04/10/2024 - Edição 550

Saúde

Saúde negocia compra de 25 mil doses de vacina contra mpox

OMS declara doença como 'emergência global', a primeira desde fim da covid-19

Publicado em 15/08/2024 3:58 - Paula Laboissière (Agência Brasil), Jamil Chade (UOL) – Edição Semana On

Divulgação WHO / Katson Maliro

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A aquisição emergencial de 25 mil doses de vacina contra a mpox está sendo negociada pelo Ministério da Saúde com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O anúncio foi feito pela pasta, nesta quinta-feira (15). A doença foi declarada emergência em saúde pública de importância internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Durante a primeira emergência global por mpox, em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial da vacina Jynneos para combater a doença, já que o insumo não era licenciado no Brasil. A autorização foi renovada em fevereiro deste ano, mas venceria novamente este mês. O ministério já fez um novo pedido de renovação.

Segundo a Anvisa, o imunizante é destinado a adultos com idade igual ou superior a 18 anos e tem prazo de até 60 meses de validade, quando conservado entre -60 graus Celsius (°C) e -40°C. A prorrogação da dispensa temporária e excepcional é válida por seis meses e se aplica somente ao ministério.

Público-alvo

Desde 2023, mais de 29 mil doses contra a mpox foram aplicadas no Brasil. O público-alvo definido à época da primeira emergência incluiu pessoas vivendo com HIV/aids de 18 a 49 anos, independentemente do status imunológico identificado pela contagem de linfócitos TCD4; e profissionais de laboratórios do tipo NB-2 com idade entre 18 e 49 anos e que trabalham com o Orthopoxvirus.

Quem teve contato direto com fluidos e secreções corporais de pacientes com suspeita de infecção por mpox também integrou o público-alvo definido pelo ministério para ser imunizado contra a doença, mas mediante avaliação da vigilância local.

Vigilância

“Estamos numa fase em que o que é importante é a vigilância e o monitoramento”, destacou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. “Muitas vezes, as pessoas ficam ansiosas. A vacina sempre gera uma grande expectativa. Mas é importante reiterar que, nos casos em que se recomenda a vacinação, ela é muito seletiva, focada em públicos-alvo muito específicos até este momento”, explicou a ministra.

“A vacina Jynneos é de um produtor nórdico e tem uma produção pequena. Há insuficiência no mercado internacional”, ressaltou a secretária de Vigilância em Saúde do ministério, Ethel Maciel. “Neste momento, estamos negociando com a Opas um processo de compra. Para que, além daquelas pessoas que já vacinamos, ter uma reserva no Brasil”, completou.

Segundo Ethel, dentro das configurações da nova emergência global instalada pela OMS, o Brasil está no nível 1, o menos alarmante, com cenário de normalidade para a doença e sem casos da nova variante identificada na República Democrática do Congo, na África. O último óbito pela doença em solo brasileiro foi registrado em abril de 2023.

De acordo com o ministério, o nível 2 refletiria um cenário de mobilização, com detecção de casos importados no Brasil; o nível 3, cenário de alerta, com detecção de casos autóctones esporádicos; o nível 4, situação de emergência, com transmissão sustentada em território nacional; e o nível 5, situação de crise, com uma epidemia de mpox instalada no país.

OMS declara mpox como ‘emergência global’, a primeira desde fim da covid-19

A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou nesta quarta-feira (14) emergência sanitária global por causa da proliferação dos casos de mpox, novo nome usado pela entidade para designar a “varíola dos macacos”. A epidemia é a primeira emergência sanitária de preocupação global declarada pela OMS desde o fim da covid-19, anunciado em maio de 2023.

Para cientistas, o padrão do surto, as características do vírus, as populações afetadas e o local de origem se assemelham aos primeiros dias da epidemia do HIV.

Hoje, o vírus está presente em 13 países. Em dois deles — República Democrática do Congo e Burundi — a transmissão é comunitária. O Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África) já havia declarado uma “emergência de saúde pública” diante da proliferação do vírus mpox no continente.

Em 2022, uma emergência já havia sido declarada, quando uma outra linhagem do vírus foi identificado em mais de 70 países e atingiu 100 mil pessoas. Menos de 1% dos casos levaram à morte das pessoas infectadas.

Mas a onda de novos casos, agora de uma nova linhagem do vírus, levou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a convocar uma reunião de emergência na sede da entidade, em Genebra.

Segundo ele, no ano passado, os casos aumentaram “de forma preocupante”. Só neste ano, foram mais de 14 mil casos e mais de 500 mortes, superior a todo o volume de 2023. O aumento em 2024 é de 160’% em comparação ao ano passado. O que surpreendeu ainda a OMS é a incidência de casos entre crianças de menos de 15 anos. No Congo, essa população representa 85% dos casos.

Depois de avaliar a situação, os técnicos da OMS recomendaram ao diretor da agência que declarasse uma “emergência sanitária de preocupação internacional”. Tedros acatou o pedido, numa decisão para coordenar uma resposta da comunidade internacional e pedir que governos em todo o mundo estejam preparados para identificar o surto.

A esperança da OMS, ainda, é que a declaração da emergência mobilize recursos internacionais para ampliar a produção de vacinas ou mesmo para entender os caminhos da transmissão.

O objetivo é que o surto não se espalhe ainda mais. Não se trata, porém, de uma pandemia.

“Está claro que uma resposta coordenada internacional é essencial para interromper esse surto e salvar vidas”, disse Tedros. A diretora técnica da OMS, Maria van Kerkhove, admitiu que um dos obstáculos é ainda entender como a doença é transmitida.

Vacinas em falta

Um dos problemas é a baixa produção de vacinas contra o mpox. Empresas têm estoques de apenas 500 mil doses e podem produzir mais 2,5 milhões de unidades até o final do ano. Para 2025, a estimativa é que 10 milhões de doses poderiam ser produzidas. Mas o volume é considerado insuficiente.

Para a entidade, existe uma “transmissão contínua da mpox em todo o mundo”. Apenas no mês de junho, a OMS identificou quase mil casos, com liderança da África (567 casos), seguida por América (175 casos), Europa (100 casos) e Pacífico Ocidental (81 casos).

O epicentro do surto é a República Democrática do Congo, com 96% dos casos confirmados em junho. Para a OMS, porém, os números reais podem ser muito maiores, já que milhares de pessoas ficam sem testes e diagnósticos.

Pelo menos quatro novos países na África Oriental —Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda— reportaram seus primeiros casos de mpox. Já a Costa do Marfim registra um surto da doença, mas de outra variante, enquanto a África do Sul confirmou mais dois casos.

Entre 2022 e 2024, casos também foram identificados fora da África, com 33 mil nos EUA, 11 mil no Brasil, 8.000 na Espanha e 4.200 na França.

Os homens são as principais vítimas, com 96% dos casos. De acordo com a OMS, a via mais comum de transmissão da doença tem sido o contato sexual. Metade dos casos confirmados foi registrada em pessoas portadoras do vírus HIV. Mas a agência insiste que esse não é o único meio e teme a estigmatização dos afetados.

A OMS ainda listou os principais sintomas da doença, incluindo erupção cutânea, febre e erupção genital.

O mpox foi descoberto pela primeira vez em seres humanos em 1970, no antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo). Naquele momento, tratava-se da propagação do subtipo clade I. A atual variante é uma mutação desse vírus original, ainda mais letal.

A OMS já havia ficado em alerta quando, em 2022, uma epidemia mundial do subtipo clade 2 propagou-se para uma centena de países onde a doença não era endêmica, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais. Em maio de 2023, o alerta foi retirado.


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