Saúde
Publicado em 10/07/2020 12:00 -
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O total de mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil se aproxima dos 70 mil nesta sexta-feira (10), de acordo com levantamento divulgado pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), com dados compilados até às 18h. O total de diagnósticos é de 1.759.779.
Em números absolutos, o estado de São Paulo lidera o ranking de vítimas fatais, seguido pelo Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Pará.
Na comparação mundial, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos e é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins.
Os dois países repetem as posições também em relação aos diagnósticos. Em território americano, foram registrados 3 milhões de casos. A diferença das taxas de testagem entre os dois países – 37.188 testes por milhão de habitantes nos EUA e 8.737 por milhão de habitantes no Brasil – por sua vez, é uma evidência da subnotificação da crise sanitária no cenário brasileiro.
O novo coronavírus já causou mais de 551 mil óbitos no mundo. São cerca de 12,1 milhões de casos confirmados, de acordo com dados atualizados nesta quinta.
Na comparação com outros países, o Brasil lidera o total de óbitos novos na semana encerrada em 4 de julho, de acordo com boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta semana. Foram 7.195. Em segundo lugar, aparecem os Estados Unidos, com 4.637 mortes no período.
De acordo com o documento, a incidência da doença é de 7.940 por milhão de habitantes no Brasil e a mortalidade é de 318 por milhão. Dessa forma, o País está na 10ª e 12ª posição, respectivamente, em comparação com outras nações.
A evolução da pandemia no Brasil
Persiste a interiorização da pandemia no Brasil. Na última semana, pela primeira vez, os óbitos acumulados no interior superaram os acumulados nas regiões metropolitanas. Isso ocorreu na semana epidemiológica 27, encerrada em 4 de julho, quando 52% das mortes por covid-19 eram do primeiro grupo e 48% no segundo, de acordo com boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta.
Segundo a pasta, até 4 de julho, 5.371 (96,4%) dos municípios registraram casos do novo coronavírus e 2.840 (51%) tiveram óbitos. Em 18 de junho, eram 4.590 municípios com casos e 2.165 com mortes.
Ao analisar dados regionais, na Região Sul, o boletim mostra aumento de 36% dos casos confirmados entre a semana 26, encerrada em 27 de junho, e a semana seguinte. Já os óbitos cresceram 27% no período. No Centro-Oeste, o aumento dos caso foi de 18% de uma semana para a outra. Já as mortes subiram 22%.
Na região Norte, houve redução de 5% dos óbitos e 15% no período. No Nordeste, foi registrado aumento de 15% dos casos confirmados de uma semana para outra e estabilidade nas mortes. Já no Sudeste, ambos indicadores aumentaram 1%.
Os gráficos epidemiológicos brasileiros nas últimas semanas assumem aos poucos a forma de platô, em vez de um pico de casos e mortes. A previsão da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) é que o ápice da pandemia no Brasil será em agosto.
A diretora da Opas, Carissa Etienne, disse que o Brasil representa cerca de 25% dos novos casos nas Américas, epicentro da pandemia. “Dois meses atrás, os Estados Unidos representavam 75% dos casos em nossa região. Na semana passada, registraram menos da metade dos casos na região, enquanto a América Latina e o Caribe registraram mais de 50% dos casos, e apenas o Brasil foi responsável por cerca de um quarto deles”, afirmou.
No boletim divulgado nesta quarta, é possível observar aceleração na média diária de casos confirmados por semana. Na semana epidemiológica 27, o indicador foi de 37.620. Na semana anterior, eram 35.155.
Já a média diária de óbitos por semana permanece estável e alta desde a 22ª semana epidemiológica, encerrada em 30 de maio. Na semana 27, o indicador foi de 1.028.
Regiões Sul e Centro-Oeste preocupam
Dentro do País, o alerta de especialistas é principalmente para as regiões Sul e Centro-Oeste. A edição mais recente do relatório do InfoGripe, divulgado semanalmente pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), mostra que todos estados no Sul mantiveram o crescimento do número de pessoas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Além disso, todas as regiões do País apresentaram números de casos e de mortes muito altos de hospitalizações por SRAG. A maioria foi confirmada com covid-19.
