10/09/2024 - Edição 550

Brasil

Bancos precisam restituir grana roubada por golpistas e não culpar a vítima

De acordo com o Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 4,6 mil pessoas são alvo de tentativas de golpe por hora no Brasil

Publicado em 13/08/2024 9:56 - Josias de Souza - UOL

Divulgação Victor Barone - Photoshop

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Um rosário de amigos e amigas e pessoas da minha família já foram vítimas de golpes financeiros, alguns deles perceberam que estavam sendo enganados a tempo, outros não tiveram a mesma sorte e ficaram no prejuízo, uma vez que o banco deu uma banana para o pedido de restituição. De acordo com o Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 4,6 mil pessoas são alvo de tentativas de golpe por hora no Brasil.

Empurrar, como em uma peça de Nelson Rodrigues, as vítimas a pedirem perdão por terem sido enganadas é estupidez. Como exigir a todas as pessoas idosas, um dos principais alvos dos bandidos, estarem atualizadas com os novos golpes na praça? Desconfiar sempre, desligar o telefone e ligar para a gerência do banco ajuda, mas os criminosos sempre estão um passo à frente. Quando uma sacanagem nova é comprometida, inventam outra.

Os bancos e o setor financeiro, que acumulam lucros bilionários, precisam arcar com as perdas relacionadas à fragilidade do sistema de relacionamento com os clientes. Ou oferecer um sistema praticamente a prova de falhas. Hoje, a depender do caso, eles dizem que a culpa é da vítima, dão uma de Pôncio Pilatos e fica por isso mesmo.

Não adianta o Banco do Brasil, só para citar uma das instituições que mais deu banana a conhecidos meus, fazer propaganda ensinando consumidores a evitarem golpes se continuarem negando restituição de valores. Isso é terceirizar o prejuízo, enquanto os lucros continuam sendo só deles.

“Ah, mas também há um trabalho para melhorar os sistemas internos.” Não importa, enquanto, não produzirem resultados efetivos, deveriam arcar com as consequências disso.

Ao mesmo tempo, o poder público precisa atualizar seus sistemas e procedimentos de inteligência para investigar e prender rapidamente as quadrilhas envolvidas nesse tipo de fraude. A impressão é que a polícia é 1.0 enquanto os criminosos já estão no 4.0.

A sensação de impunidade decorrente da percepção de que o Estado é incapaz ou lento para punir quem aplica golpes faz com que eles se multipliquem.

É a mesma percepção de uma sociedade que é incapaz de punir quem cometeu um golpe de Estado, permitindo que novos golpistas surjam. O Brasil preferiu deixar para lá, em nome de uma suposta conciliação, e não não puniu os envolvidos no golpe de 1964, nem mesmo os carniceiros que torturavam em nome deles. Pelo contrário, incensa até hoje os que assinaram o AI-5 quando um deles morre.

O resultado disso é que novos golpes continuam sendo orquestrados por civis e militares, como aquele planejado a partir da derrota da eleição de outubro de 2022 pelo bolsonarismo. Ironicamente, tal como acontece em um golpe telefônico, os defensores dos golpistas no Congresso e na mídia colocaram a culpa pelos ataques no governo recém-eleito pela invasão e destruicão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Tal como um cliente de banco roubado, disseram que o golpe só foi tentado porque o governo não estava alerta.

Se a polícia e a justiça não fizerem seu papel, colocando na cadeia golpistas de contas bancárias e golpistas da democracia, vamos continua vendo sacanagens se repetirem. E as vítimas serem duplamente punidas: na hora do golpe e na hora de contarem os prejuízos.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *