28/11/2023 - Edição 525

Saúde

Novas infecções por HIV crescem 11% no Brasil e caem 27,6% no mundo

Publicado em 21/07/2014 12:00 -

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Um relatório anual divulgado no último dia 16 pela Unaids, a agência da ONU dedicada à luta contra a Aids, aponta que o Brasil enfrenta um recrudescimento da epidemia da doença. Segundo o texto, o país registrou aumento de 11% do número de infecções por HIV de 2005 a 20013, enquanto no mundo houve uma queda de 27,6% nesse mesmo período. Na América Latina, a tendência também é de diminuição, ainda que lenta –em cinco anos, o número de novos casos caiu 3% na região.

Os dados do relatório, de acordo com Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, são estimativas coerentes com os registros nacionais. Segundo ele, a epidemia no país está concentrada em populações vulneráveis, como gays, prostitutas e usuários de drogas. "Países de epidemia concentrada têm um desafio maior, porque o número [de infectados] não é grande, mas essas populações têm barreiras de acesso aos serviços de saúde", diz.

A situação brasileira, afirma ele, é semelhante à de países da Europa e dos EUA e diferente da de locais com epidemia generalizada, como em alguns países da África, onde a maior diminuição foi registrada.  Políticas de saúde, como oferta de tratamento, surtem um efeito mais rápido nesses países que têm maior disseminação do vírus, afirma.

O relatório também registrou alta de 7% no número de mortes pela Aids no Brasil.

Segundo Barbosa, uma possibilidade em análise para explicar o aumento apontado pelo relatório da Unaids é o maior número de casos de HIV entre homens jovens gays. "Como a gente sabe que na população gay [a transmissão] é maior, muito provavelmente quem sustenta esse crescimento é esse grupo", arrisca.

A Unaids também aponta para o aumento da circulação do vírus entre jovens gays e cita falhas em políticas de prevenção em grupos de maior risco no país. "Agora, é preciso que campanhas específicas se voltem principalmente para homens que fazem sexo com homens", diz Georgiana Braga-Orillard, diretora da Unaids Brasil. "O país passou por uma fadiga na prevenção."

Mais mortes

O relatório também registrou alta de 7% no número de mortes pela Aids no Brasil. Também houve aumento no México (9%) e na Guatemala (95%). Em toda a América Latina, porém, o número de mortes caiu 31%.

Hoje, 150 mil pessoas no país não sabem que têm o vírus da AIDS.

O ministério, no entanto, aponta para uma diminuição. No último boletim, com dados coletados até junho de 2013, o governo indica redução de 14% na taxa de mortalidade nos últimos dez anos.

A discrepância entre os dados se explica porque a Unaids considera números absolutos, enquanto o ministério realiza os cálculos levando em conta o tamanho e o crescimento da população.

De qualquer modo, para a Unaids e o Ministério da Saúde, a situação é preocupante. "Não estamos confortáveis de maneira nenhuma. Por isso temos nos preocupado, principalmente de 2013 para cá, em responder melhor a essa situação", diz Barbosa.

A expectativa é de que os próximos dados reflitam as novas iniciativas. Em junho, o governo passou a oferecer a dose tripla combinada, que pode aumentar a adesão ao tratamento. Os pacientes também passaram a receber o medicamento no momento da infecção por HIV, independentemente da carga viral.

Possíveis caminhos

Mudanças nesse quadro, segundo infectologistas, são possíveis com campanhas de prevenção para grupos específicos, diagnóstico e tratamento precoce. Hoje, porém, 150 mil pessoas no país não sabem que têm o vírus.

Para o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, faltam dados de como o vírus está circulando e o perfil exato dos infectados. "É preciso fazer a sorologia em uma amostra de indivíduos, registrar o número de infectados e separar por perfis", diz ele. "A Aids não está sob controle e o programa brasileiro não é essa maravilha de que se fala."

"No centro de São Paulo, o número de infectados é comparável ao da África subsaariana", diz Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "Essa população vive em guetos e não está se protegendo."


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