguiram superar a média nacional. Um exemplo disso são as 60 escolas que, mesmo localizadas em áreas mais vulneráveis, atingiram ou superaram a nota de 6,3 nos anos finais do ensino fundamental, desempenho equivalente à média das escolas particulares nessa etapa.

Alunos terminam Ensino Médio sem saber calcular porcentagem, aponta Ideb

Os resultados do Ideb de 2023 revelaram a estagnação do sistema educacional brasileiro, que permanece em níveis de aprendizado alarmantemente baixos. A falta de avanços no ensino ao longo da trajetória escolar resulta em alunos que concluem o Ensino Médio sem dominar conceitos básicos, como o cálculo de porcentagem.

O Ideb é calculado a partir dos resultados das provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avalia os estudantes em Matemática e Português. As notas de 2023 indicam que a média nacional continua muito abaixo do esperado.

Estudantes do 3º ano do Ensino Médio em escolas públicas, por exemplo, alcançaram uma média de 264,6 pontos em Matemática e 270,2 em Língua Portuguesa, o que os coloca no nível 2 de proficiência em uma escala de 1 a 8. Com esse nível de conhecimento, eles são capazes de interpretar ironia em quadrinhos e entender tabelas, mas ainda não conseguem realizar cálculos de porcentagem ou resolver problemas matemáticos que envolvam operações fundamentais com números naturais. O Ensino Médio, inclusive, é considerado um dos principais desafios da educação básica no Brasil.


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