Brasil

Decisiva para o voto, cesta básica acumula alta de mais de 18% em capitais

Com maior inadimplência em 12 anos, endividamento atinge 79,3% das famílias

Publicado em 11/10/2022 1:01 - Leonardo Sakamoto e Weudson Ribeiro (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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O preço da cesta básica caiu em 12 das 17 capitais monitoradas pelo Dieese em setembro, o que seria uma boa notícia para a campanha de Jair Bolsonaro. Contudo, a alta acumulada nos últimos 12 meses vai de 8,4% (Vitória) a 18,5% (Recife). Em 12 das capitais, um Auxílio Brasil de R$ 600 não consegue comprar uma cesta.

Na capital paulista, o aumento foi de 0,13% e, na mineira, 1,88% em setembro, enquanto que, nos últimos 12 meses, as altas foram de 11,48% e 11,59%, respectivamente. Já na capital baiana, houve queda de 2,88% neste mês e alta acumulada de 17% no último ano.

As três cidades comandam os estados que devem ser os palcos principais da disputa do segundo turno.

A notícia é ruim para a campanha do presidente Jair Bolsonaro que procura avançar nos votos das camadas mais pobres onde a vantagem de seu concorrente é maior. Pois apesar do país ter vivido três meses de deflação, o preço da comida ainda é alto.

A cesta básica em São Paulo, a mais cara do país, foi para R$ 750,74. Ou seja, foi preciso R$ 150,74 além do valor total do Auxílio Brasil para compra-la. Já em Belo Horizonte, a cesta custou R$ 50,16 além dos R$ 600 do benefício. Em Salvador, após comprar a cesta, ainda sobrou R$ 39,69.

Em São Paulo, entre os 13 produtos que compõem a cesta, nove tiveram aumento nos preços médios, na comparação com o mês anterior: banana (5,57%), manteiga (5,15%), batata (3,80%), farinha de trigo (2,45%), café em pó (1,69%), arroz agulhinha (1,02%), açúcar refinado (0,99%), carne bovina de primeira (0,45%) e pão francês (0,35%).

São Paulo e Minas Gerais são os dois maiores colégios eleitorais do país. No primeiro, Bolsonaro teve 47,7% (ou 12,2 milhões de votos), enquanto Lula ficou com 40,9% (10,5 milhões). Já em Minas, o petista teve 48,3% (5,8 milhões) e o atual presidente, 43,6% (5,2 milhões).

Além disso, Minas é um Estado-pêndulo, ora votando com a direita, ora com a esquerda. E quem leva essa unidade da federação ganha a eleição desde a redemocratização.

Bolsonaro também deve centrar esforços na Bahia para reverter a enorme vantagem de Lula – o petista teve 69,7% dos votos (5,9 milhões) enquanto o presidente ficou com 24,3% (2 milhões)

O governo ainda aposta no Auxílio Brasil de R$ 600 para render votos entre quem ganha até dois salários mínimos. Pesquisas apontaram no primeiro turno que as intenções de voto do presidente não se alteraram significativamente entre quem recebeu o benefício.

Uma das razões para isso é que a massa dos mais pobres não sentiu a chamada percepção coletiva de melhora da qualidade de vida. Afinal, não é a chegada dos R$ 600 às contas individuais dos beneficiários que muda o voto, mas as famílias perceberem que a vida delas e de sua comunidade está, de fato, melhor.

E um dos motivos para isso ainda não ter ocorrido é que os alimentos seguem com os preços nas alturas.

Mesmo assim, nesta semana, o governo federal informou que vai antecipar o calendário de pagamentos do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás em outubro. Antes, eles terminariam um dia após a votação, agora terminarão cinco dias antes.

Também anunciou que está incluindo mais 500 mil famílias entre os que recebem o benefício neste mês eleitoral. E Jair Bolsonaro prometeu que, se eleito, vai começar a pagar uma 13º parcela do auxílio para as mulheres.

Se o pagamento do benefício não gerou ganhos eleitorais ao presidente, pode ter segurado perdas. Afinal, a campanha de Jair Bolsonaro não iria insistir, neste momento, em garantir votos dos mais pobres via liberação distribuição de dinheiro se a estratégia tivesse apenas gerando votos ao seu adversário.

Com maior inadimplência em 12 anos, endividamento atinge 79,3% das famílias

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgada hoje pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), apontou que, em setembro deste ano, o total de lares brasileiros com dívidas a vencer chegou a 79,3%, o terceiro aumento consecutivo em 2022.

