02/11/2024 - Edição 550

Saúde

Novo estudo reforça ligação entre intestino e doença de Parkinson

Cientistas administraram uma proteína chamada alfa-sinucleína, associada com o desenvolvimento do Parkinson

Publicado em 20/10/2024 11:16 - Semana On

Divulgação

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Cientistas dos Estados Unidos identificaram novas evidências que reforçam a hipótese de que a doença de Parkinson pode ter origem no intestino. A pesquisa, que analisou dados de mais de 9.000 participantes sem histórico prévio da doença, revelou um risco aumentado para o desenvolvimento da neurodegeneração entre aqueles que apresentavam danos na mucosa gastrointestinal superior, especialmente na região analisada por meio de endoscopia.

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O professor Eduardo Zimmer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que é comum que pacientes com Parkinson sofram de constipação, o que despertou o interesse de pesquisadores para investigar uma possível relação entre o intestino e o cérebro. “Existe um eixo de comunicação direto entre esses dois órgãos, especialmente importante para o sistema nervoso”, destaca Zimmer.

A pesquisa americana, publicada na prestigiada revista científica Jama (Journal of American Medical Society), administrou uma proteína chamada alfa-sinucleína – associada ao desenvolvimento do Parkinson – em pacientes. Posteriormente, essa mesma substância foi encontrada no cérebro dos participantes, sugerindo que ela consegue ultrapassar as barreiras fisiológicas de proteção cerebral.

Danos na mucosa e desenvolvimento da doença

O estudo revelou que cerca de 25% dos pacientes analisados apresentaram danos na mucosa gastrointestinal superior, que os especialistas atribuíram a diversos fatores, como infecções por Helicobacter pylori (bactéria comum no trato digestivo), uso prolongado de anti-inflamatórios, refluxo, tabagismo e constipação. Quinze anos após a coleta inicial dos dados, os cientistas acompanharam a saúde desses voluntários e observaram que aqueles com danos na mucosa apresentavam uma probabilidade maior de desenvolver Parkinson.

Esse achado sugere que esses danos estão intimamente ligados à disbiose, ou seja, um desequilíbrio na microbiota intestinal que favorece certas bactérias em detrimento de outras. A infecção por Helicobacter pylori, em especial, pode ser um fator agravante. De acordo com os pesquisadores, a disbiose contribui para a produção de substâncias que, ao circularem pelo corpo, alcançam o cérebro, onde podem iniciar o processo de neurodegeneração.

Para Zimmer, a descoberta é crucial para novos tratamentos e abordagens preventivas. “Está se tornando cada vez mais claro que as interações entre o eixo intestino-cérebro são essenciais para a saúde mental e cerebral. Se queremos uma saúde cerebral prolongada, precisamos de uma microbiota equilibrada”, afirmou o especialista.

Intervenções no estilo de vida

Estudos recentes reforçam a conexão entre o intestino e a saúde cerebral. Uma pesquisa publicada em Alzheimers and Dementia analisou o impacto de mudanças no estilo de vida em pacientes com risco de doenças neurodegenerativas. Os voluntários que passaram por um programa de 24 semanas de intervenção, tanto em casa quanto em unidades de saúde, mostraram uma redução no risco de desenvolver demências e Parkinson. Entre as mudanças observadas, destacou-se uma alteração na composição da microbiota, com o aumento de bactérias benéficas, como aquelas da família Lachnospira e do gênero Parabacteroides.

O papel dos pesticidas

No Brasil, o professor Bruno Lobato, da Universidade Federal do Pará (UFPA), alerta para o papel dos pesticidas no desenvolvimento do Parkinson. Ele observa que uma das formas pelas quais essas substâncias afetam a saúde é justamente por meio do intestino. “Ao ingerir pesticidas junto com os alimentos, há uma mudança significativa na microbiota intestinal, que pode acelerar a progressão do Parkinson”, explica.

Um estudo conduzido pela equipe de Lobato, com mais de 700 pacientes de Parkinson e 400 participantes de controle, identificou uma ligação direta entre a alta exposição a pesticidas (mais de 30 dias por ano) e o risco aumentado de desenvolver a doença. Os resultados, publicados na revista Parkinsonism and Related Disorders, reforçam a necessidade de mais atenção ao impacto dos agrotóxicos na saúde pública.

As novas descobertas apontam para a importância de se manter uma saúde intestinal equilibrada como forma de prevenir o avanço do Parkinson e de outras doenças neurodegenerativas. Embora o surgimento dessas condições seja multifatorial, os dados são um passo importante na compreensão de como fatores externos e o estilo de vida podem influenciar o curso dessas doenças.


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