Segundo o Ministério da Saúde, até 4 de julho, foram registradas 367.207 hospitalizações por SRAG. Desse total, 169.382 (46,1%) foram diagnosticadas como covid-19, 118.525 (32,5%) não têm causa especificada, 74.119 (20,2%) estão em investigação e o restante foi causada por outros vírus respiratórios.
Do total de internados por SRAG, 50,2% eram pessoas acima de 60 anos, 57% do sexo masculino. Quanto à raça/cor, 31,3% era parda, 28,1% branca, 4,6% preta, 0,9% amarela, 0,3% indígenas e 34,7% dos registos não tinha essa informação.
Quanto aos óbitos por SRAG, foram 94.882 em 2020, sendo 61.459 (64,8%) confirmados como covid-19, 28.590 (30,1%) não têm causa especificada, 4.146 (4,4%) estão em investigação e o restante foi causada por outros vírus respiratórios.
O perfil de vítimas fatais da pandemia é de 71,6% acima de 60 anos, 58% masculino e 60% com ao menos um fator de risco. Quanto à raça/cor, 35,5% era parda, 24,8% branca, 4,9% preta, 1% amarela, 04% indígenas e 33,4% dos registos não tinha essa informação.
Flexibilização aumenta transmissão
Estados que flexibilizaram o isolamento social em junho já enfrentam um aumento de casos ou de óbitos por covid-19. Na contramão do que dizem os pesquisadores e sanitaristas, o Ministério da Saúde evita relacionar os fatos. O secretário de Vigilância diz que não é possível afirmar categoricamente que o aumento de casos é “reflexo direto de uma decisão do gestor local [por reabertura das atividades econômicas]”.
A pasta publicou em junho uma portaria com orientações para retomada das atividades. O documento não inclui critérios como ocupação dos hospitais ou situação epidemiológica para decidir flexibilização do isolamento, nem segue orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Um estudo feito por pesquisadores da Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade identificou que houve diminuição da taxa de transmissão maior nos estados que não flexibilizaram o isolamento. De acordo com a pesquisa, os melhores resultados foram observados onde houve adoção do lockdown.
Mais gente ficou em casa nos estados cujas ações governamentais foram mais restritivas, como Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão e Mato Grosso.
Subnotificação da pandemia
Em junho, houve uma série de idas e vindas na forma de divulgação dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Após atrasar o horário de envio dos dados, a pasta deixou de informar o acumulado de mortes e diagnósticos em 5 de junho. A divulgação regular só foi retomada em 9 de junho, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
A pasta também chegou a anunciar que adotaria uma nova metodologia, com boletins diários de óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e não confirmados. Na prática, ela inviabiliza uma comparação com os dados anteriores, dificultando a compreensão da evolução da pandemia no Brasil. Ela também atrapalha a comparação dos números com outros países, por adotar critérios distintos do resto do mundo. A mudança, contudo, não foi colocada em prática até agora.
Há uma atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Por esse motivo, para fins de entender a curva epidemiológica e viabilizar comparações, os países têm disponibilizado os dados dos óbitos por data de confirmação.
Até o momento, 14 de maio foi o dia com maior mortes ocorridas, com 988 registros, segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta.
Com a mudança de critério pelo governo federal, as “novas mortes” serão menores. Na prática, a medida também evita notícias negativas sobre recordes de óbitos diários. Integrantes do governo de Jair Bolsonaro, especialmente a ala militar, têm criticado esse tipo de cobertura jornalística.
No final do mês, o Ministério da Saúde anunciou que a notificação de casos do novo coronavírus poderia ser feita pelo médico apenas por critérios clínicos, sem esperar o resultado laboratorial. Na prática, a mudança pode ser um incentivo a menos para aplicação de testes RT-PCR (moleculares), forma mais precisa de diagnóstico.
De acordo com painel do próprio ministério, até 2 de julho, foram distribuídos 3,8 milhões de testes RT-PCR. Após essa etapa, também há entraves até o resultado do exame. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. Na prática, o exame tem sido direcionado apenas aos casos graves. A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social.