No entanto, esse aumento de 0,3 ponto percentual, em relação a agosto, desacelerou e é o menor desde abril deste ano.

Na comparação com setembro do ano passado, a proporção de endividados também reduziu o ritmo de crescimento, com aumento de 5,3 pontos percentuais, o que corresponde à menor taxa anual desde julho de 2021.

“É possível verificar que a melhora gradual do mercado de trabalho, as políticas de transferência de renda e a queda da inflação nos últimos dois meses são fatores que geram maior disponibilidade de renda para as famílias. Por outro lado, podemos observar que o alto nível de endividamento e os juros elevados afetam, sobremaneira, o orçamento das famílias de menor renda, ao encarecerem as dívidas já contraídas”, observa o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

Em setembro, a proporção de endividados entre os consumidores com renda inferior a 10 salários mínimos aumentou 0,4% e atingiu 80,3%, o maior patamar da série histórica da pesquisa.

No grupo de famílias com maior renda, a proporção de endividados manteve-se estável em setembro, mas cresceu mais na comparação anual (ampliação de 7 p.p.) do que entre as famílias de menor renda.

Também no último mês, o volume de consumidores que atrasaram o pagamento de dívidas atingiu 30%, o maior desde o início da pesquisa, em 2010. Esse é o terceiro aumento mensal consecutivo da taxa, que evoluiu 0,4 p.p.

Ao contrário do endividamento, que cresceu em ritmo menor, em um ano, o indicador de dívidas atrasadas expandiu 4,5%, a maior taxa anual desde março de 2016.

“Embora os atrasos tenham crescido no mês e no ano entre os consumidores nas duas faixas de renda, as dificuldades de pagamento de todos os compromissos do mês são mais latentes entre as famílias de menor renda”, analisa a economista da CNC responsável pela apuração, Izis Ferreira.

Segundo ela, esses consumidores seguem enfrentando desafios na gestão de seus orçamentos mensais, especialmente porque o nível de endividamento está elevado e os juros maiores pioram as despesas com as dívidas. As taxas de juros nas linhas de crédito para pessoas físicas cresceram 13,5 pontos percentuais. em um ano, de acordo com os dados do Banco Central, chegando à média de 53,9%, a maior taxa desde abril de 2018.

Cartão de crédito e endividamento

A maior parte das famílias que relatam estar endividadas, 85,6%, possui contas a vencer no cartão de crédito, que apresentou também a maior alta em um ano, de 1 ponto percentual.

O ritmo de endividamento no cartão também vem desacelerando, em razão do maior custo desse tipo de dívida. Em seguida, entre as que cresceram, vêm as dívidas nos carnês de loja, que representam 19,4% e aumentaram 0,6 p.p. no ano, e as no cheque especial, que são 5,2% e tiveram crescimento de 0,6 p.p.

Cartão de crédito representa a maioria das dívidas em setembro (tipos de endividamento em %):

  • Cartão de crédito: 84,6
  • Carnês: 18,8
  • Financiamento de carro: 13,2
  • Financiamento de casa: 9,7
  • Crédito pessoal: 9,0
  • Crédito consignado: 7,1
  • Cheque especial: 4,6
  • Outras dívidas: 1,7
  • Cheque pré-datado: 0,6
  • Não respondeu: 0,3

Nas dívidas diretas com o varejo, o volume de endividados nos carnês de loja cresce desde maio deste ano. No recorte por faixa de renda, a proporção de endividados nos carnês entre os com até 10 salários mínimos de rendimentos atingiu o maior volume desde fevereiro (20,1%, um aumento de 0,3 p.p. ante agosto).

Mulheres endividadas em cartão de crédito; homens, em carnês de loja. O endividamento avançou 0,9 ponto percentual entre as mulheres, de agosto para setembro (eram 80%, agora são 80,9%), enquanto caiu ligeiramente entre os homens (0,1 p.p., de 78,3% para 78,2%). No intervalo de um ano, as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens (aumento de 5,9 p.p. e 5,1 p.p., respectivamente).

As mulheres são as mais endividadas no cartão de crédito e no cheque especial, atualmente. Nas demais modalidades de dívida, como carnês de loja, crédito pessoal, financiamento de carro e casa ou crédito consignado, por exemplo, o público masculino é mais numeroso, superando o feminino.


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