Saúde
Vacina contra chikungunya também apresenta resultado promissor
Publicado em 29/06/2023 9:45 - Agência Brasil, DW, Fred Schwaller (DW), Semana On – Edição Semana On
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A Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) informou que uma nova vacina contra a dengue deve chegar ao Brasil na próxima semana. Composta por quatro diferentes sorotipos do vírus causador da doença, a Qdenga, da empresa Takeda Pharma Ltda., foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março. De acordo com o órgão regulador, a dose confere ampla proteção contra a dengue.
Em nota, a ABCVAC informou que o preço da vacina, disponível inicialmente apenas em laboratórios particulares, deve variar entre R$ 350 e R$ 500 para o consumidor final, dependendo do estado. Em São Paulo, por exemplo, o Preço Máximo ao Consumidor (PMC) autorizado pela Anvisa para as clínicas é R$ 379,40. O Ministério da Saúde informou que a vacina deverá ser disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2025.
“As clínicas devem utilizar esse parâmetro na composição da sua precificação final, que também inclui o atendimento, a triagem, a análise da caderneta de vacinação, as orientações pré e pós-vacina, além de todo o suporte que os pacientes necessitam para se informar corretamente sobre a questão da vacinação”, destacou a ABCVAC.
De acordo com a Anvisa, a vacina é indicada para crianças acima de 4 anos de idade, adolescentes e adultos até 60 anos de idade. A Qdenga, portanto, é a primeira dose aprovada no Brasil para um público mais amplo, já que o imunizante aprovado anteriormente, a Dengvaxia, só pode ser utilizado por quem já teve dengue.
A nova vacina estará disponível para administração via subcutânea em esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações.
“A concessão do registro pela Anvisa permite a comercialização do produto no país, desde que mantidas as condições aprovadas. A vacina, contudo, segue sujeita ao monitoramento de eventos adversos, por meio de ações de farmacovigilância sob a responsabilidade da empresa”, informou.
A eficácia contra a dengue para todos os sorotipos combinados entre indivíduos soronegativos (sem infecção anterior pelo vírus) foi de 66,2%. Já para indivíduos soropositivos (que tiveram infecção anterior pelo vírus), o índice foi de 76,1%.
“A demonstração da eficácia da Qdenga tem suporte principalmente nos resultados de um estudo de larga escala, de fase 3, randomizado e controlado por placebo, conduzido em países endêmicos para dengue com o objetivo de avaliar a eficácia, a segurança e a imunogenicidade da vacina”, informou a Anvisa.
Diferente da vacina aprovada anteriormente, que só era recomendada para quem já teve a doença, essa pode ser aplicada também em quem nunca teve contato com o vírus da enfermidade.
Confira o que se sabe sobre a nova vacina da dengue, Qdenga, da empresa japonesa Takeda Pharma:
Como funciona a Qdenga
A vacina da Takeda Pharma é composta de versões atenuadas dos quatro diferentes sorotipos do vírus causador da dengue. Nos testes, ela apresentou uma eficácia geral de 80,2% contra a doença após 12 meses da aplicação da segunda dose. Os estudos também indicaram que a Qdenga reduziu as hospitalizações em 90%.
“A demonstração da eficácia da vacina Qdenga tem suporte principalmente nos resultados de um estudo de larga escala, estudo de fase 3, randomizado e controlado por placebo, conduzido em países endêmicos para dengue, com o objetivo de avaliar a eficácia, segurança e imunogenicidade da vacina”, destacou a Anvisa.
Após a aplicação da vacina, o sistema imunológico identifica os sorotipos atenuados como estranhos e começa a produção de anticorpos contra eles. Quando o vacinado é posteriormente exposto ao vírus, o sistema imunológico o reconhece e pode rapidamente produzir mais anticorpos, que neutralizam o agente infeccioso antes que ele possa causar a dengue.
Recomendação e aplicação
A nova vacina é indicada para a faixa etária de 4 a 60 anos, para quem nunca teve ou já teve dengue. Ela é aplicada num esquema de duas doses, com um intervalo de três meses entre as aplicações.
A vacina não é recomendada para grávidas e mulheres que estejam amamentando, e também pessoas que estejam com o sistema imunológico enfraquecido devido a doenças ou medicamentos.
Com a aprovação no Brasil, ela pode ser comercializada na rede privada e no Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde precisa ainda decidir se irá incorporá-la no sistema público.
Em 2022, a Qdenga foi aprovada pela agência sanitária europeia, EMA.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais associados à nova vacina são dor e vermelhidão no local da aplicação, dor de cabeça e muscular, além de mal-estar geral e fraqueza. Alguns vacinados também tiveram febre.
A EMA, no entanto, ressalta que os efeitos colaterais são de gravidade leve a moderada e desaparecem em poucos dias. Eles costumam ocorrer com maior frequência depois da aplicação da primeira dose.