Segundo balanço apresentado nesta quarta, 2.124.223 exames do tipo moleculares RT-PCR foram realizados, sendo 1.179.116 processados em laboratórios públicos e 945.107 na rede particular. Desses testes, 705.232 tiveram resultados positivos, sendo 437.918 públicos (37,1%) e 267.314 particulares (28,2%).
Foram feitos outros 2.671.618 exames sorológicos, segundo a pasta. Dessa forma, o total de testes aplicados é de 4.795.851. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento. Os sorológicos, se há anticorpos. Segundo o painel do ministério, até 15 de junho, 7,5 milhões de teses rápidos sorológicos foram distribuídos.
Que fazer, se o coronavírus contagia pelo ar?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou na quinta-feira (9) um novo informe científico em que considera o risco de transmissão do novo coronavírus pelo ar em gotículas muito pequenas, ou aerossóis. Como vimos aqui, o documento chega depois de 239 cientistas publicarem uma carta aberta elencando evidências desse tipo de transmissão e pressionando a entidade a rever suas recomendações oficiais.
O que muda? Até o dia 9, a OMS alertava para o risco de transmissão por gotículas maiores – as que saltam do nariz e da boca de contaminados principalmente durante a tosse ou espirros, e que caem no chão logo em seguida. Assim, só pessoas próximas correriam o risco de se contaminar. Mas se há transmissão por aerossol, isso significa que, além das gotículas que caem no chão, há outras que são muito mais leves e podem ficar suspensas no ar durante algum tempo. Em ambientes fechados com pouca circulação de ar, o vírus pode, então, percorrer distâncias maiores até encontrar uma pessoa e contaminá-la. A OMS até falava sobre esse risco antes, mas apenas em procedimentos médicos que provocam a saída de aerossóis, como o processo de intubação.
Agora, o novo texto cita relatórios de surtos relacionados à contaminação em espaços fechados, como restaurantes e academias. Não há evidências conclusivas quanto a isso, ao que levou a OMS a afirmar que “mais estudos são necessários com urgência”. Mesmo assim, houve mudanças nas suas recomendações oficiais para evitar a transmissão, que passam a incluir “evitar locais fechados com pouca ventilação”.
Mas nada além disso, o que desapontou alguns especialistas. Segundo a OMS, a fonte primária de transmissão continua sendo o contato direto ou as gotículas maiores de tosses e espirros, e os aerossóis produzidos rotineiramente seriam algo secundário.
O uso de máscaras segue como uma recomendação apenas quando o distanciamento social de um metro não é possível, mas, segundo os críticos, em locais fechados isso pode não ser suficiente. “A extensa pesquisa e o tremendo progresso na física e na biologia dos aerossóis desde 1940 parecem não ter tido impacto [na nova recomendação da OMS]. A afirmação de que ‘gotículas respiratórias’ na faixa de tamanho de cinco a dez micrômetros de diâmetro apenas viajam até um metro é incorreta. As publicações científicas revisadas por pares demonstram claramente que partículas de até 30 micrômetros podem se mover nas correntes de ar e viajar mais de dez metros em ambientes fechados”, escreveu Donald Milton, professor de Saúde Pública da Universidade de Maryland e um dos autores da carta aberta publicada na segunda-feira.
Em tempo: essa discussão nos faz lembrar do fato de que o governo de São Paulo proibiu bares e restaurantes de atender na calçada. O objetivo é evitar as aglomerações vistas no Rio de Janeiro após a reabertura, mas não há evidências que a sustentem. Se a ideia é mesmo permitir o funcionamento desses locais, o mais seguro seria justamente evitar o atendimento do lado de dentro, até porque não dá para usar máscara comendo e bebendo… Por isso, em cidades como Paris, Madri e Nova Iorque a retomada se deu com mesas espaçadas ocupando calçadas e ruas. Do mesmo modo, não faz sentido abrir shoppings antes de parques. Ou permitir o comércio à “meia porta” (que dificulta a circulação de ar), embora deva haver restrições à entrada dos clientes.
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