Dengue no Brasil
Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue causou 1.016 mortes no Brasil em 2022. Mais 1,4 milhão de casos prováveis foram registrados no país no ano passado – um aumento de 162 % no número das infecções em comparação com 2021.
O vírus da dengue possui quatro sorotipos diferentes. Os principais sintomas da doença são febre alta, dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. A forma grave da doença, a dengue hemorrágica, inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos, letargia e sangramento de mucosa.
A dengue hemorrágica é mais comum durante uma segunda infecção.
O melhor método para prevenção da dengue é reduzir a infestação de mosquitos, não deixando água parada e acumulada, que costuma ser usada pelo Aedes como criadouro.
Dengue em Campo Grande
Campo Grande tem registrado redução significativa nos casos de dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a Zika e chikungunya. O resultado positivo é reflexo do trabalho que vem sendo executado nas sete regiões e distritos do município, além de ações estratégicas que envolvem a sensibilização da população, monitoramento de áreas de risco, visita domiciliares, remoção de materiais inservíveis, potenciais criadouros do mosquito e eliminação de focos.
No início do ano, a Prefeitura de Campo Grande lançou uma megaoperação, denominada “Operação Mosquito Zero”, que ao longo de quatro meses percorreu as sete regiões urbanas e distritos do município. Foram mais de 80 mil imóveis vistoriados, toneladas de materiais inservíveis recolhidos e centenas de focos do mosquito Aedes aegypti eliminados.
Paralelo à Operação Mosquito Zero, o trabalho de rotina e monitoramento é intensificado com o uso das chamadas “Ovitrampas”, além da sensibilização e engajamento comunitário, através das ações de Educação em Saúde nas escolas públicas e privadas e empresas.
O município também apostou na instituição e fortalecimento de parcerias, ampliando a adesão ao projeto “Colaborador Voluntário”, que tem o objetivo de instituir a cultura da prevenção, implementando ações compartilhadas entre o poder público e privado, propiciando às empresas envolvidas no processo condições para desenvolverem de modo eficiente o programa de prevenção evitando as doenças de caráter endêmico e epidêmico.
De acordo relatório da Sala de Situação de Arboviroses, do dia 01 de janeiro a 24 de junho foram notificados 13.153 casos de dengue no município e 4 óbitos. No mesmo período, a Capital registrou três casos de Zika e oito de chikungunya.
A partir do mês de abril houve uma leve redução no número de casos de dengue. Comparando os meses de abril e maio, a redução foi quase 40%, saindo de 3.587 para 2.430 casos. Até o momento, no mês de junho, foram notificados apenas 399 casos da doença, o que demonstra que a queda no número de casos deve se manter. Os números deste mês ainda não estão consolidados.
Em março deste ano, Campo Grande chegou a registrar 3.701 notificações por dengue, o que colocou a Capital em situação de epidemia. Passados três meses, as ações que foram executadas já demostram os resultados com a queda significativa no número de casos da doença.
Apesar dos dados positivos, é necessário que as ações continuem sendo intensificadas. Hoje, oito bairros de Campo Grande ainda apresentam alta incidência da doença, sendo classificados com risco muito alto. São eles: Caiobá, Los Angeles, Nova Campo Grande, Noroeste, Núcleo Industrial, Popular, Rita Vieira e Tijuca.
Nestas localidades, os trabalhos estão sendo intensificados com a realização de ações programadas, com o objetivo de reduzir os índices.
A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SVS-SESAU), Veruska Lahdo, reforça que 80% dos focos do mosquito são encontrados dentro dos lares, diferente do que muita gente pensa. Naquele vaso de planta que fica no fundo de quintal, na calha entupida e em materiais inservíveis jogados no quintal.
“Portanto é preciso que isso sirva de alerta para a população e que todos nós tenhamos consciência. O poder público faz a sua parte, mas é extremamente necessário o envolvimento de todos nesta batalha”, destaca.
O maior número de focos é encontrado em pequenos depósitos de água, como garrafas, vasos de plantas, embalagens plásticas, entre outros.
A superintendente enfatiza que o trabalho de combate ao Aedes aegypti é constante. “Diariamente as nossas equipes estão empenhadas nas ações de rotina e mutirões com o objetivo de reduzir os índices de proliferação e, consequentemente, de notificações das doenças transmitidas pelo mosquito, como a dengue, Zika e chikungunya”, finaliza.
Vacina contra chikungunya apresenta resultado promissor
Um novo estudo clínico de uma vacina para a febre chikungunya obteve resultados promissores na terceira fase de testes. Essa foi a primeira vez que um imunizante para a doença foi testado em humanos.
Se aprovada, a vacina teria a capacidade de proteger milhões de pessoas da doença transmitida por mosquitos, destacam os autores da pesquisa publicada no último dia 12 na revista especializada The Lancet.
O estudo inédito mostrou que, 28 dias após a aplicação de uma dose da vacina VLA 1553, foram gerados níveis de anticorpos neutralizantes do vírus com duração de até 180 dias em 98,9% dos participantes dos testes.
“A vacinação mostrou uma eficácia muito boa nos estudos até o momento. Após a vacinação, a resposta imune pode ser detectada em quase todos os indivíduos imunizados depois de quatro semanas”, destaca Torsten Feldt, especialista em doenças infecciosas e tropicais do Hospital Universitário de Düsseldorf.
A vacina contém uma versão viva e modificada do vírus chikungunya, que pode se multiplicar no corpo sem causar a doença. Esse tipo de imunizante de vírus atenuado imita com muita semelhança as infecções naturais, desencadeando uma resposta imune robusta que fornece uma proteção ampla e duradoura.
Esse é o método aplicado em vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola (a tríplice viral), varíola e febre amarela, por exemplo.
Embora haja um pequeno risco de o vírus enfraquecido se transformar numa forma mais virulenta nesses tipos de vacina, o estudo clínico mostrou que a VLA 1553 foi bem tolerada, inclusive entre os voluntários mais idosos.
“Houve apenas alguns efeitos colaterais relevantes. Embora milhares tenham sido vacinados, o monitoramento de segurança mesmo após a aprovação é importante para obter informações mais precisas sobre efeitos colaterais mais raros”, acrescenta Feldt.
As vacinas de vírus atenuado são apenas um dos vários tipos de imunizantes existentes para o combate de doenças. Outros tipos incluem vacinas com vírus inativo, método usado em imunizantes para gripe ou raiva, vacinas de RNA mensageiro, aplicadas em algumas contra covid-19, e vacinas toxoides, como as contra difteria e tétano.
O vírus chikungunya
Descoberta na Tanzânia em 1950, a febre chikungunya se espalhou por várias partes da África, Ásia, Caribe e América do Sul, inclusive no Brasil, onde o vírus é transmitido pelos mosquitos Aedes albopictus e Aedes aegypti – os mesmos transmissores da febre amarela e da dengue.
Desde o final de 2013, ela tem se espalhado rapidamente pela América Latina. No Brasil, o primeiro caso foi registrado em 2010, mas o paciente havia se infectado no exterior. Em 2014, foram registrados os primeiros casos de transmissão interna da doença no país, indicando que o vírus havia chegado ao território brasileiro.
Os sintomas da doença incluem dores nas articulações e musculares, febre alta e erupções cutâneas. Atualmente não existe um remédio específico para a enfermidade. Embora os sintomas geralmente melhorem em uma semana, a dor nas articulações pode persistir por meses. Em alguns casos, ela pode causar artrite reumatoide.
“A chikungunya é fatal em poucos casos, mas a doença em si não é agradável. Os sintomas podem permanecer por duas semanas. Em casos graves, a artrite dolorosa pode durar semanas”, afirma Peter Kremsner, especialista em doenças infecciosas e tropicais da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) listou o vírus chikungunya como um dos prioritários para o desenvolvimento de vacinas.
Predominante em países tropicais
As regiões tropicais apresentam as maiores taxas de incidência do vírus, sendo Paraguai, Bolívia, Brasil e Tailândia os países mais afetados. O número de casos no mundo é relativamente baixo, com o Paraguai registrando pouco mais de 82 mil casos e 43 óbitos pela doença entre janeiro e março deste ano. Já na Tailândia foram contabilizados 259 casos nesse mesmo período.
Há relatos de chikungunya nos países africanos, mas os dados atualizados são difíceis de verificar. Surtos ocorrem no Sudão, Congo e Quênia desde 2018, mas os casos registrados são relativamente baixos. O país mais afetado da região, o Sudão, contabilizou cerca de 14 mil casos desde 2018.
Em 2013, um surto da doença na América do Sul causou mais de 1 milhão de infecções em pouco meses. Embora a taxa de mortalidade fosse baixa, cerca de 52% dos infectados sentiram dores fortes nas articulações por meses.
Estudos sugerem que a doença teria causado a perda de 150 mil anos de vida por incapacidade somente em 2014. Esse cálculo representa a perda do equivalente a um ano de vida de saúde plena.
Mudança climática expande regiões atingidas
Apesar de ser comum em países tropicais ao sul da linha do equador, as mudanças climáticas estão possibilitando a expansão das áreas habitáveis para os mosquitos transmissores do vírus chikungunya. “O mosquito tigre-asiático está se espalhando cada vez mais. Ele já é nativo no sul da Europa e está se tornando cada vez mais comum na Alemanha”, conta Kremsner.
A malária é um excelente exemplo de como o aquecimento global está impulsionando a proliferação de doenças. Entre 1898 e 2016, a espécie de mosquito Anopheles que transmite a malária expandiu seu alcance em 4,7 quilômetros por ano ao sul do equador – o que equivale a 550 quilômetros no total durante esse período.
Modelagens de dados preveem que o aquecimento global expandirá ainda mais o habitat de espécies de mosquitos, ampliando o risco de contágio de doenças transmitidas por esses animais entre a população global.
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